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A natureza também dá samba

Uma coletânea dos sambas-enredos que fizeram a cabeça do povo com lindas letras sobre a natureza, o meio ambiente e que marcaram a história do carnaval brasileiro

Rafael Ferreira ·
25 de fevereiro de 2017 · 7 anos atrás

As escolas de samba levam para a avenida os mais variados temas que vão desde homenagens a artistas, escritores, ambientalistas a temas gerais envolvendo a humanidade. A natureza, o meio ambiente não poderiam ficar de fora e desde muito cedo, são abordados pelas escolas. Para não sairmos do tema ambiental neste carnaval, seguem abaixo 11 enredos apresentados ao longo dos anos pelas escolas de samba. Lembra de mais? Então, comente!

Mangueira (1970) – “Um Cântico à Natureza”

Com o samba-enredo composto por Aílton, Dilmo e Nei, a Estação Primeira de Mangueira ocupou o 3º lugar homenageando a natureza.

Brilhou no céu o sol oh! que beleza
Vem contemplar a natureza
Vem abrasar a imensidão, imensidão…
Onde na pesca ou na plantação
Pedras preciosas ou mineração
Rios cachoeiras e cascatas
Frutos pássaros e matas
Enobrecem a nação

Oh! lugar… oh! lugar…
Tudo que se planta dá
Terra igual a esta não há

Imenso torrão de natureza incomum
Onde envaidece qualquer um
Praia e flores
Inspiram amores
E o petróleo te deu mais vida
Solo de vultos imortais
Direi teu e não esquecerão jamais

Oh! pátria querida
De natureza tão sutil
Tens belezas mil |
Isto é Brasil… isto é Brasil… isto é Brasil…

 

Salgueiro (1979) – “ O Reino encantado da mãe natureza contra o reino do mal”

Nesse ano, o Salgueiro apostou as suas fichas na defesa ecológica, em que o reino do mal seria a poluição. O enredo foi dividido em quatro partes: A Mãe Natureza, o Mal, A Guerra, O Ressurgimento da Natureza Violentada pelo Mal.

Oh! Doce Mãe Natureza
Seus lindos campos
Verdes matas e seu imenso mar
Oh! que beleza… no infinito
O Sol ardente sempre a brilhar
E o revoar da passarada
Bailando neste céu sem fim
Na primavera…
As lindas flores (bis)
Desabrocham no jardim

Mas surgiu o rei do mal
Com a chegada do progresso
Abalando a estrutura mundial
Poluindo nossa terra
Aniquilando o que Deus abençoou
E quem sofre é a Nação
Nesta batalha
Onde não há vencedor

E a Natureza
Com seu cenário multicor (bis)
Refloresce novamente
Com todo seu esplendor

 

Portela (1981) – “Das maravilhas do mar fez-se o esplendor de uma noite”

De autoria de David Corrêa e Jorge Macedo, as maravilhas do mar levaram a Portela ao terceiro lugar do carnaval de 1981 com o famoso refrão “E lá vou eu, pela imensidão do mar”.

Deixa me encantar, com tudo teu, e revelar, lalaiá lá
O que vai acontecer nesta noite de esplendor
O mar subiu na linha do horizonte, desaguando como fonte
Ao vento a ilusão desce
O mar, ô o mar, por onde andei mareou, mareou
Rolou na dança das ondas, no verso do cantador
Dança que tá na roda, roda de brincar
Prosa na boca do tempo e vem marear (Eis o cortejo…)
Eis o cortejo irreal, com as maravilhas do mar
Fazendo o meu carnaval, é a vida a brincar
A luz raiou pra clarear a poesia
Num sentimento que desperta na folia ( Amor, amor … )
Amor, sorria, ô ô ô, um novo dia despertou
E lá vou eu, pela imensidão do mar
Nessa onda que corta a avenida de espuma, me arrasta a sambar (E lá vou eu… )
E lá vou eu, pela imensidão do mar
Nessa onda que corta a avenida de espuma, me arrasta a sambar

 

Mocidade Independente de Padre Miguel (1991) – “Chuê, Chuá, as águas vão rolar”

A água está presente no nosso organismo, água é fonte da vida. As águas rolaram em 1991 para a Mocidade Independente de Padre Miguel, tanto que deram a ela o campeonato de 1991.

