Montado por setores atrasados do ruralismo brasileiro, o chamado Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima produziu pérolas que não deixam dúvida sobre a linha de pensamento e nível de argumentação de entidades como a Confederação Nacional da Agricultura e parlamentares ligados ao agronegócio e a nova frente nacionalista. Além de tentar replantar a dúvida e a inanição frente às ameaças das mudanças do clima, trazendo céticos profissionais como Bjorn Lomborg (veja sugestões dele aqui) para o evento, o arremedo de debate deixou claro o ranço do conservadorismo na “carta de São Paulo”.
O documento final do fórum tem trechos que parecem ter saído da boca de parlamentares neonacionalistas, como: “Movimentos ambientalistas mais sectários e alguns políticos em todo o mundo tem se apropriado de informações científicas ainda parciais ou inconclusas para transmitir uma falsa idéia de certeza sobre as questões do clima, de forma a apressar os governos a decidir sobre medidas, principalmente destinadas a mitigar as emissões de carbono. Na realidade, essas questões do clima são complexas, pela sua própria natureza, e não se prestam a simplificações destinadas ao uso da propaganda política”.
Avança chovendo no molhado: “As mudanças nos processos de produção ou no comportamento das pessoas – que possam reduzir a concentração de carbono na atmosfera – deverão ocorrer ao longo do tempo. Além disso, todas essas transformações têm custos extremamente altos para as respectivas sociedades, em todos os cenários propostos. E, devem ser colocados ao lado de custos, também elevados, para o atendimento de outras necessidades das populações, como saneamento, educação, saúde, entre outros. Como os recursos para todas essas ações são limitados, impõe-se criteriosa avaliação da relação entre custos e benefícios de todas as hipóteses de ação pública”.
Para concluir no vazio: “A profundidade e a extensão das contribuições trazidas pelos expositores deste Forum nos aconselham a não tentar, improvisadamente, formular uma única síntese. Há muita riqueza de informação e de pensamento que se perderia nessa tentativa. Por essa razão, decidimos refletir sobre todas as contribuições apresentadas no FEED 2010, aprofundar o conhecimento sobre os consensos e também a respeito dos pontos de divergência identificados. Somente depois dessa reflexão, surgirão as reais conclusões deste evento. Finalmente, reafirmamos o nosso princípio essencial: para conciliar futuro e presente – representados pela produção de alimentos e pela preservação do planeta – não nos afastaremos do bom senso e das recomendações da ciência”.
Dois dias de debates negando a Ciência que lhes desagrada para afirmar, ao fim, que não se afastarão da Ciência que pretendem construir.
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