Análises

Uma travessia pelo Parque Estadual da Serra do Tabuleiro

Das montanhas ao mar, a trilha de 90 km de extensão que corta o parque estadual catarinense promete encantar visitantes com belas praias, cachoeiras e paisagens

Carlos Cassini ·
16 de fevereiro de 2021 · 3 anos atrás
Os campos de altitude marcam a paisagem do início da travessia. Foto: Carlos Cassini

A travessia do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, em Santa Catarina, conta com aproximadamente 90 quilômetros de extensão e conecta o simpático município de São Bonifácio, com suas cachoeiras e casas enxaimel, ao município de Santo Amaro, com suas águas termais, e chega até as lindas praias de Palhoça, no litoral catarinense. O percurso é um dos que integra a Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso e promete encantar os caminhantes brasileiros e estrangeiros.

As águas cristalinas do rio Moller. Foto: Carlos Cassini

O primeiro trecho, o mais longo e sem pontos de apoio pelo caminho, é conhecido como Travessia do Tabuleiro. São três dias de caminhada nesta etapa, que se inicia em em uma propriedade privada de simpáticos agricultores que possuem uma fábrica de bolachas caseiras, em São Bonifácio. De lá, a trilha sobe pelo vale por onde correm as cristalinas águas do rio Moller, onde o caminhante anda pelas sombras da Mata Atlântica, cruzando o rio várias vezes. O trecho parte de uma altitude próxima a 600 metros e chega aos campos de altitude, a 1.200 metros, em um percurso de aproximadamente 4 km. A região dos campos de altitude, linda por natureza, demanda alguns cuidados. Muito frio no inverno, risco de chuvas e trovoadas no verão. É importante frisar que a disponibilidade de água pode ser rara em períodos de estiagem. Prepare-se e não acenda fogueiras! Um incêndio naquela região será catastrófico.

O segundo dia de caminhada se dá pela paisagem de campos. Não há terrenos íngremes, apenas os campos ondulados com matas nebulares junto aos vales, e pouca sombra disponível. Ao final do segundo dia, é possível acampar olhando ao longe para as luzes da Grande Florianópolis, o mar e as montanhas. É apenas no terceiro dia de caminhada que se chega ao pico do Tabuleiro, com um visual incrível do topo dos seus 1.200 metros de altitude.

Hora de descer. São quase 1.000 metros numa distância de 4 km até Caldas da Imperatriz, no município de Santo Amaro da Imperatriz, onde o caminhante pode tomar uma cerveja, um café quentinho, um banho gelado no rio ou quente nas águas termais do local. A cidade é uma boa parada também para reabastecer as provisões pros próximos dias de caminhada.

A conexão entre Santo Amaro e Palhoça está planejada para ser realizada pela trilha que liga a região de Vargem do Braço às cachoeiras conhecidas como Cobrinha de Ouro, onde o banho em águas cristalinas no final do trecho, será a recompensa após mais um dia de caminhada. Este trecho já está desenhado, mas ainda não foi sinalizado, e os caminhantes podem reservar um dia inteiro para cumprir este percurso.

Já em Palhoça, é hora de rumar para a praia! Mas não sem passar antes pelo Pico do Cambirela. Com 915 metros e o mar aos seus pés, o visual do Pico do Cambirela é de tirar o fôlego, literalmente. A subida é árdua, mas a colocação de degraus nos pontos de maior risco tornou a ascenção mais segura e um pouco mais acessível. Reserve um dia inteiro para este trecho.

Visual do Pico do Cambirela, cartão-postal do parque. Foto: Carlos Cassini

A partir do Cambirela, o caminho segue para o sul pela estrada antiga, paralela à rodovia BR-101, até o Centro de Visitantes do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (PAEST). O trecho passa pela Enseada do Brito, área urbanizada com ótimos restaurantes típicos, onde o prato principal é peixe assado com pirão. Não deixe de conhecer nosso Centro de Visitantes. Por hora estamos fechados por conta da pandemia, mas reabriremos em breve (consulte no site do IMA ou nas redes sociais do Parque).

A próxima parada é a praia da Guarda do Embaú, 9ª Reserva Mundial do Surf, a Guarda é protegida por três Unidades de Conservação. O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, a Área de Proteção Ambiental (APA) do Entorno Costeiro do PAEST e a APA da Baleia Franca. Conhecida por sua beleza e pelas suas ondas, a Guarda do Embaú é o ponto de partida do último trecho continental da travessia, conhecido como o Vale da Utopia. Neste trecho você vai encontrar a Pedra do Urubu (100 m de altitude), um mirante natural com visual para o rio da Madre e a principal praia arenosa do parque. Vista de cartão-postal. A trilha segue para o norte passando por praias, costões, piscinas naturais e muitos visuais. O trecho pode facilmente ser percorrido em 3 horas, mas reserve o dia pra curtir porque o caminho é incrível.

Visual da Pedra do urubu. Rio da Madre e Praias do Parque na Guarda do Embaú. Foto: Carlos Cassini

O próximo trecho da travessia fica no sul da ilha de Santa Catarina, a famosa Florianópolis. É preciso cruzar de barco ou por transporte terrestre, neste caso passando pela ponte no centro da cidade. A opção via barco é a mais rápida e legal , mas o mar precisa ajudar. Uma boa pedida é ir até a praia do sonho, dentro da baía sul. A travessia pelo mar ainda não foi negociada com barqueiros, mas no sul da ilha, pescadores fazem este transporte até a praia de Naufragados. É desta praia que parte o último trecho da travessia do parque, já integrada às trilhas da Ilha.

Outras trilhas estão sendo planejadas no município de Paulo Lopes, próximas à região central do parque, mas estas são para o futuro. É importante lembrar que a visitação pública no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro ainda está fechada, mas estamos planejando o retorno para breve. Por enquanto curta as fotos e sonhe com sua caminhada por este lugar incrível.

Assista a live da Rede Brasileira de Trilhas com ((o))eco sobre a trilha:

*Carlos Cassini é coordenador do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro

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Comentários 4

  1. Maria diz:

    Muito bom! O pensamento "a legitimidade deve ser reconhecida pelo conjunto de atores envolvidos no processo e deve ser conquistada, sem imposição, por quem se propõe a coordená-lo. " deveria ser algo natural isto é real em algumas UCs.


  2. Caio Eichenberger diz:

    Cassini ótimo texto, realmente da muita vontade de realizar essa maravilhosa travessia da Serra do Tabuleiro.
    Parabéns colegas firmes e fortes na condução da Rede Brasileira de Trilhas abraços aos colegas.


  3. Luiz Mrcio diz:

    Bela reportagem e lindo trabalho, Carlos. Tentei me inscrever como voluntário de trilhas, mas não entendi o que fazer depois de baixar o formulário de voluntariado, já que não há explicação no site da Rede trilhas. Poderia ajudar, por favor?


    1. Caro Luiz Márcio, escaneie o formulário e envie para [email protected]