Naveguei, naveguei, no afã de encontrar
Um jeito novo de fazer meu povo delirar
Uma overdose de alegria
Num dilúvio de felicidade (iluminado)
Iluminado encontrei
O verde e branco mar da Mocidade

Aieieu mamãe oxum
Iemanjá mamãe sereia
Salve as águas de oxalá
Uma estrela me clareia

É no chuê chuê
É no chuê chuá
Não quero nem saber
As águas vão rolar
É no chuê chuê
É no chuê chuá
Pois a tristeza já deixei pra lá

Na vida sou a fonte de energia
Sou chuva, cachoeira, rio e mar
Sou gota de orvalho, sou encanto
E qualquer sede eu posso saciar
Quem dera, um mar de rosas nesta vida
Lavando as mentes poluídas
Taí o nosso carnaval

Eu tô em todas, eu tô no ar, eu tô aí
Eu tô até na liquidez do abacaxi
(naveguei)

 

Lins Imperial (1991) – “Chico Mendes, o arauto da natureza”

No domingo do dia 10 de fevereiro de 1991, a Lins Imperial  desfilou no grupo especial homenageando o seringueiro e ambientalista Chico Mendes.

Quanta maldade é ver
O homem destruir
O que hoje encanta
A Sapucaí

Amazônia
Que verde encantador
Fauna tão linda
Um verdadeiro festival de cor

Terra rica em frutos e pesca
Chico foi o mensageiro
Em defesa da floresta

Os invasores, por ambição
Mataram Chico
Dando seqüência à destruição

Kararaô
O grito forte do índio ecoou
Kararaô
A natureza inteira despertou

Voa pássaro da paz
Voa livre e vai mostrar (mostrar, mostrar)
Que essa área verde existe
Para o mundo respirar, lá, lá, laiá
Para o mundo respirar

 

Beija-Flor (2004) – “Manôa, Manaus, Amazônia, Terra Santa: Alimenta o corpo, equilibra a alma e transmite a paz”

Com enredo sobre a Amazônia, a Beija-Flor se consagrou bicampeã do Carnaval 2004 no Rio de Janeiro, a escola apresentou a água dos rios da região como o verdadeiro tesouro da Amazônia e alertou para a destruição da floresta.

A ambição cruzou o mar
Trazida pelo invasor
A Espanha veio explorar
Pilhar e semear a dor
Amazônia Terra Santa
Dos igarapés, mananciais
Alimenta o corpo, equilibra a alma
Transmite a paz
Brilhou o Eldorado no coração da mata as guerreiras
Belezas naturais, riquezas minerais
O reino de Tupã ergue a bandeira

Êh! Manôa
Minha canoa vai cruzar o Rio Mar
Verde paraíso é onde
Iara me seduz com seu cantar

Força, mistério e magia
Fruto da energia o meu guaraná
A lágrima que o trovão derramou
A terra guardou semente no olhar
Maués, Anauê, cultura milenar
Anauê, Manaus, Mamirauá
Viva a Paris Tropical
Água que lava minh´alma
Ao matar a sede da população
Caboclo ê a homenagem hoje é
A todo povo da floresta um canto de fé

Se Deus me deu vou preservar
Meus filhos vão se orgulhar
A Amazônia é Brasil, é luz do criador
Avante com a tribo Beija-Flor

 

Império Serrano (2005) – “Um grito que ecoa no ar. Homem/Natureza – o perfeito equilíbrio”

Com o enredo que homenageou a natureza, o Império Serrano garantiu a permanência no grupo especial para o ano seguinte. O enredo é sobre o homem e a preservação do seu habitat e um grito de alerta pela preservação do mundo que sofre com a ganância.

