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Novas estradas põem em risco o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses

O asfalto vai chegar mais perto e, para que não cause grandes estragos, é preciso de medidas que garantam o turismo sustentável, em vez de mais invasões

26 de julho de 2016 · 8 anos atrás
  • Maria Tereza Jorge Pádua

    Engenheira agrônoma, membro do Conselho da Associação O Eco, membro do Conselho da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Nat...

A flora se destaca em uma bela lagoa azul nos Lençóis Maranhenses. Foto: Leandro Do Nascimento
A flora se destaca em uma bela lagoa azul nos Lençóis Maranhenses. Foto: Leandro Do Nascimento

Paulo Nogueira Neto sempre me disse que o Parque Nacional mais espetacular do Brasil é o dos Lençóis Maranhenses, no estado do Maranhão, estabelecido em 1981, com uma área de 155 mil hectares. Além da extraordinária paisagem de suas extensas dunas de areia branca lembrando lençóis, esse parque guarda espécies de três biomas: Amazônia, Cerrado e Caatinga, contendo restingas, mangues, lagoas e praias. E único com estas características no Brasil e, quiçá, no mundo.

Uma notícia recente, publicada em jornal conhecido, disse mais ou menos o seguinte: “se você receia pelo futuro do parque visite-o o quanto antes”. A matéria se referia a dois acessos que serão asfaltados e chegarão aos povoados próximos de Santo Amaro do Maranhão e Barreirinha. Já existem milhares de pessoas vivendo irregularmente dentro do parque e as margens das novas estradas incentivarão novas ocupações. Ou seja, os acessos aumentam sem que se ataque o problema principal: a falta de regularização fundiária na região e dentro do Parque. Por isso, o gestor do Parque Nacional me repetiu as mesmas palavras – “visite-o agora”.

Uma das joias mais espetaculares do sistema brasileiro pode ser novamente mastigada, devorada, “comida”, termo usado por Fernando Fernandez, em detrimento das gerações futuras ou das nossas crianças de hoje, que porventura venham a gostar desta “esquisitice” chamada Parque Nacional.

lagoas naturais. Foto: Patrick Emin
Lagos naturais. Foto: Patrick Emin

O quanto os novos acessos ou estradas que unem Maranhão à Paraíba, ou Barreirinha a São Luiz, contribuirão para a implementação ou para a destruição do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses depende das normas estabelecidas, e se serão ou não obedecidas. Nenhuma das duas estradas previstas corta o Parque Nacional. A mais “perigosa” delas chegará ao povoado de Santo Amaro do Maranhão. A outra passará a mais de 30 km de distância. Estradas asfaltadas aumentam o conforto para visitar os atrativos da região. É preciso que se tomem providências como criar estacionamentos externos, cuidar das áreas de preservação permanente e exigir que os cursos de água não sejam interrompidos. O ICMBio deve exigi-las.

Para propiciar tal acesso e aumento expressivo de visitação pública, é necessário também que o Parque dos Lençóis aumente seu efetivo. Hoje existem 4 funcionários no campo para guardar esta joia, enquanto seu plano de manejo prevê mais de cem funcionários.

Como sempre, almeja-se o “ desenvolvimento do turismo” sem as medidas fundamentais de implementação do Parque Nacional, fato comum no Sistema Brasileiro de Unidades de Conservação. O país se orgulha em divulgar que possui 320 áreas protegidas federais e outras 300 estaduais, mas se esquece do básico: é preciso que elas sejam bem manejadas para que tenham alguma esperança de futuro. Do jeito que estão, vamos perdê-las, cedo ou tarde.

Quando este Parque Nacional foi criado existiam em seu interior 140 famílias. O turismo desordenado e sem controle atraiu 7 mil pessoas para os seus limites ou para o seu interior. O que era uma pequeníssima vila é hoje o município que mais cresce na região — Santo Amaro. Até dejetos de porco são encontrados nas lagoas do Parque Nacional. Quem sabe o ministro de meio ambiente atual fara algo para salvar esta maravilha da natureza, única no mundo?

Os Parques Nacionais não são do ICMBio. São bens de uso comum do povo brasileiro. O ICMBio deve conservar essas áreas precisamente para o povo brasileiro. Assim os Parques Nacionais deveriam ser entendidos, e não como fazendas abandonadas à própria sorte. Eles são fundamentais para a preservação da biodiversidade e para ajudar a prover os serviços ambientais tão necessários à nossa qualidade de vida. São ainda essenciais para melhorar as oportunidades de progresso dos povoados do seu entorno.

Lagoa natural nos Lençóis Maranhenses. Os degraus cuidadosamente esculpidos pelo vento na areia. Foto: Leandro do Nascimento
Lagoa natural nos Lençóis Maranhenses. Os degraus cuidadosamente esculpidos pelo vento na areia. Foto: Leandro do Nascimento

 

*editado em 28.07.16

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Comentários 21

  1. Ana Bittencourt diz:

    Estes LENÇÓIS MAGNÍFICOS estão na geografia do Brasil.
    Obrigada Gaia!


