Notícias

Morte de toninhas no Espírito Santo preocupa ambientalistas

Toninhas do Espírito Santo formam uma população isolada, por isso a mortalidade atípica de animais é ainda mais preocupante

Vandré Fonseca ·
6 de fevereiro de 2014 · 10 anos atrás
Animais estão sendo analisados pelo Instituto Baleia Jubarte. Vários tiveram tecidos retirados antes de serem encontrados, o que indica que músculos e vísceras podem estar sendo aproveitados por pescadores. Crédito: Instinto Baleia Jubarte.

Sete toninhas (Pontoporia blainvillei) já foram encontradas mortas este ano, nas praias de Guriri e Pontal do Ipiranga, no norte do Espírito Santo. Apesar da espécie ser encontrada desde Itaúna (ES) até a Argentina, a população capixaba está isolada, o que torna as mortes ainda mais preocupantes, segundo ambientalistas. A situação já foi relatada ao Instituto Chico Mendes de Consevação da Biodiversidade (ICMBio), ao Ibama e às autoridades estaduais.

Os animais mortos estão sendo levados para o Instituto Baleia Jubarte, na Bahia, para serem examinados. Vários foram encontrados com tecidos já retirados. “Ou estão sendo capturados propositalmente ou não, mas está havendo a retirada de tecidos, das vísceras e da musculatura, aí sobram apenas ossos e pele”, detalha o diretor de Pesquisas do Instituto Baleia Jubarte, o veterinário Milton Marcondes.

A retirada das vísceras, mesmo de animais mortos acidentalmente, também é preocupante porque pode criar um mercado para esses tecidos e incentivar a matança de golfinhos, segundo Marcondes. O correto é devolver o animal ao mar, se estiver vivo. Em caso de morte acidental, o pescador poderia entregá-lo às autoridades, mas muitos preferem não fazer para evitar encrenca.

Marcondes conta que a maioria das carcaças tinha marcas de rede, mas não é possível afirmar que a captura desses animais tenha sido proposital. Uma possibilidade é que os animais sejam vítimas acidentais de redes de pesca. Elas são colocadas perpendicularmente às praias, se estendendo por centenas de metros mar adentro. São puxadas em direção à areia, formando cercos onde peixes e outros animais marinhos ficam aprisionados. Sem poder respirar, eles se debatem e podem morrer devido às convulsões.

“Um animal chegou inteiro, em boa condição, e a gente conseguiu fazer uma necropsia adequada”, conta o Marcondes, que é veterinário. “Ele tinha vários hematomas e restos de peixe no esôfago, indícios de que morreu na rede mesmo”, completa.

As toninhas são golfinhos que medem aproximadamente 1,8 metros e podem pesar até 50 quilos. Elas preferem águas rasas, com até 30 metros de profundidade, perto da praia. São consideradas vulneráreis à extinção, pelos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Entre as ameaças que enfrenta, estão as redes de pescadores e, especialmente no Espírito Santo, projetos para a construção de portos, que podem alterar muito o ambiente onde vivem.

“O Espírito Santo tem mais de 20 licenciamentos de portos, muitos nem vão ser transformados em portos mesmo. Mas o litoral está sendo ocupado muito rápido”, afirma o diretor de Pesquisas do Instituto Baleia Jubarte, Milton Marcondes. “Muitas vezes, na análise de impacto ambiental e no processo de licenciamento, a presença das toninhas é considerada de pouca importância ou nem sempre é considerada. Então, a gente precisa colocar a toninha no mapa do Espírito Santo”, completa.

 

Saiba Mais
Plano de Ação Nacional para a Conservação da Toninha

Leia Também
Proteção para a toninha não cair nas redes
Projeto Golfinho Rotador completa 21 anos
Botos do Araguaia não nadam no Amazonas

Leia também

Salada Verde
6 de maio de 2024

Arco símbolo de mergulho de Fernando de Noronha desaba

Pela ação natural de erosão, o arco do ponto de mergulho Pedras Secas desabou em abril. Mergulhadores da região lamentam a perda de um vislumbrante ponto da ilha

Colunas
6 de maio de 2024

Rio Grande do Sul: governança para prevenir desastres climáticos

A armadilha climática que se instalou sobre o Rio Grande do Sul significa que não há apenas um novo normal climático, mas que estamos no caminho do desconhecido

Notícias
3 de maio de 2024

Eletrobras contraria plano energético e retoma projetos para erguer megausinas no Tapajós

Há oito anos, as usinas do Tapajós estão fora do Plano Decenal de Energia, devido à sua inviabilidade ambiental. Efeitos danosos são inquestionáveis, diz especialista

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.