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Manifestações marcam oposição ao novo Código Florestal

Por Karina Miotto No último fim de semana, dois importantes eventos mobilizaram a capital paulista em prol da preservação do meio ambiente. No sábado, quem esteve no Parque do Ibirapuera se deparou com o TEDxMataAtlântica. No domingo, o local foi palco do Viva a Mata 2011, organizado pela Fundação SOS Mata Atlântica - que também apoiou o TEDx. O encontro foi marcado por manifestações contra a votação do Código Florestal, a ser realizada hoje na Câmara dos Deputados. No total, os dois eventos chegaram a contabilizar 1700 pessoas. O tema do TEDx era "Minha Atitude, Meu Ambiente" e reuniu cinco palestrantes: Fabio Feldmann, fundador da ONG SOS Mata Atlântica; Giuliana Cappelo, jornalista ambiental colunista do site Planeta Sustentável; Simone Bazarian, sócia-fundadora da Associação ProScience; Cristiana Randow, coordenadora do projeto RespirAR, Regina Casé, apresentadora do programa 'Um pé de quê?' e Kaká Werá, indígena Tapuia, fundador do Instituto Arapoty. O objetivo do evento era mostrar às pessoas os diversos meios pelos quais o homem está conectado ao bioma. Giuliana é também permacultora e subiu ao palco para dizer que o que é sustentável é também divertido - e usou como exemplo a comparação entre a situação de um ciclista e a de um motorista no meio do trânsito. Simone trabalha com reflorestamento de áreas degradadas e afirma que a mudança efetiva ocorre quando a informação passa pela mente e pelo coração. Não deu para fugir do assunto que ultimamente não quer calar. Para Feldman, a aprovação do Código Florestal como tem sido proposto por Aldo Rebelo (PCdoB-SP) é "um passaporte à impunidade no Brasil". "Ou temos a capacidade de entrar no século 21 ou vamos voltar para o século 19", defendeu. O ciclo de palestras terminou com Kaká Werá explicando a história da Ibirapitanga, árvore cuja tradução do tupi-guarani para o português significa "Alma Vermelha". Este é o nome verdadeiro do que hoje conhecemos como "Pau Brasil". "Na época da invasão dos portugueses, 'brasileiro' era a designação dada àqueles que roubavam o Pau Brasil. Sentimos orgulho de sermos brasileiros, 'os que roubam árvores'", contou ele. Em alusão ao extermínio de florestas que já vem sendo causado pelas mudanças propostas para o novo Código, finalizou sua palestra dizendo que "este é o nosso momento de mudar a história. Vamos nos transformar em brasileiros que plantam e que zelam por suas árvores". 1500 pessoas a só voz No dia seguinte às palavras de Kaká, 1500 pessoas se reuniram no parque em uma manifestação contra o novo Código. A mobilização fez parte do Viva a Mata 2011. Estiveram presentes políticos como a ex-senadora Marina Silva (PV), os deputados federais Ricardo Tripoli (PSDB-SP), Paulo Teixeira (PT-SP) e Ivan Valente (PSOL-SP), o MST e as organizações Greenpeace, WWF e, como não poderia faltar, Pau Brasil. Na ocasião, Marina falou do compromisso dos dez ex-ministros do Meio Ambiente de entregarem, na manhã de hoje, a carta à presidente Dilma pedindo veto às mudanças propostas, como de fato foi feito. "Não vemos, na proposta de mudanças do Código Florestal aprovada pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados em junho de 2010, nem nas versões posteriormente circuladas, coerência com nosso processo histórico, marcado por avanços na busca da consolidação do desenvolvimento sustentável. Ao contrário, se aprovada qualquer uma dessas versões, o país agirá na contramão de nossa história e em detrimento de nosso capital natural", afirmam os ex-ministros na carta aberta, assinada na segunda-feira (23). Veja abaixo íntegra da Carta dos ex-ministros Carta Aberta à Presidente da República e ao Congresso Nacional Os signatários desta Carta Aberta, ao exercerem as funções de Ministros de Estado ou de Secretário Especial do Meio Ambiente, tiveram a oportunidade e a responsabilidade de promover, no âmbito do Governo Federal, e em prol das futuras gerações, medidas orientadas para a proteção do patrimônio ambiental do Brasil, e com destaque para suas florestas. Embora com recursos humanos e financeiros limitados, foram obtidos resultados expressivos graças ao apoio decisivo proporcionado pela sociedade, de todos os presidentes da Republica que se sucederam na condução do país e do Congresso Nacional. Mencione-se como exemplos: a Política Nacional do Meio Ambiente (1981), o artigo 225 da Constituição Federal de 1988, a Lei de Gestão de Recursos Hídricos (97), Lei de Crimes e Infrações contra o Meio Ambiente (98), o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (2000), a Lei de Informações Ambientais (2003), a Lei de Gestão de Florestas Públicas (2006), a Lei da Mata Atlântica (2006), a Lei de Mudanças Climáticas (2009) e a Lei de Gestão de Resíduos Sólidos (2010). Antes que o mundo despertasse para a importância das florestas, o Brasil foi pioneiro em estabelecer, por lei, a necessidade de sua conservação, mais adiante confirmada no texto da Constituição Federal e sucessivas regulamentações. Essas providências asseguraram a proteção e a prática do uso sustentável do capital natural brasileiro, a partir do Código Florestal de 1965. Marco fundante e inspiração nesse particular, o Código representa desde então a base