Salada Verde

Memória seletiva

Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, diretor de licenciamento do Ibama omitiu informações ao defender licenciamento da usina de Belo Monte.

Salada Verde ·
18 de abril de 2010 · 14 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

No último dia 15, o diretor de licenciamento do Ibama, Pedro Bignelli, omitiu informações ao defender a licença de Belo Monte. Em coluna da jornalista Miriam Leitão (veja aqui), Bignelli comentou que o parecer do órgão citado na ação civil do Ministério Público Federal no Pará, que levou à suspensão temporária da licença prévia e do leilão marcado para o dia 20, é documento “antigo”, de novembro. Depois, disse que mais estudos foram realizados, com participação de consultorias externas, e feito um parecer definitivo, resultando na concessão da licença, em fevereiro.

Mas Bignelli omitiu a informação de que os técnicos do Ibama editaram um parecer em 26 de janeiro e uma nota técnica em 29 de janeiro, reforçando os problemas e a inviabilidade da obra.

O parecer relembra das cem mil pessoas que migrarão para a área de influência da usina e das vinte mil que serão deslocadas, espalhando problemas sociais, dos cem quilômetros do rio Xingu que serão duramente afetados pelas obras, com prejuízos à biodiversidade, populações, serviços e recursos ambientais, dos transtornos à navegação e outras expressões do modo de vida de comunidades ribeirinhas e indígenas, e da inundação de 500 quilômetros quadrados de floresta amazônica para formação do reservatório.

“A falta de critérios técnicos e legais que expressem a viabilidade ambiental, e os diversos interesses, legítimos, mas muitas vezes antagônicos, que encontram no âmbito do licenciamento ambiental um espaço de discussão política, não propiciam à equipe técnica uma tomada de decisão segura sobre a viabilidade de empreendimentos de tamanha complexidade”, conclui o parecer (veja aqui).

Já a nota técnica, logo em sua introdução, destaca que “A equipe mantém o entendimento de que não há elementos suficientes para atestar a viabilidade ambiental do empreendimento, até que sejam equacionadas as pendências apontadas nas conclusões do Parecer nº 06/2010”. O documento (veja aqui) avança pontuando uma série de recomendações ao licenciamento na tentativa de conter alguns impactos do megaempreendimento nascido na Ditadura Militar e incorporado ao PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, reforçando a necessidade de se aumentar a vazão mínima da barragem na tentativa de manter condições mínimas para a sobrevivência de populações e da biodiversidade na chamada Volta Grande do rio Xingu.

A assinatura do diretor de licenciamento figura em “parecer técnico conclusivo”, também de 29 de janeiro, incorporando o parecer e a nota técnica. No texto, Bignelli desfia um arranjo de “considerandos” burocráticos para concluir que “desde que adotadas todas as condições acima, configura-se o cenário de viabilidade do empreendimento, não havendo óbices à emissão de licença prévia”.


A licença foi concedida em primeiro de fevereiro.

Leia também

Notícias
25 de abril de 2024

Brasil registra o maior número de conflitos no campo desde 1985, diz CPT

Segundo os dados da Comissão Pastoral da Terra, país teve 2.203 conflitos em 2023, batendo recorde de 2020; 950 mil pessoas foram afetadas, com 31 assassinatos

Salada Verde
25 de abril de 2024

Acnur anuncia fundo para refugiados climáticos 

Agência da ONU destinará recursos do Fundo para proteger grupos de refugiados do clima. Objetivo é arrecadar US$ 100 milhões de dólares até o final de 2025

Salada Verde
25 de abril de 2024

Deputados mineiros voltam atrás e maioria mantém veto de Zema à expansão de Fechos

Por 40 votos a 21, parlamentares mantém veto do governador, que defende interesses da mineração contra expansão da Estação Ecológica de Fechos, na região metropolitana de BH

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.