Análises

Crescimento populacional, um desafio que persiste no Brasil

O crescimento da população brasileira surpreendeu as últimas projeções do IBGE. Resta saber como o país irá abrigar seus cidadãos e preservar recursos naturais ao mesmo tempo.

Carlos Gabaglia Penna ·
10 de janeiro de 2007 · 17 anos atrás

Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam um quadro preocupante da população brasileira. Na publicação Brasil em números de 2001, o IBGE fazia projeções sobre o crescimento da população até 2020. Se considerarmos, por exemplo, o ano de 2003, a taxa de aumento demográfico projetada, em relação a 2002, era de 1,28%. Na edição de 2003 da mesma publicação, a taxa considerada e o montante populacional eram os mesmos. No entanto, no Brasil em números de 2006, a taxa apresentada pelo IBGE – que revela o crescimento real e não mais o projetado – é de 1,47% entre os anos citados. Isso representou 2,11 milhões de pessoas a mais do que o previsto nas edições anteriores.

De acordo com as projeções da revisão do IBGE, somente de 2009 para 2010 é que a taxa de incremento demográfico (1,27%) será inferior a que foi inicialmente prevista para 2003 (1,28%).

O índice de expansão demográfica entre 2004 e 2005, com base na publicação de 2006 do IBGE, foi de 1,43%, cerca de 15% maior do que o previsto pela edição de 2001 (1,24%). O total de brasileiros existentes em meados de 2005, segundo a mesma edição, era de 184,18 milhões. Pelo final de 2007, somaremos mais de 190 milhões de habitantes, um aumento de quase 66 milhões em apenas 25 anos (um acréscimo 66% superior à população total argentina de 2006 e cerca de 10% mais que a francesa ou a do Reino Unido). A população do país será de 250 milhões de pessoas em 2050, representando – em um século – um crescimento de 4,7 vezes ou quase 200 milhões de indivíduos a mais desde 1950!

A população do Brasil aumenta em mais de 6.410 pessoas por dia, ou 2.340.000 por ano!! Em 4/1/07, já ultrapassávamos 187.900.000 almas. É inacreditável, mas essa realidade não parece preocupar os líderes políticos e nem mesmo a sociedade brasileira. Apenas uma pequena e pertinaz parcela trabalha para que esses índices não sejam ainda mais assustadores.

Em valores absolutos, o aumento da população brasileira só é superado por seis países do mundo, sendo apenas um do hemisfério ocidental, os EUA, cujo crescimento é ligeiramente superior ao nosso. Este fato explica-se pela grande imigração ilegal que o país sofre. Sequer é válido o argumento do tamanho do Brasil (quinto tanto em superfície como no quantum populacional), pois a densidade demográfica nacional (número de habitantes por unidade de área) é igual à do Chile e à do Peru e superior às da Bolívia, Argentina, Uruguai e Paraguai, para ficarmos apenas na América do Sul.

Para absorver um aumento desse porte, são necessários investimentos maciços em infra-estrutura (que praticamente não existem no Brasil), ou seja, em saneamento básico, manejo de resíduos sólidos urbanos (lixo), energia, habitação, transporte, hospitais, escolas, segurança etc. Tudo isso enquanto essas crianças e jovens apenas consomem, pois estão crescendo e estudando, na preparação para o mercado de trabalho. Bem, quando estão prontos (ou nem tanto…), surge o novo desafio: encontrar emprego ou qualquer atividade legal que lhes dê sustento. Em novembro passado, a taxa de desocupação (eufemismo para a falta de empregos) estava em 9,6% da força de trabalho nacional.

Os “natalistas” afirmam que seres humanos só causam impactos expressivos no ambiente natural quando possuem um padrão de vida elevado, como o dos norte-americanos. Balela! Mesmo as pessoas extremamente pobres utilizam mais recursos do planeta do que qualquer outra espécie animal. Se não for um sem-teto, terá um barraco de madeira, com telhado de zinco ou de telhas plásticas e móveis toscos. Muitos terão luz elétrica, ainda que “informalmente”, e aparelhos eletrônicos. Essas pessoas – inclusive os sem-teto – obterão água do sistema público de abastecimento, ou em algum córrego ou nascente, vestirão roupas, possuirão uma infinidade de objetos pessoais e, obviamente, alimentar-se-ão, como qualquer ser vivo.

Correspondentemente, grandes animais, como baleias ou elefantes, nutrem-se de uma massa de alimentos muitíssimas vezes maior que a dos humanos, mas – até provem contrário – não se utilizam de outros materiais para o seu bem-estar…

A questão maior é que, independente do status econômico ou de valores culturais tradicionais, todos querem consumir cada vez mais, do povo Inuit do Ártico aos bushmen do deserto africano do Kalahari, dos nativos andinos bolivianos e peruanos aos quilombolas e índios de todas as regiões do território brasileiro. Dos milionários brasileiros aos japoneses e americanos, todos querem ser ainda mais ricos. Talvez existam exceções, mas a regra é inquestionável. Essa é a realidade do incomparável impacto humano sobre o planeta. E é insustentável.

Se compararmos a lista dos 10 países mais populosos com a dos 10 mais ricos (em renda per capita), encontraremos apenas um país comum às duas: os Estados Unidos. Oito dos dez mais populosos têm renda abaixo de US$ 8.000 (cinco abaixo de US$ 3.000) e sete das dez nações mais ricas tem populações inferiores a 9 milhões de habitantes, sendo duas delas inferiores a 500 mil. Todos os 10 países mais ricos apresentam índices reduzidos de crescimento demográfico (Jared Diamond, 2005).

Sir Julian Huxley, um famoso cientista, pensador e escritor inglês, questionava, em 1950, “por que, em nome dos céus, deveria alguém supor que uma mera quantidade de organismos humanos seja uma boa coisa, independente de suas qualidades inerentes ou da qualidade de suas vidas e experiências?”. No Brasil, a quantidade de pessoas parece crescer na ordem inversa da qualidade…

  • Carlos Gabaglia Penna

    Professor de Engenharia Ambiental da PUC-Rio, pós-graduado em Gerenciamento Ambiental pela Universidade de Tufts (EUA) e mest...

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