  2. felipe diz:

    ah fala serio… esse modelo de ucs parna esta falido por favor… ocupaçao desordenada? cade as resex e flonas? cade os assentamentos rurais para abrigar essa turma? que papo mais snob esse desta autora… ate parece que parna eh so para quem tem grana para visitar o recurso e se hospedar num super hotel luxuoso. muito ruim a reportagem.


  3. maria tereza diz:

    QUE Depoimento importante este seu. Muito obrigada pelos significativos aportes. Eu so quis ver se alguem do MMA se importaria com o assunto atraves de uma curta coluna neste nosso meio da midia. Se voce quiser escrever algo no OECO poderemos solicitar ao editor Eduardo Pegurier, pois o assunto e de extrema importancia para o Parque Nacional, que queremos todos pelo visto salvar.


  4. Barreirinhas diz:

    O problema é muito maior
    Fomos no Ministério Publico e a informação é a de que a secretaria de meio ambiente do estado do Maranhão licenciou a obra.
    OS PROBLEMAS ALEM DO QUE FOI DESCRITO NESTA MATÉRIA SÃO MUITO MAIORES QUE O IMAGINÁVEL.
    Em primeiro lugar temos a estrada que interliga Barreirinhas e Paulino Neves. esta estrada esta interrompendo um corredor ecológico milenar entre a lagoa da Taboa e a APA dos Pequenos Lençóis Maranhenses. Neste corredor temos um transito continuo de vários animais silvestres entre os quais temos a tartaruga pininga endêmica dos Lençóis.
    O soterramento da região Lagunar da APA dos Pequenos Lençóis Maranhenses.
    A construção das torres justamente na região da APA da Foz do Rio Preguiças. A dinâmica da região totalmente modificada naturalmente com o deslocamento natural da Foz do Morro do Boi para a atual conhecida como Praia do Atins região do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
    com a construção do cinturão de torres eólicas na região da Planície de deflação eólica onde a deriva de areia determina toda direção e formação das dunas da região da APA da Foz do Rio Preguiças e a APA dos Pequenos Lençóis Maranhenses
    Mudança das rotas de aves migratórias justamente nesta região onde existem vários ninhais.
    A descaracterização do cenário natural onde existe um grande Turismo segmentado como Ecoturismo e Turismo de Aventura único no mundo com área de transição amazônica, cerrado e restinga com campos de dunas mar rios, lagoas e lagunas em menos de 30km de percurso.
    Grande impacto com a facilidade de deslocamento para o ambiente natural sem o minimo planejamento.
    A especulação mobiliária na região da APA dos Pequenos Lençóis Maranhenses.
    Como podemos acreditar que esta obra gigantesca esta de acordo com a preservação das APAS. E se não existisse as Área de Preservação Ambiental? Como seria esta catástrofe?
    Tudo pelo desenvolvimento nada sustentável.
    Do que adianta este desenvolvimento se estão destruindo um ambiente singular em todo mundo. Todo continente nordestino esta tomado com estas usinas eólicas muitas delas sem continuidade na interligação com as outras redes de energia.
    Estamos diante do maior crime ambiental no estado do Maranhão e nada foi feito pelo menos na revisão destes absurdos no interior das Áreas de preservação Ambiental.
    Barreirinhas esta se transformando num péssimo exemplo de cuidado com os ambientes naturais.
    .


  5. maria tereza diz:

    DANIEL,
    OBRIGADA PELOS COMENTARIOS, MAS SE ESTE PARQUE EXISTE E TAMBEM PORQUE FOI PROPOSTO POR MIM E POR MINHA EQUIPE QUANDO EU ERA DIRETORA. NAO DESPREZE TANTO QUEM VOCE SEQUER SABE QUEM E.


    1. Ralph Neder diz:

      Deu uma #carteirada, mas não esclareceu as informações discrepantes apontadas pelo colega comentárista…


      1. Alexandre diz:

        Nossa, há um enorme esclarecimento a fazer:

        Não é Paraíba, é ParNaíba.

        Com certeza, tal erro imperdoável é o suficiente para desqualificar toda a coluna e o trabalho de uma pessoa…


      2. Everardo diz:

        A carteirada dela é sempre recorrente aqui no Eco. Qualquer comentário contrário nas matérias, ela a tira do bolso.
        P.S. E esse caps lock que não desliga? Que coisa ruim de ler…


        1. Alexandre diz:

          O cara falou que ela não sabe nada sobre o parque (com argumentos pobres, diga-se de passagem) e ela respondeu que ajudou a criar o tal parque quando diretora, portanto, sabe sim sobre o parque. Não é carteirada, é pertinente para rebater a desqualificação dirigida a ela sobre o parque. E daí se ela errou um ou outro detalhe sobre localização? As pessoas falham tb, normal. Mas o Daniel em nada acrescentou ou argumentou, apenas tentou desqualificar a colunista por conta de detalhes sem nenhuma importância para o argumento central do tema.


