Notícias

Começou a temporada do tráfico de papagaios

Com a chegada da primavera, período de reprodução, inicia-se também o trágico ciclo da venda criminosa de psitacídeos, como o papagaio-verdadeiro.

Fábio Pellegrini ·
10 de outubro de 2012 · 11 anos atrás
As viagens entre MS, origem dos papagaios, até as cidades de SP, onde são comercializados, duram mais de 10 horas, amontoados em caixas em porta-malas de carros ou mesmo sob os assentos. Foto: Fabio Pellegrini.

Campo Grande (MS) – Com a primavera, período de reprodução dos animais, inicia-se também o trágico ciclo do tráfico de animais silvestres, principalmente psitacídeos, como o papagaio-verdadeiro, espécie mais traficada a partir de Mato Grosso do Sul, para abastecer o mercado ilegal do estado de São Paulo.

O processo tem início em acampamentos, assentamentos e pequenas propriedades rurais nos municípios de Batayporã, Bataguassu, Ivinhema, Novo Horizonte do Sul, Anaurilândia, Três Lagoas, Santa Rita do Pardo, Nova Andradina e Brasilândia, além de Naviraí e Mundo Novo, a leste do Estado.

Os sitiantes são contratados por traficantes oriundos do interior de São Paulo, que oferecem, em média, R$ 30 por animal. Muitas dessas pessoas recrutadas são crianças e jovens que capturam os animais ainda filhotes ou ainda no estágio de ovos.

Maioria dos papagaios chegam desidratados e debilitados pois não recebem água nem alimentos durante o transporte feito pelos traficantes. Foto: Fabio Pellegrini.

Leis que não ajudam

Em um dos casos, dois homens, de 30 e 40 anos, foram abordados pela polícia em uma rodovia vicinal com 38 filhotes de papagaios no veículo. Os traficantes não foram presos em flagrante, pelo fato de, conforme a legislação brasileira, ser um crime de menor potencial ofensivo. Porém, segundo a Polícia Militar Ambiental, eles responderão por crime e poderão ser condenados à pena de 6 meses a um ano de detenção. Cada um também foi multado em R$ R$ 9.500,00.

Em outro caso, 19 filhotes foram apreendidos em um barraco de um acampamento de sem-terra, localizado às margens da rodovia MS-141.

A situação de maior gravidade, até então, foi a de dois homens que saíram de Ivinhema (MS) e foram detidos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) com 336 filhotes de papagaios na BR-153, em Ourinhos, interior de São Paulo, a mais de 500 quilômetros da origem. As aves estavam em caixas no porta-malas e no banco traseiro do carro em que eram transportadas sem documentação de autorização. De acordo com os policiais, o destino era a cidade de São Paulo, onde cada filhote seria vendido por R$ 50 ao revendedor, e depois por R$ 300 no varejo. Os filhotes estavam desidratados e precisaram de cuidados emergenciais. Acabaram levados à Associação de Proteção aos Animais Silvestres, na cidade de Assis (SP).

Segundo o major Ednilson Queiroz, chefe de comunicação da Polícia Militar Ambiental do Mato Grosso do Sul (PMA), os policiais fazem trabalhos preventivos nas propriedades rurais, por meio de informação da legislação e Educação Ambiental, haja vista que o modus operandi dos traficantes é de aliciamento dos sitiantes e funcionários de propriedades rurais, para que capturem para que os comprem. “Muitas pessoas fazem isto, às vezes, sem saber que estão cometendo crime ambiental e sem saber do risco de contrair zoonoses”, explica Queiroz.

A retirada prematura dos papagaios dos ninhos, quando ainda nem possuem penas, e o transporte sem qualquer cuidado por parte dos traficantes ocasionam mortes e imagens chocantes como esta. Foto: Fabio Pellegrini.

Em 2008, foram registradas apreensões que resultaram em uma superlotação de papagaios nos recintos do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) da capital sul-mato-grossense: 570 indivíduos. Uma pequena parte não resistiu por ser muito nova e já chegar debilitada, porém a maioria se reabilitou e foi reintroduzida à natureza em propriedades e reservas particulares cadastradas pelo órgão ambiental competente.

 

 

Leia também

Análises
28 de março de 2024

O Turismo ocupando seu lugar na gestão participativa das Unidades de Conservação

Entidades do Trade Turístico podem – e devem! – participar do debate e contribuir com a gestão das áreas naturais protegidas

Colunas
28 de março de 2024

Morte da sucuri Anajulia (Vovózona) liga alerta na comunicação científica 

O sensacionalismo nos impõe um dilema: se por um lado corrói a credibilidade e piora o debate público, por outro pode causar mobilização suficiente para fazer as autoridades agirem

Notícias
27 de março de 2024

G20 lança até o final do ano edital internacional de pesquisa sobre a Amazônia

Em maio será definido o orçamento; temas incluem mudanças climáticas, risco de desastres, justiça ambiental e conhecimentos indígenas

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.