Notícias

Após declarações de Ricardo Salles, INPE divulga as diferenças entre os sistemas de monitoramento

Instituto conta com três sistemas de monitoramento: Prodes, Deter e TerraClass. Ministro tem falado em criar monitoramento que já existe

Daniele Bragança · Sabrina Rodrigues ·
17 de janeiro de 2019 · 5 anos atrás
O ministro Ricardo Salles voltou a criticar os dados do desmatamento, falando que eles não são precisos. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou nesta quinta-feira (17) uma nota explicando as diferenças entre os três sistemas de monitoramento desenvolvidos e operados pelo Instituto. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anda falando em entrevistas em criar um sistema de monitoramento real do desmatamento, para ser usado na fiscalização do IBAMA. Esse sistema já existe há 15 anos e é um dos responsáveis pela redução de 60% da taxa de desmatamento de 2004 para cá.

Em entrevista ao blog da jornalista Andréia Sadi, no G1, o ministro falou em criar um sistema de monitoramento em tempo real no valor de 100 milhões. O dinheiro viria do Fundo Amazônia.

Segundo o ministro, a ideia é que o fiscal do Ibama “vá para onde o sistema manda ir, não para onde quer”.

O sistema que o ministro Ricardo Salles quer criar já existe e se chama Deter, Detecção de Desmatamento em Tempo Real, que custa 3 milhões aos cofres públicos.

O Deter, criado em 2004, envia diariamente alertas de desmatamento ao Ibama, que usa esse dados para subsidiar suas ações de fiscalização. Quando o Ibama vai a campo, já sabe que algo está acontecendo lá. O sistema enxerga desmatamento de 3 hectares para cima. Até 2016, só era possível detectar a destruição de florestas a partir de 25 hectares, mas como os desmatadores entenderam que desmates grandes chamavam atenção da fiscalização, começaram a promover cortes de áreas menores que 25 hectares. O fenômeno foi chamado de desmatamento escadinha pela ex-ministra Izabella Teixeira.

Ministro volta a criticar dados do desmatamento

Em entrevista à Folha de S. Paulo, o ministro Ricardo Salles voltou a criticar os dados do desmatamento, falando que eles não são precisos. “Às vezes o Ibama não dá licença porque não quer que desmate, mas tá dentro da área que o proprietário pode desmatar. Em tese, ele está ilegal, mas não fez nada de errado. Então precisamos ter menos emoção nisso aí para lidar de maneira mais técnica. Por isso queremos essa sala de cenários no ministério. Vamos trazer os dados do Inpe, que são bons, mas não são precisos do ponto de vista desse esmiuçamento”, disse o ministro à Folha.

Na verdade o licenciamento para proprietários rurais desmatarem área de fazenda não é mais realizado pelo Ibama há anos. Licenciar posto de gasolina, obras de saneamento básico que não afetam dois estados, permissão para realizar desmatamento em propriedade rural, tudo isso é licenciado pelo órgão ambiental estadual ou municipal, nunca o Ibama.

Na mesma entrevista com a Folha, o ministro chegou a falar que o INPE apenas produz a imagem, sem esmiuçar se o desmatamento ocorreu em unidade de conservação, terra indígena ou área privada e que o governo paga o Imazon, uma ONG que monitora o desmatamento da Amazônia de forma independente, para fazer esse trabalho.

“Utilizando recurso público, esse fundo da Amazônia, ele faz esse trabalho interpretativo. Tem credibilidade? Não sei”, disse à Folha, após a repórter questionar sobre o dado errado que o ministro havia dito, sobre 60% do desmatamento ocorrido ano passado ter sido dentro de unidades de conservação e terras indígenas. O número oficial é de 15%.

O contrário do que o ministro falou, o próprio INPE esmiuça os dados, tanto que os municípios campeões de desmatamento sofrem sanções como a não liberação de crédito agrícola a produtores rurais. Essa é uma política feita pelo Ministério do Meio Ambiente, sempre usando dados do INPE para subsidiar essa medida.

