Reportagens

O bebê do século XXI

Hoje, basta nascer para começar a causar impactos ao meio ambiente. No exterior, produtos ecologicamente corretos ganham mercado ao prometerem uma infância mais verde.

Adriana Maximiliano ·
13 de abril de 2007 · 17 anos atrás

Uma vida ecologicamente correta começa no berço. Mas para os pais, adotá-la pode ser mais complicado do que fazer criança largar chupeta. A primeira prova de fogo são as fraldas – tão práticas e tão poluentes. Calcula-se que uma criança gaste em média 5 mil fraldas descartáveis até aprender a usar o penico. Só nos Estados Unidos, 18 bilhões são jogadas nas lixeiras por ano, o que dá a esse produto o título de terceira maior fonte de lixo sólido do país. Para completar o prejuízo ambiental, a decomposição de uma fralda descartável demora mais de 500 anos.

O que fazer? Os mais radicais podem aderir ao movimento Diaper-Free, que defende bebês livres das fraldas desde o nascimento. O segredo é a chamada “comunicação da eliminação”, em que as mães tentam entender os sinais que os recém-nascidos emitem instantes antes de fazerem xixi ou cocô e correm com eles para o penico sempre que necessário. O problema do método é que ele não é prático: o corre-corre se repete a cada 15 minutos e os resultados começam a aparecer apenas depois de seis meses, pelo menos.

Voltar para a velha e barata fralda de pano também não é bom negócio. Um estudo da Agência de Meio Ambiente do Reino Unido mostrou que, apesar de sair mais em conta para os pais, ela gera um custo alto para o meio ambiente por causa do material e da energia usados em sua confecção, e da água desperdiçada nas constantes lavagens.

Nos anos 80, foram criadas as fraldas descartáveis de algodão natural, sem perfume, gel ou látex, mas nunca conquistaram popularidade por serem caras, vazarem e causarem desconforto, como é o caso da Tushies. Já em 1991, surgiu na Austrália a fralda biodegradável, considerada a melhor solução pelos pais ecologicamente corretos. Mas a sua chegada às prateleiras de grandes mercados, como o americano, só aconteceu no ano passado com o lançamento da marca gDiaper. Ela é feita de algodão e vem em cores fortes e estampadas. Apenas a parte interna é descartável, podendo ser jogada no vaso sanitário. Em menos de um ano, a gDiaper virou a terceira fralda mais vendida nos Estados Unidos, mas não tem previsão de chegada ao Brasil.

Na hora das compras do bebê também é possível evitar estragos ambientais na farmácia. O livro “The Complete Organic Pregnancy”, de Deirdre Dolan e Alexandra Zissu ensina como: “Preste atenção na hora de comprar um produto de beleza. Confira os ingredientes nos rótulos dos xampus, por exemplo. Se não der para reconhecer – ou sequer pronunciar – os nomes que estão ali, esqueça. Escolha produtos que tenham apenas ingredientes naturais”. Nos Estados Unidos e na Europa alguns supermercados já oferecem seções exclusivas de produtos naturais de beleza e higiene para a mãe e o bebê.

Tudo orgânico

A papinha do bebê é outra questão. Até os seis meses, pelo menos, a amamentação exclusiva é a melhor opção para a criança, o bolso dos pais e, claro, o meio ambiente. Mas a partir daí, a dica dos pediatras, ecológicos ou não, é fazer a comida em casa para evitar conservantes, além do desperdício com potes de vidro e plástico. Lançado em março nos Estados Unidos, o livro “Organic Baby: Simple Steps for Healthy Living”, de Tanyia Maxted-Frost, tenta educar os pais americanos com um be-a-bá conhecido por quem freqüenta as feiras brasileiras: “Procure comprar apenas frutas da estação e sempre prefira alimentos de produtores locais”.

A amamentação e as papinhas caseiras são uma ótima oportunidade de economizar, já que manter um enxoval ambiental não sai barato. Além de camisetas e macacões de algodão orgânico, o enxoval do bebê ecológico tem mordedores orgânicos, travesseiros de ervas, escovas de cerdas naturais, toalhas de algodão orgânico e CDs com sons da natureza.

Nos Estados Unidos, as roupinhas de algodão orgânico podem ser encontradas em supermercados e, como mostram os editoriais de moda da revista para pais ecológicos “Kiwi”, novas marcas surgem todos os meses. Algumas estão ganhando popularidade porque vestem filhos de famosos, como a popular Green Babies – favorita de Apple e Moses, filhos da atriz Gwyneth Paltrow com o músico Chris Martin. A marca foi criada há pouco mais de uma década por um casal de Nova York que hoje tem três filhas vegetarianas.

Mas o algodão orgânico não é a única opção para um enxoval verde. Para os pais que querem vestir seu bebê sem prejudicar o meio ambiente, o livro “Save Cash and Save the Planet”, de Andrea Smith e Nicola Baird, tem uma sugestão mais em conta: “Os bebês crescem rapidamente e muitas famílias precisam se livrar das roupinhas acumuladas em malas no armário. Que tal comprar roupas de segunda mão?”.

Brinquedos de plástico: sem graça

Quando o assunto é brinquedo, a solução está ao alcance de todos. Os de plástico vêm perdendo terreno para brinquedos de outros materiais, como madeira, papelão e algodão orgânico. Na Europa, a briga para acabar com os materiais tóxicos usados na fabricação de brinquedos de plástico, liderada pelo Greenpeace, durou quase dez anos.

“Além do plástico demorar uma eternidade para se decompor, os bebês colocam tudo na boca. Que os brinquedos pelo menos sejam então de um material mais natural”, opina a psicóloga americana Hillary Mechner, de 31 anos, que tem um filho de 2 anos e já descobriu que as crianças não precisam de muitos brinquedos e preferem os objetos que encontram pela casa: “Em vez de gastar meu dinheiro com um boneco de plástico que emite um som insuportável, vou até a cozinha e volto com uma colher de pau e uma caixa de papelão. Meu filho fica feliz com seu novo tambor, o som é mais agradável, não vou prejudicar o meio ambiente e, principalmente, não gastei nada”.

Se dinheiro não é problema, lojas como a Genius Jones, de Miami, e a Enfim Enfant, do Shopping da Gávea,no Rio de Janeiro, têm uma série de brinquedos educativos e ecologicamente corretos. Em todo o Brasil, a rede Tok Stok oferece opções de madeira que conseguem competir em preço com brinquedos de plástico. Mas o melhor seria mesmo evitar o consumismo desenfreado que atinge as mães de primeira viagem.

*Adriana Maximiliano é freela em Washington D.C., Estados Unidos.

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