institucional mais relevante para a proteção das florestas e demais formas de vegetação nativa brasileiras, da biodiversidade a elas associada, dos recursos hídricos que as protegem e dos serviços ambientais por elas prestados. O processo de construção do aparato legal transcorreu com transparência e a decisiva participação da sociedade, em todas as suas instâncias. E nesse sentido, é importante destacar que o CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente já se constituia em excepcional fórum de decisão participativa, antecipando tendências que viriam a caracterizar a administração pública, no Brasil, e mais tarde em outros países. Graças a essa trajetória de responsabilidade ambiental, o Brasil adquiriu legitimidade para se tornar um dos participantes mais destacados nos foros internacionais sobre meio ambiente, além de hoje dispor de um patrimônio essencial para sua inserção competitiva no século XXI. Para honrar e dar continuidade a essa trajetória de progresso, cabe agora aos líderes políticos desta nação dar o próximo passo. A fim de que o Código Florestal possa cumprir sua função de proteger os recursos naturais, é urgente instituir uma nova geração de políticas públicas. A política agrícola pode se beneficiar dos serviços oferecidos pelas florestas e alcançar patamares de qualidade, produtividade e competitividade ainda mais avançados. Tal processo, no entanto, deve ser desenvolvido com responsabilidade, transparência e efetiva participação de todos os setores da sociedade, a fim de consolidar as conquistas obtidas. Foram muitos os êxitos e anos de trabalho de que se orgulham os brasileiros, e portanto tais progressos não devem estar expostos aos riscos de eventuais mudança abruptas, sem a necessária avaliação prévia e o conveniente debate. Por outro lado, não consideramos recomendável ou oportuno retirar do CONAMA quaisquer de suas competências regulatórias no momento em que o país é regido pelo principio da democracia participativa, consagrado na nossa Carta Magna. Não vemos, portanto, na proposta de mudanças do Código Florestal aprovada pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados em junho de 2010, nem nas versões posteriormente circuladas, coerência com nosso processo histórico, marcado por avanços na busca da consolidação do desenvolvimento sustentável. Ao contrário, se aprovada qualquer uma dessas versões, o país agirá na contramão de nossa história e em detrimento de nosso capital natural. Não podemos, tampouco, ignorar o chamado que a comunidade científica brasileira dirigiu recentemente à Nação, assim como as sucessivas manifestações de empresários, representantes da agricultura familiar, da juventude e de tantos outros segmentos da sociedade. Foram suficientes as expectativas de enfraquecimento do Código Florestal para reavivar tendências preocupantes de retomada do desmatamento na Amazônia, conforme demonstram de forma inequívoca os dados recentemente divulgados pelo INPE. Entendemos, Senhora Presidente e Senhores congressistas, que a história reservou ao nosso tempo e, sobretudo, àqueles que ocupam os mais importantes postos de liderança em nosso país, não só a preservação desse precioso legado de proteção ambiental, mas, sobretudo, a oportunidade de liderar um grande esforço coletivo para que o Brasil prossiga em seu caminho de nação que se desenvolve com justiça social e sustentabilidade ambiental. O esforço global para enfrentar a crise climática precisa do ativo engajamento do Brasil. A decisão de assumir metas de redução da emissão dos gases de efeito estufa, anunciadas em Copenhagen, foi um desafio ousado e paradigmático que o Brasil aceitou. No próximo ano, sediaremos a Conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e o Brasil poderá continuar liderando pelo exemplo e inspirando os demais países a avançar com a urgência e a responsabilidade que a realidade nos impõe. É por compreender a importância do papel na luta por um mundo melhor para todos e por carregar esta responsabilidade histórica que nos sentimos hoje na obrigação de dirigirmos a Vossa Excelência e ao Congresso Nacional nosso pedido de providências. Em conjunto com uma Política Nacional de Florestas, o Código deve ser atualizado para facilitar e viabilizar os necessários esforços de restauração e de uso das florestas, além que de sua conservação. É necessário apoiar a restauração, não dispensá-la. O Código pode e deve criar um arcabouço para os incentivos necessários para tanto. O próprio CONAMA poderia providenciar a oportunidade para que tais assuntos sejam incorporados com a devida participação dos estados, da sociedade civil e do mundo empresarial. De nossa parte, nos colocamos à disposição para contribuir a este processo e confiamos que sejam evitados quaisquer retrocessos nesta longa e desafiadora jornada. Brasília, 23 de maio de 2011 Carlos Minc (2008-2010) Marina Silva (2003-2008) José Carlos Carvalho (2002-2003) José Sarney Filho (1999-2002) Gustavo Krause (1995-1999) Henrique Brandão Cavalcanti (1994-1995) Rubens Ricupero (1993-1994) Fernando Coutinho Jorge (1992-1993) José Goldemberg (1992) Paulo Nogueira Neto (1973-1985) {iarelatednews articleid="25022, 24998, 24485"}

Redação ((o))eco ·
24 de maio de 2011 · 13 anos atrás

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