O Imazon tem projeto financiado pelo Fundo Amazônia, controlado pelo BNDES, mas esse projeto não abarca o monitoramento do desmatamento na Amazônia. O programa que recebe financiamento é o projeto gestão ambiental municipal.

INPE se pronuncia

O INPE publicou uma nota para explicar como os três sistemas de monitoramento que opera – o Prodes, Deter e TerraClass –, funcionam e as diferenças entre eles.

“O INPE monitora constantemente a qualidade desses produtos e os resultados mais recentes indicam um nível de precisão superior a 95% para os dados do PRODES. Além desse controle, a política de transparência dos dados, adotada pelo INPE desde 2004, permite o acesso completo a todos os dados gerados pelos sistemas de monitoramento, possibilitando avaliações independentes pela comunidade usuária, incluindo o governo em suas várias instâncias, a academia e a sociedade como um todo”, se manifestou o instituto.

Leia a nota na íntegra

Esta nota visa esclarecer o funcionamento dos sistemas de monitoramento das alterações da cobertura vegetal desenvolvidos e operados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), complementando as informações dadas pelo ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, publicada na edição de 16/01/2019.

    O programa de monitoramento do INPE conta com três sistemas operacionais: o Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (PRODES), o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER) e o sistema de mapeamento do uso e ocupação da terra após o desmatamento, TerraClass. Os sistemas são complementares e foram concebidos para atender a diferentes objetivos.

    Para toda a extensão da Amazônia legal brasileira, o sistema PRODES realiza o inventário de perda de floresta primária através do uso de imagens de satélite de observação da Terra, desde 1988. A partir deste inventário, são calculadas as taxas anuais de desmatamento para os períodos de agosto a julho, considerando como desmatamento a supressão da floresta em áreas superiores a 6,25 hectares. Por depender das condições climáticas da estação seca para aquisição de imagens livres de nuvens, o PRODES é feito anualmente. A primeira apresentação dos resultados é realizada até dezembro de cada ano, na forma de uma estimativa da taxa de desmatamento. Para essa estimativa são processadas e analisadas todas as imagens das regiões que contiveram no mínimo 90% do desmatamento, no ano anterior. Os dados consolidados são apresentados no primeiro semestre do ano seguinte, quando é concluído o processamento das imagens necessárias para cobrir toda a Amazônia. Para as áreas onde a cobertura de nuvens não permitiu o mapeamento, é feito um cálculo que estima a área desmatada sob nuvem, usando a hipótese de que a proporção da ocorrência de desmatamento em áreas sob nuvens é igual a das áreas não cobertas por nuvens. Destaca-se que a estimativa do desmatamento sob nuvens corresponde em média a apenas 5% da taxa de desmatamento calculada pelo PRODES.

    O DETER, lançado em 2004, é um sistema de apoio à fiscalização e controle do desmatamento e degradação na Amazônia. O DETER produz diariamente alertas de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares. Os alertas indicam áreas totalmente desmatadas (corte raso) bem como áreas em processo de degradação florestal (exploração de madeira, mineração, queimadas e outras). Esses alertas são enviados automaticamente ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), sendo insumo para o planejamento das ações de fiscalização. As informações ficam ainda disponíveis na internet para as Secretarias Estaduais de Meio Ambiente, bem como para toda a sociedade.

    O TerraClass, realizado com frequência bienal, numa parceria entre o INPE e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), tem por objetivo a identificação do uso e cobertura das áreas apontadas como desmatadas pelo PRODES. Com os resultados do TerraClass é possível fazer uma avaliação da dinâmica do uso e ocupação dessas áreas, nas classes mapeadas pelo projeto (agricultura, pastagens, regeneração entre outras). São classificadas áreas superiores a 6,25 ha.

