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Plantios de maconha ameaçam martas-pescadoras nos Estados Unidos

Raticidas usados para proteger plantações ilegais de maconha na Califórnia estão causando a morte de animais silvestres.

Vandré Fonseca ·
8 de novembro de 2015 · 8 anos atrás
Na foto, Mourad Gabriel, responsável pelos estudos que relacionam a morte de martas-pescadoras ao uso de raticidas em plantações de maconha na Califórnia. Crédito: Mark Higley/Hoopa Valley Tribal Forestry.
Na foto, Mourad Gabriel, responsável pelos estudos que relacionam a morte de martas-pescadoras ao uso de raticidas em plantações de maconha na Califórnia. Crédito: Mark Higley/Hoopa Valley Tribal Forestry.

Manaus, AM — Para proteger as martas-pescadoras (Martes pennanti), um mamífero carnívoro que vive na Costa Oeste dos Estados Unidos, o biólogo americano Mourad Gabriel tem colocado a própria vida em risco. Há três anos, ele denuncia que o uso de raticidas ilegais em plantações de maconha tem causado a morte de animais nas florestas da Califórnia. E esta semana, ele publicou um novo estudo, junto com outros colegas, demonstrando que a situação está se agravando.

No artigo publicado na PLOS ONE em 4 de novembro, foram analisadas as mortes de 167 animais, encontrados entre 2012 e 1014. O resultado demonstra que a maior causa ainda são predadores naturais (70% dos casos), mas o envenenamento por raticidas representa 10% do total de mortes.

Os animais são intoxicados ao se alimentarem de roedores envenenados. Os raticidas inibem a capacidade de martas-pescadoras e outros mamíferos de reciclar a vitamina K. Isto causa dificuldades para a coagulação sanguínea, ocasionando hemorragias internas e até a morte. O veneno é colocado em iscas espalhadas na plantação de maconha, como bacon, peixes e manteigas, que atraem os ratos.

Entre 2012 e 2014, a taxa de exposição de animais a raticidas aumentou de 79% para 85%. Necropsias indicaram que até seis tipos diferentes de venenos foram encontrados em um único animal e mesmo aqueles considerados menos nocivos podem ser mortais para o animal. A maior parte dos envenenamentos ocorreu na primavera, quando a espécie se acasala.

“A marta-pescadora é uma espécie-bandeira”, afirma Gabriel. “Temos que pensar em muitas outras espécies, como raposas-vermelhas, corujas manchadas e até outras espécies de martas. Todas potencialmente em risco. Esta situação vai piorar, a menos que façamos algo para corrigir esta ameaça”, completa o biólogo, um dos fundadores da organização sem fins lucrativos Centro de Pesquisas em Ecologia Integral (IERC, em Inglês).

Fazer algo significa enfrentar produtores de maconha que atuam no Condado de Humboldt, na costa norte da Califórnia. Em reportagem sobre o trabalho do biólogo Mourad Gabriel, publicada no dia 5 de novembro, o Los Angeles Times destaca que o cultivo da maconha, ilegal ou não, é uma atividade lucrativa na região, mas que está associada a um alto índice de criminalidade. O Xerife do condado, Mike Downey, afirmou ao jornal americano que 80% dos crimes violentos na região estão associados à maconha. Na Califórnia, o uso de maconha para fins medicinais não é crime desde 1996.

O Los Angeles Times aborda também o risco enfrentado pelos biólogos que trabalham em campo. De acordo com a reportagem, Mourad Gabriel teve um cachorro morto por envenenamento. Para o xerife Downey, a morte do labrador de estimação foi uma mensagem clara ao biólogo. “É o reflexo de uma indústria que está desmarcada e não tem bússola moral”, afirmou a autoridade à repórter Julie Cart.

Em 2012, pesquisadores gravaram uma marta-pescadora envenenada. Veja o vídeo. 

 

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Comentários 3

  1. Mega-Sena diz:

    mas olha só que ideia dos caras, pelo amor de deus


  2. paulo diz:

    Dedão de novo do Homo sapiens idiotis