Manaus, AM – Há cerca de quatro anos, o americano Earl Williams esteve em Manaus em busca de poeira. Ou melhor, da poeira que durante milhares de anos teria atravessado o Atlântico, a partir da Depressão de Bodélé, no Chade, e se depositado no solo da Região Amazônica. Ele vinha de uma grande aventura pelo Deserto do Saara, onde havia feito coletas e pretendia compará-las com um solo amazônico, conhecido como belterra.
Esta história foi contada em ((o))eco, em dezembro de 2010, sem que houvesse ainda um desfecho para a aventura de Williams, que não teve suas idéias recebidas com muita empolgação aqui no Brasil. Mas a história não acabaria ali. Esta semana, um estudo baseado em imagens obtidas por satélites da Nasa ajudam a entender o que, na época, o americano tentava descrever.
A conclusão dos estudos está nas páginas da revista científica Geophysical Research Letters e foi divulgada junto com uma animação produzida pela agência espacial americana. De acordo com a pesquisa, liderada por Hongbin Yu, todos os anos 182 milhões de toneladas de poeira com uma pequena proporção de fósforo são retirados dos vales orientais do Saara. A poeira atravessa mais de 2.500 quilômetros até chegar à América. É o mais longo transporte de poeira pela atmosfera que se tem notícia.
De acordo com o artigo, o fósforo corresponde apenas 0,08% de das 27,7 milhões de toneladas de areia da África que se instala na Amazônia anualmente. Mas é uma quantidade significativa de fertilizante, é o equivalente a tudo em que a região perde desse produto com inundações e chuvas. A maior parte da poeira, porém, não vai para o a região Norte do Brasil. O estudo indica que 132 milhões de toneladas permanecem suspensas no ar. E 43 milhões de toneladas continua a viagem até o Mar do Caribe.
“Nós sabemos que a poeira é muito importante em muitos aspectos. Ela é um componente essencial de sistema global”, afirma Yu. “Poeira pode afetar o clima e, ao mesmo tempo, mudanças climáticas podem afetar a poeira”, completa o pesquisador do O Centro Interdisciplinar de Ciências do Sistema Terra (Essic, na sigla em inglês), mantido pela NASA e pela Universidade de Maryland (EUA).
Os dados foram obtidos a partir de instrumentos a laser do Satélite CALIPSO, entre 2007 e 2013. Os pesquisadores reconhecem que o período estudado ainda é insuficiente para determinar um padrão de transporte dessa poeira. Mas eles afirmam que o resultados são importantes para a compreensão de como os aerossóis, pequenas partículas suspensas no ar, se comportam e como se movem através dos oceanos.
Leia Também
A terrível beleza das tempestades de areia
Fruto do mar prejudicado por aquecimento
Amazônia de terra e poeira, onde deveria haver floresta
Leia também
Avistar celebra os 50 anos da observação de aves no Brasil
17º Encontro Brasileiro de Observação de aves acontece este final de semana na capital paulista com rica programação para todos os públicos →
Tragédia sulista é também ecológica
A enxurrada tragou imóveis, equipamentos e estradas em áreas protegidas e ampliou risco de animais e plantas serem extintos →
Bugios seguem morrendo devido à falta de medidas de proteção da CEEE Equatorial
Local onde animais vivem sofre com as enchentes, mas isso não afeta os primatas, que vivem nos topos das árvores. Alagamento adiará implementação de medidas →
Surpreendente. A cada rotação do planeta, novas surpresas. Isso é inimaginável. Muito interssante essa pesquisa, parabéns. Bem aventurado Earl Williams, sempre a Infinita Inteligência Cósmica o ilumine.