Reportagens

Ouro: mineração de pequeno porte e mercúrio ameaçam a Guiana

Um número entre 15 e 20 mil mineiros respondem por toda a produção de ouro no país, usando métodos que intoxicam a fauna e as pessoas.

Johann Earle ·
28 de fevereiro de 2013 · 11 anos atrás
Garimpo dentro da floresta. Fotos: Ministério dos Recursos Naturais da Guiana
Garimpo dentro da floresta. Fotos: Ministério dos Recursos Naturais da Guiana

A mineração de ouro na Guiana é importante para a economia do país, onde o setor minerário responde por 11% do PIB. Entretanto, cobra um alto preço da floresta. O uso do mercúrio, ainda que comece a cair, continua a produzir consequências nefastas para o meio ambiente e a saúde da população.

“Na Guiana, a degradação das florestas é causada principalmente pelas atividades de mineração, exploração seletiva de madeira de corte e incêndios florestais”, afirmou a ((o))eco, Robert Persaud, ministro dos Recursos Naturais. A área total de florestas na Guiana em 2011 foi estimada pelo governo em 18.39 milhões de hectares, dos quais 15.5 milhões são administrados pelo Estado.

O ministro disse ainda que mineiros de pequeno e médio porte produzem 100% do ouro na Guiana. Em 2011, essa produção foi de aproximadamente 10,2 toneladas, realizada por um número estimado entre 15.000 e 20.000 mineiros. Enfatizou que é difícil controlar essa atividade, pois, na Guiana, ela está espalhada por uma vasta área que, na maior parte, é desabitada e fica em territórios de florestas densas.

Em outubro de 2012, o preço do ouro chegou a USD$1.700 (R$3.400) por onça (28,34 gramas), um aumento de 5 vezes em uma década. Embora atividades mineradoras ocorram na Guiana há mais de um século, a disparada do preço iniciou uma nova corrida ao ouro, que atraiu grupos de outras ocupações, tais como fazendeiros, pescadores e operadores de maquinário pesado, que eram moradores urbanos.

“Para minimizar a degradação das florestas, o aumento no interesse pela mineração de ouro vem sendo monitorado de perto, com salvaguardas ambientais mais fortes e exploração sustentável de madeiras de corte para minimizar a degradação das florestas”, disse Persaud. Entre as medidas, está o fortalecimento das agências reguladoras, como a Comissão Florestal da Guiana e a Comissão de Geologia e Minas da Guiana (CGMG).

O uso de mercúrio pode impregnar fauna e pessoas.
O uso de mercúrio pode impregnar fauna e pessoas.

O ministro afirmou que a Comissão de Geologia e Minas recebeu poderes de fiscalizar com maior rigor as licenças, permissões e concessões de mineração, inclusive as operações de pequeno e médio porte. As áreas-alvo mais importantes são Port Kaituma, Puruni e Mahdia, pois são intensamente mineradas.

Mercúrio

Segundo Robert Persaud, a mineração feita na Guiana requer o uso de mercúrio. “Porém”, disse, “estamos pesquisando outras tecnologias que o substituam. Os próprios mineiros têm buscado alternativas”. Ele também afirmou que o governo da Guiana está usando seus meios legais para disciplinar o uso do mercúrio e reduzir seus impactos.

Em conversa com ((o))eco, o pesquisador Calvin Bernardo afirmou que “a atividade de mineração corresponde a 50% de toda a devastação florestal da Guiana” e concordou que a mineração ilegal de ouro ocorre numa escala tão pequena que localizá-la e fiscalizá-la são tarefas duras.

Chegam a 20 mil o número de mineiros que participam da nova corrida do ouro.
Chegam a 20 mil o número de mineiros que participam da nova corrida do ouro.

Bernard alertou para os perigos do metal. “A forma com que separam o mercúrio do ouro libera o mercúrio elemental que fica impregnado nos cursos d’água e na vegetação. Os mineiros o inalam e ele é também absorvido pelos peixes”. Os peixes carnívoros são os maiores acumuladores de mercúrio. “O mercúrio é bio-ampliado nos predadores por se alimentarem de outros peixes”, disse. A forma mais nociva do mercúrio é o metil-mercúrio, pois produz efeitos fisiológicos que podem levar à morte.

Segundo Bernard, a quantidade de ouro extraída legalmente está aumentando, porém ainda há muitos mineradores ilegais operando na floresta. Devido aos altos lucros que obtêm, podem fugir abandonando seus equipamentos quando a fiscalização chega. Ele se preocupa com o fato de que não há esforços suficientes para assegurar que as áreas de mineração esgotadas sejam recobertas por vegetação. “Isso acaba ficando a cargo da própria natureza”.

 

Leia também

Salada Verde
16 de abril de 2024

ONU espera a posição brasileira sobre crimes contra vida silvestre

A proposta e as de outros países para proteger a biodiversidade com melhores políticas, leis e ações serão debatidas na Áustria

Salada Verde
15 de abril de 2024

MMA revoga normas de Bolsonaro que dificultavam aplicação de multas ambientais

Mudanças foram publicadas no Diário Oficial nesta segunda-feira (15). Durante gestão anterior, aplicação de multas ambientais na Amazônia caiu 93%

Reportagens
15 de abril de 2024

Área de mangue bem conservado cresce 33% na APA Guapi-Mirim, na Baía de Guanabara

Proteção assegurada por unidades de conservação favoreceu regeneração natural; Atividades do Gaslub (antigo Comperj) ameaçam APA e Esec Guanabara

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.