Manaus, AM – O bico amarelo era uma diferença que já havia sido notada, mas foram necessários oito anos de pesquisas para confirmar que ele indicava uma nova espécie de ave, que vive entre o Sul e Sudeste do país. A patatativa-tropeira (Sporophila beltoni) possui pouco mais de 10 centímetros de comprimento e uma cor acinzentada, características semelhantes da patativa-verdadeira (Sporophila plumbea), mas possui diferenças na plumagem e no canto. Entretanto, nem bem foi apresentada pelos cientistas, já deve entrar na lista de espécies ameaçadas.
A patativa-tropeira se reproduz em campos naturais associados à Floresta com Araucárias, que estão sendo rapidamente degradados e fragmentados. De acordo com os responsáveis por descrever a nova patativa, apenas 3% da cobertura original da Floresta com Araucárias está de pé. Os pesquisadores estimam que não mais do que 4.500 casais da patativa-tropeira existam na natureza, um número considerado baixo para aves.
“Ela necessita de áreas específicas para se reproduzir e que invariavelmente estão próximas a matas ciliares ou entremeadas com manchas de capões de florestas típicos dos campos com araucárias, por isso a necessidade de se conservar esse ecossistema tão ameaçado”, explica o biólogo Márcio Repenning, um dos responsáveis pela descrição da ave.
O passarinho passa o período mais quente do ano, de novembro a março, nas regiões onde se reproduz. Com a chegada de dias mais frios, a partir de abril, o capim utilizado pela ave deixa de crescer. Com menos alimento disponível, ela migra para o Cerrado, principalmente em Minas Gerais, onde permanece até outubro. A rota de migração coincide com a rota por onde tropeiros conduziam rebanhos e carne seca entre o Sul e Sudeste, desde o século 18. Ela foi batizada devido à essa característica.
A patativa-tropeira enfrenta ainda outra ameaça: a captura para abastecer o mercado clandestino de pássaros. “Por conta da somatória dessas situações, essa nova espécie já é considerada globalmente em perigo de extinção, conforme atualização da lista nacional de espécies ameaçadas de extinção que está em preparação”, diz Repening.
A descrição da patativa-tropeira foi publicada na edição de outubro de 2013, no jornal científico Auk, da União Americana de Ornitólogos e Sociedade Ornitóloga Cooper, pelos pesquisadores Márcio Repenning e Carla Suertegaray Fontana, ambos da PUC do Rio Grande do Sul, e que tiveram apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Leia também
Nova espécie descoberta: um pedreiro de Minas Gerais
Pesquisadores tentam salvar o entufado baiano
O incrível “Rally Internacional de Observação de Aves”
Leia também
A nova distribuição da vida marinha no Atlântico ocidental
Estudo de porte inédito pode melhorar políticas e ações para conservar a biodiversidade, inclusive na foz do Rio Amazonas →
Uma COP 30 mais indígena para adiarmos o fim do mundo
Sediada pela primeira vez na Amazônia, a conferência traz a chance de darmos uma guinada positiva no esforço para frear a crise climática que ameaça nossa espécie →
PSOL pede inconstitucionalidade de lei que fragiliza o licenciamento ambiental no ES
Para o partido, as mudanças no licenciamento estadual não estão previstas na legislação federal e prejudicam o meio ambiente; lei tirou espaço da sociedade civil nos processos →