Colunas

Governo está reaprendendo lições sobre conservar florestas?

Às vésperas da eleição Dilma anuncia criação de novas UCs e repressão policial ao desmatamento aumentou. Resta saber se é para valer.

1 de outubro de 2014 · 10 anos atrás
  • Paulo Barreto

    Sonha com um mundo sustentável e trabalha para que este desejo se torne realidade na Amazônia. É pesquisador Sênior do Imazon.

Localização das áreas protegidas ao longo da rodovia BR-163. | Clique para ampliar.
Localização das áreas protegidas ao longo da rodovia BR-163. | Clique para ampliar.

Quando o governo brasileiro prometeu asfaltar a rodovia BR-163 que liga Cuiabá no Mato Grosso a Santarém no Pará, o desmatamento começou a subir no entorno da estrada. Para conter o desmatamento, o governo preparou o plano BR-163 sustentável cuja medida principal foi ampliar o número de Unidades de Conservação (UCs) no entorno de alguns dos trechos – especialmente na região de Novo Progresso no Pará.

A criação das Unidades de Conservação e o aumento da fiscalização ajudaram a reduzir o desmatamento drasticamente em 2010 nas áreas protegidas da região (a medição é feita ano a ano, entre agosto do ano anterior até julho do ano em questão, neste caso de agosto de 2009 a julho de 2010). Entretanto, o desmatamento nas áreas protegidas voltou a subir a partir de 2011 e chegou em 2013 em um patamar 266% maior do valor mínimo atingido em 2010.

Esse aumento recente do corte de florestas coincidiu com o avanço do asfaltamento da estrada e com medidas tomadas pelo Executivo e pelo Congresso para enfraquecer a proteção, especificamente: 1- a redução de Unidades de Conservação nesta região para facilitar o licenciamento da construção de hidrelétricas; 2- a anistia de parte do desmatamento ilegal aprovada pelo Executivo e o Congresso; e 3- negociações do atual governo para reduzir o território da Floresta Nacional de Jamanxim para atender a pressão de ocupantes.

Como tem ocorrido na última década, o descontrole do desmatamento chamou a atenção de setores da sociedade brasileira e de parte da comunidade internacional. Várias reportagens trataram do assunto em um contexto de maior percepção de problemas ambientais como a seca em São Paulo, o estado mais populoso e rico do país. O fato do Brasil não ter participado do acordo internacional para zerar o desmatamento até 2030 expôs ainda mais o baixo interesse deste governo pelo tema florestal.

Taxa anual de desmatamento (km2) em áreas protegidas em uma faixa de 50 km ao longo da rodovia BR-163

Felizmente, as críticas parecem estar fazendo o governo reaprender as lições sobre o controle do desmatamento. Em agosto último, a Polícia Federal prendeu membros de uma quadrilha especializada em vender terras públicas ocupadas ilegalmente no entorno da BR-163, em Novo Progresso. Além de crimes ambientais, os membros do grupo estão sendo acusados, entre outros, de participação em grupo de furto, lavagem de dinheiro e trabalho para organização criminosa. Esta estratégia é essencial pois as penas para os outros crimes associados aos crimes ambientais são mais severas.

E ontem (30 de setembro), o governo Dilma anunciou que criará novas Unidades de Conservação no país, incluindo três na Amazônia. Segundo o site Amazônia Real, a decisão seria resultado do desconforto do governo com reportagens que relataram que Dilma até agora não criou áreas protegidas na Amazônia.

Enfim, o governo parece estar aprendendo que a destruição florestal incomoda e que é necessário aplicar as medidas já testadas para conter o desmatamento. Tomara que as lições sejam incorporadas de forma permanente pelo governo, e não somente às vésperas de eleições.

 

 

Leia também
Uma análise dos programas de Campos, Dilma e Aécio Neves
Desmatamento na Amazônia: o governo perdeu a disciplina
Conservação para o Banco Mundial Ver

 

 

 

Leia também

Reportagens
26 de abril de 2024

Número de portos no Tapajós dobrou em 10 anos sob suspeitas de irregularidades no licenciamento

Estudo realizado pela organização Terra de Direitos revela que, dos 27 portos em operação no Tapajós, apenas cinco possuem a documentação completa do processo de licenciamento ambiental.

Notícias
26 de abril de 2024

Protocolo estabelece compromissos para criação de gado no Cerrado

Iniciativa já conta com adesão dos três maiores frigoríficos no Brasil, além de gigantes do varejo como Grupo Pão de Açúcar, Carrefour Brasil e McDonalds

Notícias
26 de abril de 2024

Com quase 50 dias de atraso, Comissão de Meio Ambiente da Câmara volta a funcionar

Colegiado será presidido pelo deputado Rafael Prudente (MDB-DF), escolhido após longa indefinição do MDB; Comissão de Desenvolvimento Urbano também elege presidente

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.