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A incrível resiliência dos ambientes marinhos

Levantamento indica que pesquisas sobre impactos de Mudanças Climáticas em ambientes marinhos encontram também boas notícias

Vandré Fonseca ·
1 de fevereiro de 2017 · 7 anos atrás
Agregação de peixes no Recife de Kitutia, na Tanzânia. Crédito: Jennifer O'Leary.
Agregação de peixes no Recife de Kitutia, na Tanzânia. Crédito: Jennifer O’Leary.

Um levantamento realizado por pesquisadores americanos mostra um lado positivo dos estudos sobre mudanças em ambientes marinhos provocadas pelo clima. Mais de 80% dos especialistas consultados haviam encontrado, além das alterações, evidências de resistência e rápida recuperação dos habitats O estudo foi publicado na revista BioScience, nesta quarta-feira (01).

A pesquisa foi liderada pela bióloga marinha Jennifer O´Leary, do programa California Sea Grant, iniciativa do Agência de Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, em inglês) que financia pesquisas, ações de educação e divulgação sobre a vida marinha. “Os ecossistemas costeiros podem ainda manter um grande potencial para suportar, e há medidas que podemos tomar para ajudar a amortecer os impactos”, afirmou a pesquisadora em reportagem publicada no site do programa.

Durante o estudo, foram consultados 97 especialistas em ambientes marinhos, todos com pelo menos 25 anos de experiência no estudo de habitats marinhos. O objetivo da entrevista era conhecer melhor as observações dos especialistas nas mudanças no corais provocadas por fatores relacionados ao aquecimento global, como tempestades extremas, mudanças de temperatura e acidificação do oceano.

Os autores do estudo afirmam existirem pontos de resiliência em seis grandes ecossistemas costeiros. Eles consideram que em alguns casos a recuperação foi impressionante. Na Austrália Ocidental, citam, um branqueamento severo atingiu até 90% dos corais vivos. Doze anos depois, 44% dos recifes da região já estavam recuperados.

Entre os principais fatores apontados pelos pesquisadores para essa resiliência estão a estrutura tridimensional dos corais e a alta conectividade entre as áreas remanescentes. Eles também destacam boas práticas de gestão, principalmente para evitar mais danos ao ambiente. Após o El Niño de 1997/1998, que provocou ondas fortes e altas temperaturas, por exemplo, a vegetação marinha da floresta de algas na Califórnia se recuperou graças ao alto recrutamento, ou seja, crescimento de indivíduos.

O estudo sobre a resiliência, afirmam os autores do estudo, pode levar a descoberta de condições locais e processos  que permitem aos ecossistemas, mesmo sob pressão, manter a estrutura e as funções biológicas, preservando o fornecimento de serviços ecossistêmicos. Um exemplo é a criação de redes de áreas marinhas protegidas.

“Ao entender o que podemos fazer para aumentar a resiliência futura, podemos proteger melhores hábitats de distúrbios”, afirma Jennifer O´Leary. Os autores do estudo advertem, porém, que a presença de pontos de resiliência não contradiz a evidência esmagadora da grande pressão que o aquecimento global provoca sobre os ambientes marinhos. (*Com informações Bioscence/Sea Grant California).

 

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Comentários 1

  1. José Truda diz:

    Muito francamente, resiliência de alguns pontos (e onde está o baseline pra falar de resiliência? Cadê os dados de biomassa de 100 anos atrás, antes da pesca industrial destroçar tudo? Bah) não significa que os oceanos estejam resistindo ao ataque massivo do Homo rapiens. No caso dos recifes de coral, o que se v~e em muitos casos é uma enorme mudança na composição e abundância das espécies que compõem os conjuntos recifais… o recife não "morre", mas sua estrutura muda radicalmente. isso é "boa notícia"? Na boa, faltou perspectiva.