Meu grito ecoa pelo ar
Faço um alerta ao mundo
O homem com a sua ambição
Trouxe a tecnologia
Fez mal uso da razão
De mãos dadas com a ganância
Tem tudo que lhe deu o criador ôô
De graça com amor
No seu futuro pode semear a dor
No meu verde das matas tem magia
Equilíbrio perfeito que irradia oi (bis)
As minhas águas cristalinas
São poluídas no seu dia a dia

Choro, com esta tal evolução
Ressentida estou ao ver minha devastação
O homem com sua sapiência
Transformou tudo em ciência
Reciclando a minha natureza
Mexeu com lixo,
Domou os ventos,
Usou o átomo sem consciência
Causou tristeza, degradação
Coloca em risco toda a civilização
E assim num grande gesto de amor
Já tem gente a refletir
E por mim vive a lutar
Um fio de esperança a reluzir
Basta reciclar os seus conceitos
Na reforma ser perfeito
Produzir sem maltratar
Sou a mãe Terra
Só o seu amor vai me salvar

Clamando numa só voz, vem meu Império
A gente tem que pensar, é caso sério (bis)
Pra natureza sorrir, o homem tem que mudar
E aprender a preservar

 

Mangueira (2006) – “Das águas do São Francisco, nasce um rio de esperança”

A Estação Primeira alcançou o 4º lugar homenageando na avenida o rio São Francisco. Uma carranca na comissão de frente com malabaristas que transformavam a tradicional imagem nordestina num barco para “navegar” o Velho Chico, numa coreografia assinada por Carlinhos de Jesus. Os moradores que habitam à beira do rio também foram lembrados pela escola de samba, com adereços como vasos, peixes e frutas, que são fonte econômica das populações ribeirinhas.

O sertanejo sonhou
Banhou de fé o coração
E transbordou em verde-e-rosa
A esperança do sertão

Vou navegar
Com a minha Estação Primeira
Nas águas da “integração”, chegou Mangueira
Opará rio-mar, o nativo batizou
Quem chamou de São Francisco foi navegador
Na serra, ele nasce pequenino
Ilumina o destino, vai cumprir sua missão
Se expande pra mostrar sua grandeza
Gigante pela própria natureza

A carranca na mangueira vai passar
Minha bandeira tem que respeitar
Ninguém desbanca minha embarcação
Porque o samba é minha oração

Beleza o bailar da piracema
Cachoeiras, um poema à preservação
Lendas ilustrando a história
Memórias do valente Lampião
Mercado flutuante, um constante vai-e-vem
Violeiro, sanfoneiro, que saudade do meu bem
O sabor desse tempero, eu quero provar
Graças à irrigação, o chão virou pomar
E tem frutas de primeira pra saborear
Um brinde à exportação, um vinho pra comemorar
O velho Chico! É pra se orgulhar

 

Portela (2008) – “Reconstruindo a Natureza, Recriando a Vida: o Sonho Vira Realidade”

Com enredo homenageando a natureza, sua riqueza incitando o homem a viver em harmonia e em comunhão com ela, a Portela ficou em quarto lugar no carnaval de 2008 com samba-enredo composto por Diogo Nogueira, Ary do Cavaco, Celsinho de Andrade, Ciraninho e Júnior Scafura.

Eu sou a água, sou a terra, sou o ar
Sou Portela
Um sonho real, um grito de alerta
A natureza que encanta a passarela

Segue os passos do criador
Vai minha Águia Gerreira
Leva essa mensagem de amor
De Oswaldo Cruz e Madureira
Água, fonte eterna da vida
Terra, templo da evolução
O homem surgiu, brincou de criar
Descobriu tanta riqueza
É preciso progredir sem destruir
Viver em comunhão com a natureza

É o rio que corre a caminho do mar
A flor que se abre na primavera
Do ventre a esperança que vem renovar
O sonho de uma nova era

