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Minoria persistente

O canhoto humano é um exemplo de capacidade de adaptação dos humanos a um meio hostil. Se fossem bichos, não seriam forçados a fazer tanto contorcionismo.

28 de outubro de 2004 · 20 anos atrás

O mundo ainda é dos destros. Tesouras, abridores de lata, saca-rolhas, acessórios de computador, e até colheres tortas para bebês são feitos para quem tem preferência pela mão direita. Mais de 90% das pessoas usam a mão direita para executar a maioria de suas tarefas.

Outros animais que também usam as mãos para comer e manipular objetos, como aves, mamíferos, a e até mesmo sapos, também têm preferência por uma das patas. A diferença é que a distribuição é mais homogênia no reino animal. Os camundongos, por exemplo, são proporcionalmente democráticos: 50% preferem usar a pata esquerda e os outros ficam com a direita.

Não é preciso pensar muito para achar uma vantagem para o uso preferencial de um dos “lados”. Se não fosse assim, os dois lados do corpo seriam igualmente ágeis e poderiam entrar em disputa na hora de executar qualquer tarefa. Qual das pernas seria a responsável pelo primeiro passo? Qual das mãos seria melhor para pegar a comida ou fazer carinho numa cria? A preferência por um dos lados do corpo resolve esse problema. Torna a escolha automática. Mas no caso dos humanos, se a opção for pela esquerda, ela desencadeia um processo de adaptação a um mundo criado para os destros.

Qual será a base para a preferência pelo lado direito? Se a opção ou habilidade de cada um estivesse relacionada às preferências políticas do sujeito, quem sabe até a expressão “acordou com o pé esquerdo” talvez fizesse algum sentido.

Mas, não é este o caso. A explicação científica deve levar em conta uma série de fatores diferentes:

1. a genética. Existem famílias com alta incidência de canhotos. Nestes casos, a chance de um casal ter um filho canhoto é de 10% quando pai e mãe são destros e 20% quando pai e mãe são canhotos.

2. hormônios, como a testosterona, influenciam na escolha do esquerdo ou do direito, já que existem mais canhotos do que canhotas no mundo (aproximadamente 30% a mais).

3. a influência sócio-cultural como a repressão do uso da mão esquerda ou mesmo a conversão forçada, o que acontecia com freqüência nas escolas, antes dos canhotos serem vistos como pessoas absolutamente normais e habilidosas.

4. fatores mecânicos, como a posição do feto no útero, podem influenciar na escolha do bebê. Assim como todo cérebro apresenta assimetrias, toda criança já apresenta diferenças no movimento de cada uma das mãos.

De um tempo para cá, os canhotos brasileiros conseguiram importar algumas idéias e conquistar certo espaço, pelo menos nas escolas brasileiras. As carteiras, que mantinham a turma que usa a esquerda contorcida, já têm alternativa de lado. Fora do Brasil, eles têm muito mais espaço. Em Londres, por exemplo, já existem lojas especializadas em produtos exclusivos para canhotos.

Além dos acessórios para computadores, a variedade de produtos feitos exclusivamente para o pessoal da esquerda é vasta. Eles também vendem tesouras, abridores de lata, ferramentas, tacos de golfe, relógios, câmeras fotográficas, e milhares de outras coisas que só um outro canhoto pensaria em desenvolver. Para reforçar o mercado, eles levantam sua bandeira e investem em camisetas com dizeres como: se o lado direito do cérebro controla o lado esquerdo do corpo, somente os canhotos estão com suas mentes no lugar.

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