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Apenas 100 municípios concentraram 71% do desmatamento na Mata Atlântica

Município do Piauí, Manoel Emídio liderou o desmatamento entre 2018 e 2019, com 879 hectares de floresta perdidos. Porto Seguro, na Bahia, também apareceu no ranking em 6º

Duda Menegassi ·
20 de agosto de 2020 · 4 anos atrás
Porto Seguro apareceu na lista entre os 10 municípios que mais desmataram em 2018-2019. Foto: Duda Menegassi

Mais de dois terços (71%) do desmatamento na Mata Atlântica entre 2018 e 2019 ocorreu em 100 municípios, o que equivale a apenas 3% das cidades na qual está distribuído o bioma. Dos 100 municípios que mais desmataram, 40 estão em Minas Gerais, 23 na Bahia, 22 no Paraná e 15 em outros estados. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (19), no Atlas dos Municípios da Mata Atlântica. O período totalizou 14.502 hectares de vegetação nativa desmatada, concentrada em cerca de 400 cidades. Historicamente, esse é um número que varia entre 200 e 550 municípios, de acordo com os dados do levantamento, que é feito desde 2000 nem uma parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica e o INPE.

Um dado que surpreendeu e preocupou especialistas foi a presença de Porto Seguro em 6ª lugar na lista entre os 10 que mais desmataram entre 2018 e 2019, com 240 hectares de Mata Atlântica suprimidos. O território do município abriga áreas protegidas como o Parque Nacional do Pau Brasil e a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estação Veracel, e possui mais de 100 mil hectares de área remanescente do bioma.

Na triste liderança do desmatamento no período está o município Manoel Emídio, no Piauí, onde 879 hectares de vegetação do bioma foram perdidos. Na sequência do ranking, está Gameleiras, em Minas Gerais, com 434 hectares; e Canto do Buriti, também no Piauí, com 404.

Não é a primeira vez que Manoel Emídio aparece entre as cidades que mais suprimiram cobertura florestal. No somatório dos 10 últimos anos, o município aparece em 2º lugar, com 6.693 hectares desmatados, atrás apenas de um vizinho piauiense, Alvorada do Gurguéia, que acumulou 6.869 hectares suprimidos na última década. Entre 2018 e 2019, entretanto, Alvorada teve apenas 22 hectares desmatados.

As cidades de Minas Gerais também são infelizes protagonistas no ranking da década do desmatamento na Mata Atlântica. Jequitinhonha (com 6.174 hectares desmatados), Ponto dos Volantes (com 5.606), Águas Vermelhas (com 5.423), ocupam o 3º, 4º e 5º lugar, respectivamente. Apesar de não aparecerem no ranking de 2018-2019, estes municípios fazem parte, desde 2012, do chamado Triângulo do Desmatamento da Mata Atlântica, que é considerada a região mais crítica das matas secas, no noroeste mineiro. Na região, as florestas nativas foram transformadas em carvão e depois substituídas por eucalipto.

Fonte: Atlas Mata Atlântica

Na Bahia, os municípios que mais perderam áreas de Mata Atlântica nos últimos dez anos são Santa Cruz Cabrália, com 3.559 hectares suprimidos; Belmonte, com 3.303; Baianópolis, com 2.841; e Wanderley, com 2.731, e que fecha o ranking, em 10º lugar.

“A situação nos municípios comprova o que temos alertado há anos, mas infelizmente o cenário não muda. É de conhecimento das autoridades onde ocorre o desmatamento da Mata Atlântica ano a ano. São poucas regiões, porém com altas taxas de desmatamento e impacto ao meio ambiente. Zerar o desmatamento no bioma passa por priorização do poder público e atuações estratégicas nestes locais”, afirma a diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica, Marcia Hirota, coordenadora do estudo.

“Vale destacar que o histórico do ranking estadual também se repete. Estados como Bahia, Minas Gerais, Paraná e também o Piauí estão no topo da lista dos maiores desmatadores há algumas edições do Atlas com variação de colocação entre eles”, afirma o coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e demais Biomas do INPE, Cláudio Almeida.

O Atlas dos municípios traz informações de todos os remanescentes de vegetação nativa do bioma acima de três hectares. Para as cidades do Paraná, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo é possível obter dados acima de um hectare. Para ler a publicação na íntegra, acesse aqui. Para quem quiser ver a situação do bioma em outros municípios, é possível consultar a base de dados da iniciativa “Aqui Tem Mata

Desmatamento da Mata Atlântica

Entre 2018 e 2019, conforme divulgado em maio aqui em ((o))eco, os dados do Atlas da Mata Atlântica apontaram um aumento de 27,2% do desmatamento no bioma, que perdeu 14.502 hectares de vegetação nativa, contra 11.399 hectares entre 2017 e 2018. Foi a primeira alta depois de dois períodos consecutivos de queda.

O estado que liderou o ranking do desmatamento na Mata Atlântica foi Minas Gerais, com 4.972 hectares desmatados no período; seguido pela Bahia, com 3.532 hectares; o Paraná, com 2.767; e o Piauí, com 1.558 hectares desmatados.

 

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  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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Comentários 1

  1. Paulo diz:

    Sugestão.
    O site o eco, entrevistar os governadores dos estados que mais desmataram.