Colunas

Angkor Wat, a maravilha do mundo

Reacendendo a história das novas sete maravilhas do mundo, me parece estranho inserir nesta avaliação apenas obras arquitetônicas construídas pelo ser humano.

25 de maio de 2008 · 16 anos atrás
  • Adriano Gambarini

    É geólogo de formação, com especialização em Espeleologia. É fotografo profissional desde 92 e autor de 14 livros fotográfico...

Reacendendo a história das novas sete maravilhas do mundo, me parece estranho inserir nesta avaliação apenas obras arquitetônicas construídas pelo ser humano. Não há citação sobre amazônias, cerrados, caatingas, Andes, cavernas vietnamitas, glaciares chilenos. Dá-me a sensação de uma visão antropocêntrica demais, como se o mundo em que vivemos e toda sua beleza natural, sua evolução de quatro bilhões de anos fosse algo exclusivamente para usufruto do ser humano. Sendo assim, sobre a eleição das sete maravilhas, deveria acrescentar “erigida pelo homem”. E mesmo que esta edição fosse definida para escolher as mais belas construções, toda visão que temos do belo (e assim o fotografamos) é sempre baseada no contexto, e deve ser visto por um ângulo maior e dinâmico. Coloque a Torre Eiffel num campo árido ou sobre uma colina e terá apenas uma simples ‘antena’. O que vale a ela é estar inserida no belíssimo complexo arquitetônico de Paris, às margens do Rio Sena. Da mesma forma, falar do Cristo Redentor, que está no pódio deste ranking dos sete, deve-se levar em conta onde ele se encontra. Sabiamente lembrado pelo escritor, que atribuiu o real valor ao Corcovado, às matas que protegem suas encostas. E aos entrecortes do mar; ou será que as hordas de turistas se atêm apenas à construção, e não dão uma olhadinha lá embaixo, naquela baía exuberante? Nas paisagens naturais é a mesma coisa: o que vale não é o sol se pondo, mas o desenfrear de tons alaranjados que se misturam às nuvens.

Tive o privilégio de ter conhecido inúmeras das candidatas a maravilhas construídas por mãos humanas, mas a mim nada supera Angkor Wat. Considerado o maior conjunto de templos do mundo, Angkor é uma cidade adormecida nas florestas tropicais do Camboja. Reencontrado por Henry Mouhot, um explorador naturalista que em 1864 subia o Rio Mekong, sua construção foi inicialmente atribuída como um feito de Alexandre, o Grande. Angkor Wat, na realidade, é apenas um dos palácios existentes dentro da chamada Angkor Thom, cidade que foi construída pelo imperador Jayavarman VII para ser a capital do império khmeriano, no início do século XI. Existe uma infinidade de conjuntos de templos e pátios circundados por uma grande muralha, todas acobertadas por árvores seculares e uma névoa fina e convidativa. Monges budistas se encarregam de preservar, e orar, por aquelas pedras sagradas, entalhadas de inscrições sânscritas e baixo-relevos que revelam cenas do dia-a-dia da época, batalhas e as famosas deusas celestiais, as Apsaras.

Mas para nós, que temos uma tendência a ver tudo pelos espectros verdes da natureza, nenhum é mais instigante que o palácio de Ta Phrom. Já conhecido pelas lentes hollywoodianas, Ta Phrom foi um palácio construído pelo imperador para abrigar o culto à sua mãe, e magistralmente dominado pela floresta. Árvores gigantescas colocaram suas raízes entre as pedras de tal forma que puderam se erguer sem que houvesse grandes desmoronamentos. A cada caminhada e passagem pelas estreitas portas, uma nova teia de raízes expõem troncos seculares, grossos, entrelaçados com galhos em direção ao céu. Se estas árvores e seu sábio crescimento são responsáveis ou não, o fato é que este templo é um dos mais preservados do complexo de Angkor. Talvez os ambientalistas se sintam aliviados pelo fato da floresta ter novamente dominado o lugar deste palácio, mas é interessante ver também as sensações antagônicas que causam aos visitantes. Norman Lewis, em 1951 escreveu: “Enormes árvores germinaram nos telhados das torres achatadas e seus elevados troncos ficaram até obscurecidos à nossa visão. Mas, aqui mesmo, podemos estudar à vontade o drama dessas atividades secretas e conspiratórias, que labutam para manter seu crescimento tirânico.” Em outras palavras, Ta Phrom é uma construção tão divina que nem mesmo a natureza tinha o direito de ter ‘invadido’ seus domínios.

Leia também

Reportagens
30 de abril de 2024

Ambientalistas acusam multinacional japonesa de lobby contra a criação do Parna do Albardão

A denúncia foi levada ao MPF no Rio Grande do Sul com pedido de providências. Empresa de energias renováveis nega acusações e afirma não ser contra a proteção ambiental da área

Notícias
30 de abril de 2024

Plásticos são encontrados em corpos de botos-cinzas mortos

Estudo identifica microplásticos em todas as doze amostras de botos-cinzas mortos encontrados no Espírito Santo. Um resíduo de 19,22 cm foi retirado de um deles

Reportagens
30 de abril de 2024

Para salvar baleias, socorristas de México e EUA arriscam a própria vida

Registros de baleias presas em equipamentos de pesca estão crescendo na costa oeste do México, no Atlântico Norte e no resto do mundo — assim como os esforços para libertá-las

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.