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ONGs lançam campanha contra venda de bolinho de tubarão em Noronha

Estabelecimentos dentro do arquipélago comercializam livremente a iguaria feito de espécie silvestre. Ação chama atenção para o absurdo da prática

Daniele Bragança ·
3 de fevereiro de 2017 · 7 anos atrás
Mobilização das ONGs é para garantir que o bichano acima não vire recheio de bolinho. Foto: Mathias, M.H/Flickr.
Mobilização das ONGs é para garantir que o bichano acima não vire recheio de bolinho. Foto: Mathias, M.H/Flickr.

O arquipélago de Fernando de Noronha é um dos poucos locais ao longo da costa brasileira onde se pode realizar mergulho de observação de tubarões. O mesmo santuário que permite o avistamento desses animais ameaçados serve aos seus visitantes um bolinho com recheio de… tubarão. O cardápio inusitado segue sendo livremente comercializado, mas as ONGs ambientalistas Divers for Sharks e Rede Nacional Pró Unidades de Conservação (Rede Pró UC) se uniram para chamar atenção para a evidente contradição desta prática.

Os ambientalistas alertam principalmente para a falta de identificação das espécies que viram recheio do “tubalhau”. Não se sabe se a espécie consumida consta na lista vermelha de espécie ameaçada, por exemplo. Em dezembro, ((o))eco publicou uma coluna da instrutora de mergulho Adriana Castro, que relatou vários problemas que ela presenciou na ilha, entre eles, a visível diminuição da fauna marinha.

“Há uma necessidade de se banir esse bolinho de tubarão em Fernando de Noronha. O coerente e o correto é parar de matar tubarão para que o que movimente a economia da região seja o turismo, seja a observação da fauna marinha e não o consumo da fauna marinha, vendida como carne. Se você vai para o Pantanal e não come churrasco de onça, porque você iria Fernando de Noronha comer bolinho de Tubarão? Ambas são espécies ameaçadas e raras da nossa fauna. Ambas merecem ser protegidas em seus habitats naturais”, explica Angela Kuczach, diretora da Rede Nacional Pró Unidades de Conservação.

A campanha será veiculada nas redes sociais e segue o mote da fala da Angela: se não é permitido comer iguaria feita com espécie ameaçada em qualquer outro ambiente, porque se permite comer tubarão em Noronha (veja as imagens da campanha abaixo).

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Encontro por santuário

Nesta sexta-feira (03), o Divers for Sharks se reunirá com o secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, Sérgio Xavier, para discutir a criação do Santuário de Tubarão em Fernando de Noronha. O objetivo é transformar a ilha num polo de mergulho e conservação de raias e tubarões, onde iguarias como tubalhau seriam proibidas. O encontro acontecerá às 16h em Recife.


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  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

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Comentários 10

  1. Erick Road Estrada diz:

    Só no Brasil mesmo, país das jabuticabas. E tem que se orgulha deste título (não pelas jabuticabas, mas pela cretinice reinante nesta terra que cada vez menos merece ser chamada de Nação). Tubarões, raias e cações com sérios problemas de conservação e, em pleno local que é 100% UC, se ajuda a extinguir o grupo. Aliás…Onde estão as tão preocupadas "defensoras dos animais" que fazer faniquito com animais domésticos em situações de maus tratos?


    1. José Truda diz:

      Não é ruim , só a correspondente global "esqueceu" de contar que o marfim massacrado pelos pescadores semana passada EM NOROINHA está nessa lista… e cadê a multa? Depois da repercussão negativa, essa mesma "jornalista" apagou o post e a foto… Estamos esperando a providência, "autoridades" de Noronha!


      1. José Truda diz:

        MARLIM! Corretor maldito. Mas o crime é o mesmo. 🙂


  2. Ricardo Porto diz:

    Completando apenas a informação do post acima. O bolinho de tubalhau é produzido no Recife, com espécies liberadas pelo SIF e vai congelado para Fernando de Noronha. A informação é oficial e foi obtida com o pessoal do site Viva Noronha! Logo, a campanha não faz o menor sentido, gente. Vamos apurar direito as coisas! abraços!


    1. José Truda diz:

      Caro Ricardo, o TUBARÃO que é vendido em Noronha tem procedência brasileira, e provavelmente vem, sim do entorno do próprio arquipélago, prejudicando o turismo de Mergulho ali mesmo. Trata-se de uma imensa bandalheira que o Viva Noronha e muitos outros querem ver abafada pra não "prejudicar os negócios". mas se depender de nós não vai ser varrido pra baixo do tapete não. O Léo Veras, que tem muitos (outros) méritos, sabe muito bem que isso é errado e só continua porque tem essa máfia do deixa-disso apoiando. É hora de parar com isso. Abraço.


  3. Ricardo Porto diz:

    Já estive em Fernando de Noronha quatro vezes, por motivos profissionais e pessoais. Conheço o criador do Museu do Tubarão. Leo Veras é um dos maiores defensores da espécie tanto em Noronha quanto em outros lugares. O bolinho de tubalhau vendido lá não é feito com carne de tubarão. É carne de cação, um peixe da mesma família, cuja caça só é feita para consumo por pescadores locais. Tenho certeza de que isso não mudou. Quanto ao "sumiço" dos tubarões no entorno da ilha, citado pela Adriana Castro, pode ser verdade, mas pode também ser uma consequência de correntes, de épocas do ano etc.


  4. Cynthia Gerling diz:

    Parabéns pela reportagem! Apoio a causa e moro em Noronha! Isso é uma vergonha para a ilha!


  5. Andreia diz:

    Existe algum abaixo assinado de apoio à campanha na internet? Quero assinar!!!


    1. José Truda diz:

      Andreia, obrigado pelo interesse! Por favor escreva direto pro Secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, Sergio Xavier, expressando seu apoio: [email protected], isso ajuda muito!