        2. Maria terexa diz:

          Oi ponho cape porque tenho problemas sérios de visao


  6. Daniel Martins diz:

    A matéria é pertinente e condiz, em termos, com a realidade. Mas desculpe, está confusa. Pessimamente redigida. Parece ter sido feita por alguém que ouviu falar sabe onde, sei lá de que. Confundindo localidades, regiões e até mesmo Estados. Esclarecendo: a cidade portão de entrada para os Lençóis é "Barreirinhas", A estrada principal deverá passar à mais de 30KM do parque nacional, proximo ao município de Paulino Neves que sequer é citado na reportagem. Me parece bem distante. Realmente a única estrada preocupante é a que tem como destino à cidade de Santo Amaro. Exatamente pela proximidade do município com as lagoas do parque. Mas neste ponto temos outro problema que diz respeito a necessidades de deslocamente e ao isolamente daquela comunidade em detrimento á conservação. Coisas que quem está distante e olha de longe não entende realmente.

    Pra finalizar: a principal estrada em questão liga a cidade de Barreirinhas à cidade de Parnaíba, no Piauí. Estamos bem longe, mas bem longe da Paraíba.


    1. Alexandre diz:

      Nossa, cara! Vc é entendido mesmo, hein ? conseguiu achar um erro entre "Paraíba" e "Parnaíba". Estou muito impressionado com o seu conhecimento… Depois vou querer um autógrafo.


      1. Sandra Lapaz diz:

        Está acontecendo a mesma coisa que na época da colonização,os gringos pagam com o dólar deles nosso mingau,e o povo,Sem condições de nada,permite e quem pode e tem conhecimento de causa se cala por causa do dinheiro que entra por fora….


  7. maria tereza diz:

  8. maria tereza diz:

    PRECISO SER MAIS CRA. QUANDO ESTE PARQUE NACIONAL FOI CRIADO EXISTIAM EM SEU INTERIOR 140 FAMILIAS. O TURISMO DESORDENADO E SEM CONTROLE ATRAIU 7.000PESSOAS PARA OS LIMITERS OU PATRA O INTERIOR DO PARQUE NACIONAL. O QUE ERA UMA PEQUENISSIMA VILA E HOJE O MUNICIPIO QUYE MAIS CRESCE NA REGIAO-SANTO AMARO. ATE FEZES DE PROCO SAO ENCONTRADAS NAS LOGOAS DO PARQUE NACIONAL. QUEM SABE O MINISTRO DE MEIO AMBIENTE ATUAL FARA ALGO PARA SALVAR ESTA MARAVILHA DA NATUREZA, UNICA NO MUNDO??


  9. paulo diz:

    E os governos dormem zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.


    1. maria tereza diz:

      E mesmo e parece que nada adianta. fazemos nosso papel e nunca recebemos respostas efetivas de nossas denuncias e pereceres


  10. Andreia diz:

    Boa reportagem! Os parques, assim como as demais UCs, estão cada vez mais abandonados à própria sorte, cor recursos cortados, sem infraestrutura, sofrendo pressões de todos os lados! Isso sim deveria ser divulgado sempre: como o governo Brasileiro (qualquer que seja) trata as questões ambientais.
    Ótimo não ficar sembre divulgando que o que deveria ser feito é liberar e incentivar cada vez mais a visitação nos parques Brasileiros, que não tem estrutura mínima para receber esta visitação de forma adequada e a não causar impactos. Falar que os parques e outros não tem estrutura pra isso quase ninguém fala! Isso sem contar a falta de estrutura geral, para tudo, não só para a questão do uso público!!!


    1. José Martins Santos diz:

      Andreia, gostaria de saber como faz pra visitar o Parque da Bocaina. Obrigado.


  11. Volta PR.PR diz:

    "Hoje existem 4 funcionários no campo para guardar esta joia, enquanto seu plano de manejo prevê mais de cem funcionários." Daí se percebe a seriedade da gestão ambiental brasileira. Esse plano de manejo deve ser mesmo uma "beleza". 100! Cem! CEM pessoas pra gerir uma UC! Isso é uma brincadeira!


  12. Gisele UbatubaSP diz:

    Prezada Profa. Maria Tereza, vc não acha que já passou da hora de acabar com o ICMBIO (nunca engrenou) e começar de novo o modelo de gestão das UCS, com outro órgão inclusive, seja o tão falado "IBUC" ou outro que seja? Obrigada