Salada Verde

Órgão alerta para o aumento do tráfico de papagaios em período de reprodução

Instituto Estadual de Florestas (IEF) de Minas Gerais aponta que é justamente nessa época que os filhotes são retirados da natureza, em condições precárias

Sabrina Rodrigues ·
26 de novembro de 2019 · 4 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente
Tráfico faz com que animais sejam transportados em péssimas condições, muitas vezes sem comida. Foto: Viviane Lacerda.

Eles são retirados dos ninhos ainda pequenos, antes do fim do período de dependência dos pais, e são transportados de forma precária pelas estradas do país até as feiras, lojas e comércio irregular de aves silvestres. Parte do transporte é feito em garrafas pets ou embaixo do banco do carro, de forma a burlar a polícia rodoviária. Quando um papagaio chega vivo no destino, na casa do comprador irregular, outros nove morrem no caminho.

O tráfico de animais silvestres movimenta milhões em todo ano, mas para o Instituto Estadual de Florestas (IEF) de Minas Gerais, o período da primavera representa um risco maior para as aves da família dos Psittacidae – que engloba mais de 85 espécie de araras, maracanãs, papagaios e periquitos –, por justamente ser o período de reprodução da família.

O animal mais vulnerável nesse extenso grupo é o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), pois ele tem a maior capacidade de imitar sons. Cada fêmea pode botar de dois a quatro ovos, incubando-os por um período de 24 a 29 dias. Os filhotes são totalmente dependentes dos pais durante um período de quatro a cinco meses. Os traficantes não respeitam esse tempo de dependência para furtar os filhotes. 

Em Minas, quando as aves são apreendidas, elas vão para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) em Belo Horizonte, unidade com gestão compartilhada entre o IEF e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Apenas entre os meses de setembro e outubro, o Cetas recebeu cerca de 1,8 mil animais, uma média de atendimento de 450 animais por mês. A maioria dos animais apreendidos são psitacídeos. 

​”Esse animal foi transportado de formas terríveis, submetido a maus-tratos, o que é uma situação muito ruim”, afirma a veterinária Érika Procópio, que trabalha no Cetas.

Papagaio é o exemplo de psitacídeo que mais sofre com o tráfico, segundo o IEF. Foto: Vivane Lacerda.

Tráfico pode gerar extinção dessas espécies

Importantes para o equilíbrio ecológico do planeta, os psittacídeos atuam como polinizadores e dispersores de sementes, contribuindo para a regeneração de áreas degradadas.

O tráfico de animais pode gerar a extinção dessas espécies, alerta Érika Procópio, “Os filhotes estão saindo, os adultos envelhecendo, então você não tem uma reposição dos jovens e filhotes. Isso compromete todo o ciclo ecológico, toda a cadeia alimentar. E você diminui a dispersão de sementes para o ambiente e das espécies que vão predar essas aves. Futuramente, se algo não for feito essas espécies vão acabar sendo extintas da natureza”, diz.

Segundo o IEF, em 18 de setembro um homem foi preso com mais de 200 aves silvestres (128 papagaios, 78 pássaros-pretos, uma arara-canindé e um trinca-ferro) dentro de um carro em Sete Lagoas, a 72 quilômetros de Belo Horizonte. Os animais estavam alojados em caixas de plástico.

Seis dias depois, outro homem foi preso, dessa vez com 66 aves. Foram encontrados 63 filhotes de papagaios e três filhotes de araras, todos em caixas de papelão fechadas, sem entrada de luz natural. 

De acordo com  o Decreto Estadual 47.383/2018, as multas para cada papagaio, periquito ou arara encontrado em situação irregular é de R$ 10.779,60, além da responsabilização criminal pelo ato. Se a situação for descoberta em meio a um flagrante de tráfico, a multa é acrescida de mais R$ 1.077,96 pelo ato do transporte clandestino, de acordo com o gestor ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), André Russo Valério. 

“Nosso trabalho é baseado principalmente em um planejamento anual de fiscalização. A gente enumera locais de maior incidência de tráfico e cativeiro e direcionamos nossas operações para esses locais. Fazemos atendimentos a denúncias dos cidadãos e também atuamos com investigação para direcionar o trabalho dos fiscais”, diz André. Foi esse trabalho que levou a Semad a apreender, no ano passado, 524 animais com um único traficante em Belo Horizonte, na Região de Venda Nova, sendo 239 psitacídeos. 

 

*Com informações do Instituto Estadual de Florestas (IEF).

 

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  • Sabrina Rodrigues

    Repórter especializada na cobertura diária de política ambiental. Escreveu para o site ((o)) eco de 2015 a 2020.

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Comentários 1

  1. Paulo diz:

    Grande crime contra a fauna nativa Brasileira.
    Temos uma fiscalização em alguns estados precárias, legislação de "passar a mão na cabeça" e um judiciário "muito bonzinho" e ignorante quanto a gravidade deste "tipo" de crime.