Notícias

Nível do mar está acelerando há 60 anos

Estudo revê séries de dados e mostra que elevação global do oceano ganhou impulso bem antes do que se imaginava

Observatório do Clima ·
6 de agosto de 2019 · 5 anos atrás
Surfistas aproveitam ondas raras na praia do Flamengo, dentro da Baía de Guanabara. Foto: Fernando Frazão/Ag. Brasil.

A aceleração da elevação do nível global dos oceanos começou 30 anos antes do que os cientistas imaginavam. O resultado é de um novo estudo, publicado nesta segunda-feira (5).

A equipe do pesquisador alemão Sönke Dangendorf, da Universidade de Siegen, desenvolveu uma nova metodologia para analisar as séries de dados mais antigas sobre o nível do mar e concluiu que a tendência observada hoje data dos anos 1960 – antes mesmo de a expressão “aquecimento global” ter aparecido pela primeira vez na literatura científica. O estudo foi publicado no periódico Nature Climate Change.

Ao longo do último século, os oceanos já subiram cerca de 20 cm. O fenômeno, um dos efeitos mais temidos do aquecimento global, é causado sobretudo pelo derretimento de geleiras de montanhas, dos mantos de gelo da Groenlândia e da Antártida e pela expansão térmica do mar – líquidos aquecidos aumentam de volume.

Estima-se que a elevação neste século, a depender do comportamento do gelo da Antártida, possa ultrapassar um metro. Isso teria consequências dramáticas para cidades costeiras e nações insulares, já que uma elevação dessa ordem pode se multiplicar por quatro durante ressacas ocorridas em maré alta.

O nível do mar é medido com precisão milimétrica por satélites desde 1993, quando se detectou a aceleração. Antes disso, os cientistas precisavam se fiar em registros esparsos de marégrafos espalhados pelo mundo.

Dangendorf e seus colegas combinaram duas técnicas de análise dos dados dos marégrafos: uma que permite olhar a tendência no longo prazo, mas não detecta variações que ocorrem de um ano para o outro, e uma que permite reconstruir a variação anual, mas não enxerga o longo prazo. Assim, foram capazes de reconstruir a tendência de aumento do nível do mar desde 1900.

Eles descobriram que a aceleração começou em 1960, saltando de cerca de 1 mm por ano para quase 4 mm por ano. Ela seguiu uma mudança nos ventos alísios do hemisfério Sul. O principal ponto de aumento é no Pacífico Sul, entre Austrália e Nova Zelândia. E mostra a importância da expansão térmica para essa tendência.

Aceleração do nível do mar. Imagem: The Carbon Brief.

“Os ventos se intensificaram, levando a uma maior redistribuição de massas de água quente superficial para o Pacífico”, afirmou Dangendorf ao OC. Ele afirma que isso causou um segundo efeito sobre o nível global do mar: “Se a água mais quente é empurrada para longe, a água mais fria e mais densa de profundidades intermediárias sobe à superfície. Essa água mais fria e mais densa absorve calor de forma mais eficiente, levando a uma maior expansão térmica – e, por consequência, a uma elevação mais rápida no nível do mar.”

 

 

logo Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo.

 

Leia Também 

Incêndios devastam Sibéria em nova onda de calor no hemisfério Norte

Quem tem medo do aquecimento global?

Aumento de 3 a 5°C na temperatura do Ártico já é inevitável, diz estudo

 

  • Observatório do Clima

    O Observatório do Clima é uma coalizão de organizações da sociedade civil brasileira criada para discutir mudanças climáticas

Leia também

Notícias
14 de março de 2019

Aumento de 3 a 5°C na temperatura do Ártico já é inevitável, diz estudo

Relatório divulgado pela ONU nesta quarta-feira alerta para possível elevação no nível do mar em escala global e devastação da região ártica

Análises
7 de julho de 2019

Quem tem medo do aquecimento global?

Enquanto políticos se esforçam para nos convencer do contrário, cientistas publicam dados alarmantes sobre o aquecimento global e como ele afeta os oceanos e nossa segurança alimentar

Notícias
2 de agosto de 2019

Incêndios devastam Sibéria em nova onda de calor no hemisfério Norte

Rússia declara emergência e Europa enfrenta sua segunda onda de calor em um mês, com recordes de temperatura batidos em vários países

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 1

  1. Carlos Magalhães diz:

    Parece ser a primeira matéria do ano do OC que não atribui a culpa de desastres ecológicos ao Bolsonaro e nem ao Ricardo Salles…