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Sempre atrás do prejuízo

Quando o Brasil decidir adotar o biodiesel em grande escala em sua frota de veículos, lá fora ele já poderá ser considerado um combustível ultrapassado.

17 de março de 2005 · 19 anos atrás

Enquanto no Brasil engatinha vagarosamente rumo à implementação do biodiesel como alternativa para os combustíveis fósseis, fora daqui a coisa literalmente arranca para o futuro. Graças à morosidade do Legislativo, o país com um dos maiores potenciais para se tornar a Arábia Saudita dos combustíveis alternativos continua amarrado a uma torre de petróleo.

Isso vem das respostas que esta coluna recebeu a um texto publicado aqui em O Eco, algumas semanas atrás, sobre a <i>via crucis</i> enfrentada pelo engenheiro Thomas Fendel para tentar homologar seu carro movido a óleo vegetal. “No carro ou na panela”, era seu título. Muitas pessoas mandaram e-mails, manifestando sua indignação e oferecendo sugestões para resolver o problema.

Naquela coluna, Fendel informava que o biodiesel há muito já não é novidade e que em alguns países sua utilização é bastante difundida. Uma rápida busca pela internet revela que o quadro é exatamente esse, o que só faz aumentar a indignação de quem tem que conviver com o sistema legal brasileiro.

O avanço da legislação ambiental dos Estados Unidos, por exemplo, permitiu que em 1996 fosse criada a Pacific Biodiesel Inc., uma empresa especializada na fabricação de biodiesel a partir do óleo de cozinha utilizado nos restaurantes da região.

Em 1995, esses óleos eram motivo de preocupação dos habitantes da ilha de Maui, no arquipélago havaiano, porque seu descarte em aterros sanitários públicos ameaçava contaminar o lençol freático e, conseqüentemente, a água da região. Diante desse quadro, Robert King, um mecânico de motores a diesel e dono da empresa King Diesel, responsável pela manutenção dos geradores que abasteciam o aterro, decidiu fazer alguma coisa a respeito. Nascia, então, da parceria de King com Larry Zolezzi – que então trabalhava para a empresa de Robert – e com Daryl Reece – um engenheiro agrônomo e pesquisador de biodiesel. Nascia a Pacific Biodiesel.

Desde então, a empresa especializou-se em transformar óleo velho de cozinha em combustível para motores movidos a diesel. Logo, a Pacific Biodiesel foi reconhecida pelo Governo dos Estados Unidos como um dos primeiros empreendimentos do gênero no país que podia ser considerado economicamente viável. Em 1997, um empresário japonês os contratou para construir uma produtora de biodiesel idêntica à de Maui em Nagano, no Japão, para atender a um restaurante da rede Kentucky Fried Chicken local. Hoje, a planta japonesa processa o óleo usado em mais de 60 restaurantes da região.

E na matriz as coisas também vão muito bem, obrigado. A Pacific Biodiesel produz cerca de 570 mil litros de biodiesel por ano exclusivamente reciclando óleo de cozinha e restos de caixas de gordura que recebe diretamente de caminhões-tanque. Mais de 40 toneladas de óleo são recicladas por mês. O combustível que produzem é utilizado em geradores, veículos com motores diesel em geral e barcos. Esta última, por sinal, é uma excelente notícia, pois o biodiesel é menos nocivo para ambientes marinhos e aquáticos do que o diesel comum. Estima-se, segundo dados da “E: The Environmental Magazine”, que os barcos de recreação consomem anualmente 360 milhões de litros de diesel.

Também chama atenção o fato de que, enquanto no Brasil se pode ter o carro apreendido porque o seu motor funciona com óleo vegetal, nos Estados Unidos as grandes locadoras de veículos já começam a oferecer em seu leque de opções carros com motores híbridos ou, até mesmo, movidos a biodiesel.

No último dia 25 de fevereiro, o New York Times publicou uma matéria justamente sobre este assunto, citando diversos casos. Segundo o artigo, na mesma ilha de Maui, no Havaí, existe uma locadora de veículos chamada Maui Bio-Beetle, que aluga carros movidos a biodiesel. Aparentemente, quem aluga os carros sai com uma impressão positiva da experiência, exceto, ao que tudo indica, por um certo cheiro de batatas fritas queimadas que se pode sentir quando se está parado no sinal e o vento vira na direção errada.

O jornal cita ainda uma outra empresa, que vem fazendo sucesso na cidade de São Francisco, na Califórnia, alugando pequenos veículos elétricos. A Electric Time Car Rentals aproveita o trânsito caótico da cidade e a dificuldade de se encontrar estacionamento para promover os pequenos carros GEM – Global Electric Motorcar – fabricados pela gigante Daimler-Chrisler. Os carros são pequenos e não têm portas. Mas a clientela parece não se importar. A experiência de rodar com um carro aberto, com emissão zero de poluentes parece agradar às pessoas. Especialmente no verão.

Diante da receptividade do mercado, as grandes locadoras de veículos norte-americanas já estão correndo atrás de renovar suas frotas com carros híbridos ou movidos a energias alternativas, especialmente o Honda Civic Hybrid e o Toyota Prius, com motores que funcionam a gasolina e eletricidade. Ao menos por lá, eles, que não fazem mal a ninguém, já podem circular sem medo da polícia.

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