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Atitudes

Valorizar bons exemplos e denunciar más atitudes pode ser o começo de uma corrente para mudar o Brasil, em qualquer campo, ainda mais no meio ambiente.

8 de outubro de 2004 · 20 anos atrás
  • Sérgio Abranches

    Mestre em Sociologia pela UnB e PhD em Ciência Política pela Universidade de Cornell

O fotógrafo Bob Krist conta, em uma coluna para a revista Outdoor Photographer que uma vez foi visitar os filhos numa temporada de oficina de basquete e o treinador motivava os garotos dizendo “não importa o que aconteça, importa como você reage”. Bob gostou tanto, que passou a usar em suas próprias oficinas de fotografia. A atitude correta faz a diferença entre o sucesso e o fracasso. Não importa o obstáculo, vale a atitude.

Enquanto pensava em uma série de coisas que me chamaram a atenção essa semana, lembrei-me do comentário de Bob Krist. E a cadeia de raciocínio foi detonada por um arrependimento. Estava em São Paulo, para fazer algumas palestras, na quinta-feira anterior à eleição municipal. Num final de tarde, trânsito lento na Avenida Paulista, vejo um garoto com a bandeira de campanha do Maluf encostado no poste, em animada conversa com duas meninas, uma com a bandeira do Serra, a outra da Marta.

As bandeiras estavam abaixadas, displicentemente, visíveis o suficiente para cumprir a tarefa de mostrá-las aos, como diria a Folha de São Paulo, supostos eleitores. O arrependimento era não ter levado a câmera, para flagrar aquele exemplo eloqüente de que a atitude é que vale. Não é que os três não fossem pessoas animadas. A conversa era vibrante. Não podia ouvi-los, mas, os risos, o brilho nos olhos, a velocidade com que os lábios se moviam diziam tudo. Não tinham era entusiasmo ou compromisso com os três principais candidatos que desejam governar a cidade. Não eram militantes, eram pagos pelo serviço.

O chocante era ver material do PT, que historicamente sempre foi empunhado por militantes do partido como uma arma na guerra contra tudo que aí está, igualado aos dos outros, nas imediações do palácio da plutocracia industrial paulista, a FIESP. Os três não se davam conta de que não mais anunciavam candidatos, professavam uma atitude, que dizia não haver diferença notável entre os três. Serra e Marta provavelmente se ofenderão com essa afirmação, porque Maluf é um ícone da má política. Mas, diante do que faz o PT de Marta no governo federal, o eleitor tem o direito de, pelo menos, imaginar que não há nada mais parecido com um tucano do que um petista no poder. Logo, digamos que a atitude dos carregadores de bandeira estava 70% correta. Margem de erro de 3%, para mais ou para menos, vá lá, e garanto que não estou tão longe do resultado real, quanto as pesquisas de boca de urna ficaram.

A Força do Exemplo

Não é questão de opinião, é de atitude. E para um magistrado, só devia existir uma atitude possível: a irredutível determinação de fazer cumprir a lei. Como já dizia, no Império, o magistrado conservador Euzébio de Queiroz, na defesa contra os liberais, “os magistrados tiram a influência que têm da sua inteligência e da natureza das suas funções: não a deduzem do Poder Legislativo”. Daí a necessidade de limites, sobretudo quando a força da natureza das funções parece suplantar a da inteligência. Tinha razão, o senador Cruz Jobim, citado por Zé Murilo, ao falar dos esforços da classe dos magistrados, para “perpetuar entre nós o regime legal, já que o regime legal, o estudo das leis, o respeito a elas, o seu ídolo, é o objeto exclusivo de seus estudos”. Que assim seja, a idéia de que é preciso subordinar as leis às conveniências e necessidades da hora é o caminho mais curto para a desordem, a bagunça, a informalidade e esse tremendo espetáculo de desrespeito às leis que assistimos, diariamente, no Brasil.

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