É hora de darmos aos mãos
Lutarmos pro mundo mudar
O líder de cada nação
Precisa parar pra pensar
A palavra é união
Pra reconstruir o nosso lar
Brasil, teu verde é o símbolo da vida
Renova a tua energia
Meu coração é o meu país
O sol vai brilhar e anunciar
Um futuro mais feliz

 

Portela  (2017) – “Quem Nunca Sentiu o Corpo Arrepiar ao Ver Esse Rio Passar…”

O carnavalesco Paulo Barros promete levar novidades para a avenida “Será um mergulho poético nas águas doces do nosso planeta. Vamos falar dos aspectos culturais, religiosos e dos costumes de alguns rios, como o São Francisco” , afirmou o carnavalesco.

O perfume da flor é seu
Um olhar marejou sou eu
Quem nunca sentiu o corpo arrepiar
Ao ver esse rio passar

Vem conhecer esse amor
A levar corações através dos carnavais
Vem beber dessa fonte
Onde nascem poemas em mananciais
Reluz o seu manto azul e branco
Mais lindo que o céu e o mar
Semente de Paulo, Caetano e Rufino
Segue seu destino e vai desaguar

A jangada vai chegar na aldeia
Alumia meu caminho, candeia
Onde mora o mistério, tem sedução
Mitos e lendas do ribeirão

Cantam pastoras e lavadeiras pra esquecer a dor
Tristeza foi embora, a correnteza levou
Já não dá mais pra voltar (ô aiá)
Deixa o pranto curar (ôaiá)
Vai inspiração, voa em liberdade
Pelas curvas da saudade
Oh mãmãe orayeyeo
Vem me banhar de axé orayeyeo

É água de benzer
Água pra clarear
Onde canta um sabiá

Salve a velha guarda
Os frutos da jaqueira
Oswaldo cruz e madureira
Navega a barqueada aos pés da santa em louvação
Para mostrar que na portela
O samba é religião

 

Imperatriz Leopoldinense (2017) – “Xingu, o clamor que vem da Floresta”

A escola de Ramos além de exaltar o povo indígena também colocará na avenida grandes dilemas enfrentados por todos como a construção da hidrelétrica de Belo Monte, o desmatamento e o uso de agrotóxicos.

 

Salve o verde do Xingu… a esperança
a semente do amanhã… herança
o clamor da natureza
a nossa voz vai ecoar… preservar!

Brilhou… a coroa na luz do luar!
nos troncos a eternidade… a reza e a magia do pajé!
na aldeia com flautas e maracás
Kuarup é festa, louvor em rituais
na floresta… harmonia, a vida a brotar
sinfonia de cores e cantos no ar
o paraíso fez aqui o seu lugar
jardim sagrado o caraíba descobriu
sangra o coração do meu Brasil
o belo monstro rouba as terras dos seus filhos
devora as matas e seca os rios
tanta riqueza que a cobiça destruiu

Sou o filho esquecido do mundo
minha cor é vermelha de dor
o meu canto é bravo e forte
mas é hino de paz e amor

Sou guerreiro imortal derradeiro
deste chão o senhor verdadeiro
semente eu sou a primeira
da pura alma brasileira

Jamais se curvar, lutar e aprender
escuta menino, Raoni ensinou
liberdade é o nosso destino
memória sagrada, razão de viver
“andar aonde ninguém andou”
“chegar aonde ninguém chegou”
lembrar a coragem e o amor dos irmãos
e outros heróis guardiões
aventuras de fé e paixão
o sonho de integrar uma nação
kararaô… kararaô… o índio luta pela sua terra
da Imperatriz vem o seu grito de guerra!

 

 

 

 

 

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Comentários 1

  1. Beto Mesquita diz:

    Faltou o enredo da Unidos de Vila Isabel de 2015, "Retratos de um Brasil plural", inspirado no livro "Biomas Brasileiros: Retratos de um país plural", da Conservação Internacional.