Desde então, a Montanha da Mesa tem figurado como o principal ícone da África do Sul. Assim como acontece com o Cristo Redentor no Brasil, não há campanha turística ou reportagem sobre o país que consiga contornar a imperiosa necessidade de mostrar seu imponente relevo.
Não é de surpreender portanto que a Montanha funcione como um imã para todos os montanhistas que habitam ou visitam a Cidade do Cabo. Dezoito trilhas sinalizadas ligam o asfalto aos mais de 1.000 metros de altitude do tabuleiro da mesa. O sexto dia da Hoerikwaggo começa pelo menos conhecido e menos utilizado desses acessos. Trata-se da Disa Gorge, que liga o abrigo de Orange Kloof à área das represas da Montanha da Mesa.
Orange Kloof é o último remanescente da Floresta Afromontana no Cabo. Não é uma mata com grande diversidade, pois só conta com 33 espécies de árvores, mas é a única floresta nativa primária da região e sua copa fornece proteção do sol a várias espécies endêmicas de vertebrados. Por isso mesmo, no Plano de Manejo do Parque Nacional da Montanha da Mesa, Orange Kloof foi zoneado como intangível.
Quando a trilha Hoerikwaggo foi planejada, contudo, decidiu-se que seu traçado aproveitaria um caminho utilizado pelos guardas parques para a rotina de fiscalização e, por meio dele, daria aos excursionistas (somente aqueles que estiverem percorrendo a Hoerikwaggo, até um limite máximo de doze pessoas por dia) a oportunidade única de conhecer essa bela floresta. Assim foi feito. A partir do abrigo de Orange Kloof, a trilha sobe em meio à mata em direção à Montanha da Mesa.
Começamos nosso dia um pouco tarde, pois tomamos um belo café da manhã e aproveitamos o aconchego do esplêndio abrigo de Orange Kloof. Quando nos pusemos a caminhar, após hora e meia deixamos a cobertura da floresta e entramos no vale apertado do Disa, onde resolvemos fazer nossa primeira parada para um rápido banho em uma pequenina represa desativada. Daí para a frente, voltamos a subir, subir, subir, subir, sempre com o sol na cabeça, até, depois de cerca de cinco horas de cabritada, chegarmos ao que os sul-africanos chamam de Back Table, a parte posterior da Montanha da Mesa, onde há cinco grandes represas.
A partir das represas, o trajeto oficial da Hoerikwaggo sugere que o caminhante siga até a estação do bondinho e desça por ele até a Cidade. Aceitar a dica, entretanto, tiraria do trilheiro a experiência soberba de pernoitar no topo da Montanha e de explorar um pouco algumas das trilhas ali existentes, cujas variadas vistas têm incentivado cerca de um milhão de pessoas a galgar a Mesa todos os anos.
Por isso, vale encerrar o sexto dia mais cedo, aproveitar o pôr do sol em algum lugar bonito da Montanha, como seu pico cuminante (MacLear´s Beacon) ou na encosta dos Doze Apóstolos com vista para Camps Bay e o Oceano Atlântico. Depois é aproveitar o aconchego do Overseer Cotage, antiga casa do zelador das represas, reformada pelo Parque para servir de abrigo.
Na próxima postagem conto como foi o último dia.
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