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Sabiá, a ave símbolo… do quê?

O sabiá, que existe até na Suécia, não merece ser a ave-símbolo do Brasil. A ararajuba sim, só existe aqui e ainda por cima tem penas amarelas e verdes.

6 de outubro de 2005 · 19 anos atrás
  • Maria Tereza Jorge Pádua

    Engenheira agrônoma, membro do Conselho da Associação O Eco, membro do Conselho da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Nat...

O esplêndido quetzal é a ave nacional da Guatemala, o  imponente condor é a ave nacional do Chile e o vistoso galo da serra é a ave nacional do Peru. Quase todos os países do mundo têm aves nacionais belas ou muito significantes para seus cidadãos. Dentre as poucas exceções está o nosso Brasil.  E, isso é muito raro, pois o Brasil, que em geral se vangloria com toda classe de superlativos, dentre os quais são comuns o “mais belo” e o “maior”, poderia ter mantido sua norma escolhendo uma ave magnífica e, também, 100% nacional. Certamente que o sabiá não é belo nem imponente e, pior ainda, tampouco parece ser significativo em qualquer aspecto especial. Ou me equivoco?

O sabiá laranjeira, ademais de feio e vulgar, é um perfeito canalha. Pelos seus hábitos é prepotente, arrogante e invasor consuetudinário dos territórios alheios. Reúne muitas das características dos membros do PT majoritário e, claro, do MST. Bem pensado, o sabiá é sim, um perfeito símbolo do partido governante. Mas, não é um símbolo do Brasil. Além de mais, o sabiá nem é realmente brasileiro. Existe nos países vizinhos e seus primos da Europa e da Ásia são escuros habitantes do mundo, infiltrados ilegalmente em muitos países, sem passaporte nem emprego garantido antes de sua chegada.

Esta ave pertence à família Turdidae, que é de origem oriental e que tem mais de 300 espécies, algumas delas bem adaptadas por estas bandas. Dois países europeus têm membros da família como sua ave símbolo: Suécia e Malta. Suécia, a pobre, não se distingue pela diversidade, nem a cor das suas aves e a Malta, aparte de seus famosos cavalheiros de outrora, é apenas uma rocha no mar onde até o sabiá é possivelmente uma das poucas formas de vida que sobreviveu à sua conturbada história. Ornitófilos de gostos distorcidos, em especial de São Paulo, com a ajuda de Johan Dalgas Frisch, que não se destacou pelo seu sentido estético neste assunto, conseguiram, não obstante a oposição de ornitólogos e ambientalistas, transformar o sabiá como  símbolo do país, em detrimento da ararajuba, proposta por cientistas e ambientalistas.

Talvez os legisladores, já inspirados por Gonçalves Dias nos seus famosos versos – Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá – ou pelo canto que lhe deu os nomes vulgares, ou ainda pelo desprezo ou preguiça de se escolher e promover uma ave exclusiva do Brasil, tenham escolhido a proposta mais vulgar e conhecida.

Muitos especialistas e ambientalistas lutaram para que vencesse a ararajuba, espécie ameaçada de extinção e bem bandeirosa: amarela e verde. Além de ter as cores nacionais a ararajuba é endêmica do Brasil e ocorre desde o Maranhão (de onde Gonçalves Dias deve ter se inspirado em uma ave também conhecida como sabiá, mas da família Mimidae, esta sim brasileira) até o Estado do Pará, no rio Tapajós. Mas a ararajuba é uma ave pouco conhecida, em termos populares, por ser amazônica e não ocorrer, portanto no sudeste, berço da infeliz idéia do sabiá como ave símbolo. Como o sabiá laranjeira se distribui até aos países vizinhos como Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai, talvez seus promotores quisessem também promover nossos “hermanos”. Mas, eles que escolheram muito bem as suas próprias aves nacionais não vão aceitar a lisonja.

A ararajuba também tem seu nome derivado do Tupi que significa “arara amarela”. Sua distribuição é muito restrita e é uma ave pouco comum. A beleza desta pequena arara é bem mais expressiva que as formas rudes do sabiá laranjeira, mas sendo rara poucos a viram, mesmo em zoológicos.

Mas como em nosso país têm prevalecido os símbolos bregas e grotescos, em especial o vermelho e, levando-se em conta que o pentelho do sabiá laranjeira tem um vermelho amarronzado na barriga, resta nos conformar em termos uma ave símbolo  compartilhada com quase todo o mundo oriental e americano. Ela é apropriadamente vulgar, o que nestes dias é politicamente correto.

A outra solução é de se mudar a legislação, o que não é fácil nestes tempos de populismos e CPIs, através de pedidos de organizações da sociedade civil ou do Partido Verde, que de repente pode ter mais sensibilidade para o assunto. A enquête feita, onde venceu o sabiá laranjeira, foi uma farsa tão tendenciosa como a do plebiscito atual sobre comércio de armas,  pois duvido que os que votaram tivessem sido bem informados sobre a ararajuba ou qualquer outra esplêndida ave realmente brasileira.

Além do mais julgo que nosso grande ornitólogo já falecido, Helmut Sick, que tanto lutou em toda sua vida para que os brasileiros conhecessem e protegessem sua avifauna, e que tinha proposto que a ararajuba fosse a ave símbolo do Brasil, bem mereceria essa homenagem póstuma.

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Comentários 2

  1. Alice diz:

    Desejo terapia e muito estudo, que colocação infeliz!
    Abraço.


  2. Lucio diz:

    Acredito sinceramente qje você não tenha a visão necessaria para avaliar nem a ave, nem a sua importancia e muito menos seu significado. Ao invés disso preferiu denegrir a imagem do sabiá, por um motivo no minimo insignificante. Um Mero "titulo" que não serve pra nada. Mas veja o lado bom, voce tem um grande aprendizado pela frente!!! Sucesso!!