    Os sistemas de monitoramento operados pelo INPE utilizam imagens com resolução espacial entre 20 e 30 metros, pois esta classe de imagens permite uma adequada identificação das alterações da cobertura vegetal na escala da Amazônia, considerando fatores como a disponibilidade de imagens, recobrimento frequente e extensivo do território monitorado e capacidade de processamento para a produção célere de resultados. Os resultados do PRODES fornecem uma série histórica anual e ininterrupta desde 1988, permitindo análises comparativas neste período.

    O INPE monitora constantemente a qualidade desses produtos e os resultados mais recentes indicam um nível de precisão superior a 95% para os dados do PRODES. Além desse controle, a política de transparência dos dados, adotada pelo INPE desde 2004, permite o acesso completo a todos os dados gerados pelos sistemas de monitoramento, possibilitando avaliações independentes pela comunidade usuária, incluindo o governo em suas várias instâncias, a academia e a sociedade como um todo.

    Como instituição de pesquisa e inovação, o INPE acompanha as inovações científicas e tecnológicas na área de observação da terra por satélite, para a constante melhoria de seus sistemas de monitoramento da Amazônia, e, desde 1972, coordena um curso de pós-graduação em sensoriamento remoto com o mais alto conceito da CAPES.

Leia Também

  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

  • Sabrina Rodrigues

    Repórter especializada na cobertura diária de política ambiental. Escreveu para o site ((o)) eco de 2015 a 2020.

Leia também

Notícias
23 de novembro de 2018

Desmatamento aumenta 14% na Amazônia, maior taxa em 9 anos

Foram derrubadas 7.900 km² de floresta entre agosto de 2017 e julho de 2018, aumento de 13,7% em relação ao período anterior, quando foram desmatadas 6947 km²

Notícias
10 de dezembro de 2018

Futuro ministro do Meio Ambiente diz que faltam informações sobre desmatamento

“Os dados são muito genéricos, não se sabe se esse desmatamento está ocorrendo em unidade de conservação, em terra indígena”, afirmou Ricardo de Aquino Salles

Reportagens
12 de abril de 2013

Inpe e Imazon: vigilantes do desmatamento na Amazônia

De São José dos Campos (SP) e Belém do Pará (PA), os dois institutos mantêm um olhar agudo sobre o desmatamento na Amazônia. Entenda como.

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 4

  1. joseluismattospimenta diz:

    Desconhecimento técnico , conivências políticas, ideológicas , partidárias seriam os requisitos nesse governo para ocupar um cargo tao relevante como esse ? Deveriam so abrir a boca dia sim e dia nao , como sugeriu outro dia nosso capetao.


  2. Neto diz:

    Pra isso que serve o sistema. Para o órgão que fiscaliza verificar se a área é autorizada ou não né. Ou vc acha que os caras vão andar de barco por toda a Amazônia para monitorar isso. Pra isso que serve o sistema. Tudo é questão d e melhorias e não desacreditar nos órgãos que monitoram.


  3. Thais diz:

    Flavio, o sistema Deter tem sensibilidade de 3ha para cima e é atualizado diariamente. E pelo q entendi, Ibama não licencia desmatamento de propriedade rural dentro do estado do AM, portanto não cabe ao Ibama dar licença nem de onde pode desmatar. E outra coisa… Se é ilegal, o proprietário está errado, tem que esperar a licença.
    Esse ministro não tem noção e não tem um acessor muito bom… Quanta asneira ele fala…


  4. Flávio Zen diz:

    Ou seja, o ministro está falando de um sistema que possa ter sensibilidade inferior à 6,25 ha, menos interferencia de nuvens e atualização mais frequente que a anual. A questão é porque o INPE não respondeu a colocação do ministro:
    “Às vezes o Ibama não dá licença porque não quer que desmate, mas tá dentro da área que o proprietário pode desmatar. Em tese, ele está ilegal, mas não fez nada de errado.
    Então precisamos ter menos emoção nisso aí para lidar de maneira mais técnica. Por isso queremos essa sala de cenários no ministério. Vamos trazer os dados do Inpe, que são bons, mas não são precisos do ponto de vista desse esmiuçamento”