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Fotografia de natureza pode ser uma arma contra crimes ambientais

As lentes dos fotógrafos da natureza captam as belezas, alertam para a preservação de áreas naturais e servem para fazer denúncias

Fabíola Ortiz ·
3 de setembro de 2013 · 11 anos atrás
Frangos d’água. Foto: Gustavo Pedro de Paula.

Rio de Janeiro — Quando o casal de ambientalistas Miriam Prochnow e Wigold Schaffer, da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), em Santa Catarina, foi atacado a tiros por um caçador em sua propriedade em Atalanta, a fotografia foi a principal arma que Miriam utilizou contra o criminoso. Ela registrou os momentos de terror que o casal e a filha viveram sob a mira de uma arma de fogo.

“Fotografar a natureza pode servir como uma ferramenta essencial para a educação ambiental, mas também uma arma para denúncias e trazer à luz a necessidade de preservação de áreas em risco de degradação”, disse a ((o))eco Gustavo Pedro de Paula, presidente da AFNATURA, associação de fotógrafos da natureza.

Miriam e Wigold são membros da AFNATURA e são exemplo da função socioambiental que suas lentes desempenham no combate ao crime ambiental e no alerta para a preservação de áreas naturais.

Sempre foram muitas as dificuldades de fotógrafos amantes da natureza conseguirem autorização para realizarem suas expedições em Unidades de Conservação pelo Brasil e, muitas vezes, ainda sob risco de ataques como este do casal ambientalista no Sul. Face a esta realidade de adentrar em áreas de preservação em busca dos melhores clicks e composições naturais, há cinco anos um grupo de fotógrafos brasileiros se mobilizou em uma causa coletiva e criaram a AFNATURA.

“Já existia um movimento de fotógrafos renomados que estavam fotografando há muitos anos com dificuldades por conta da burocracia de áreas preservadas. A gente tinha que se organizar”, disse Gustavo Pedro.

Registrando a natureza

Ao completar 5 anos de criação, a associação — que tem sede no Rio de Janeiro — reúne 250 fotógrafos espalhados pelo Brasil e se lança ao desafio de divulgar ao público a fotografia de natureza e despertar o interesse pelo registro fotográfico.

Neste último fim de semana, em 31 de agosto e 1° de setembro, a AFNATURA e a Avistar Brasil promoveram um evento comum no Jardim Botânico, o AvistarRio. A ocasião reuniu fotógrafos como Haroldo Palo Jr., da National Geographic que tem trabalhos utilizados por diversas instituições mundiais de preservação ambiental, além de workshops de fotografias para o público interessado e atividades de observação de aves. Muitos fotógrafos de natureza são especializados em aves.

A fotografia de natureza, explica Gustavo Pedro, tem a especificidade de trabalhar dentro da temática da conservação dos habitats naturais e desempenha a função de manter o uso público, direto, sustentável e de fiscalização. “A fotografia de natureza cria um elo de identidade perdido. Às vezes o público acha que a natureza está distante, a gente persegue uma foto com o ideal de preservar uma espécie”, disse.

Em busca da foto perfeita

Aos 38 anos e com formação em Direito, Gustavo Pedro atua há 16 anos como fotógrafo e já viajou por todos os biomas do Brasil em busca da foto perfeita, da melhor composição e da melhor luz. Mas também esteve atento para a fotografia como instrumento de transformação e denúncia.

“Entrei para o movimento ambiental pela fotografia quando fiz uma denúncia para a Feema de avanço de uma estrada acima da cota 100. Eu estava fazendo uma travessia de bicicleta em Salinas.  Passei a atuar como defensor ambiental contra a expansão  imobiliária em áreas irregulares”, relatou. Após a denúncia, o fato sensibilizou as autoridades para a criação do Parque Estadual dos Três Picos. Gustavo Pedro conta que descobriu na Mata Atlântica o seu bioma. “Ver um pássaro hiper colorido, como o Saíra-Sete-Cores é fantástico. Me apaixonei”.

Ao longo de suas expedições, o fotógrafo decidiu criar metas: “só poderia morrer se fotografasse uma onça pintada na natureza. Consegui. Agora criei outra, a minha próxima meta é fotografar uma onça preta atravessando um rio com uma lontra na boca na Mata Atlântica. Gostaria de encontrar na região da ilha do Cardoso, em Cananéia, no estado de São Paulo”.

Para se encantar com a Mata Atlântica, Gustavo Pedro teve que ir a biomas distantes como cerrado e pantanal para ver que bem perto estava o seu objeto de trabalho. Realizou várias excursões pela Amazônia, como ilha de Marajó, Parque Nacional do Jaú no rio Negro e para a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. “Mas reconheci na Mata Atlântica o meu grande bioma”, disse.

Seus projetos futuros são o de montar o livro “Brasil Mitos e Lendas”, que percorre o imaginário popular e resgata mitos e histórias orais através das imagens em ambientes naturais. A exposição  com as  primeiras imagens do livro estreia este setembro no Jardim Botânico, no Rio.

A paisagem natural

Dentro do universo da fotografia de natureza, a paisagem virou o grande mote para fotógrafos que se desafiam a registrar momentos deslumbrantes da natureza. É o caso do engenheiro químico Príamo Melo, de 40 anos, que em uma viagem de estudos na Europa, se deparou com esta modalidade de fotografia.

Seu plano é de viajar pelos Parques Nacionais e registrar as belas paisagens. O desafio ainda é conciliar o hobby com sua vida profissional de professor na COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Esta é uma realidade comum aos fotógrafos de natureza, muitos têm a fotografia como segunda opção e mantêm suas carreiras profissionais para garantir seus sustento. Ainda são poucos os que conseguem fazer da fotografia de paisagem sua principal atividade. Suas expedições ainda são autofinanciadas e realizadas no período que não tem atividades acadêmicas.

“Ficava encantado ao ver montanhas, rios, árvores, lagos fotografados com a luz bonita. Aquilo fazia meu coração palpitar. Sempre gostei de natureza. Autoditada, comprava revistas de fotografia. Fui muito influenciado pelos fotógrafos britânicos”, contou Príamo.

Na Europa, seu primeiro workshop de fotografia de paisagem foi na Inglaterra, em 2008, no Parque Nacional de Yorkshire Dales.

Assim que retornou ao Brasil, no ano seguinte estava ávido mas não havia curso no Rio de Janeiro sobre a temática. Assim, decidiu ele mesmo criar seu próprio curso. Desde 2010, Príamo já formou 10 turmas, mais de 150 alunos, no Ateliê da Imagem.

Para além dos Parques Nacionais, sua preferência é registrar os ambientes costeiros do Nordeste. Uma de suas viagens inesquecíveis foi para Jericoacoara. “Tem bioma costeiro e cerrado com mangues. Me apaixonei por aquela região”, disse.

Príamo dá dicas para novos fotógrafos de natureza e de meio ambiente. Segundo ele, é preciso ter uma ideia clara do que se quer fotografar; dominar a técnica e escolher a luz adequada. “A fotografia de paisagem é extremamente técnica. A luz é a protagonista da fotografia e a composição da imagem. Mas precisa de um feeling, da emoção. Esta é a chance de uma fotografia maravilhosa”.

 

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  • Fabíola Ortiz

    Jornalista e historiadora. Nascida no Rio, cobre temas de desenvolvimento sustentável. Radicada na Alemanha.

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