Salada Verde

CSN é multada em 35 milhões por terreno contaminado

Companhia doou terreno para a construção de casas de funcionários, em 1988. Famílias viviam em cima do antigo lixão da siderúrgica.

Daniele Bragança ·
8 de abril de 2013 · 11 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente
Acima, a CSN em Volta Redonda. Siderúrgica pagará 35 milhões por crime ambiental. Foto: Natto Motta/Skyscrapercity.
Acima, a CSN em Volta Redonda. Siderúrgica pagará 35 milhões por crime ambiental. Foto: Natto Motta/Skyscrapercity.

Acusada de doar terreno contaminado com substâncias químicas para a construção de casas para funcionários, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) foi multada em 35 milhões de reais pela Secretaria de Ambiente do Estado do Rio de Janeiro. O valor da multa foi anunciado pelo secretário Carlos Minc, em entrevista coletiva realizada na tarde desta segunda-feira (08). 

A empresa tem até 7 dias para analisar a condição de saúde dos 750 moradores do Condomínio Volta Grande IV, em Volta Redonda. Além de pagar pelo custo de possíveis tratamentos médicos, em caso de doença dos moradores, a CSN tem prazo de 30 dias para arcar com a descontaminação do solo e da água. A empresa também será notificada sobre o dever de apresentar em 15 dias um plano de realocação das famílias.

“Caso apareça alguma pessoa contaminada, a multa deve chegar a R$ 50 milhões, que é o máximo previsto pela legislação estadual”, afirmou Minc. “O drama maior é o drama humano. Essas famílias, além de terem suas condições de saúde avaliadas e o tratamento devido quando for o caso, também deverão ter indenizações fixadas pela Justiça”.

Em 1988, a CSN doou o local para o Sindicato dos Metalúrgicos. Anteriormente, a área era usada como depósito de lixo da siderúrgica, onde eram colocados toneladas de resíduos industriais.

Amostras do solo revelaram a presença de pelo menos 20 substâncias tóxicas ou cancerígenas no local em concentrações até 90 vezes acima ao valor máximo permitido, caso da bifenila policlorada, hoje proibida no Brasil. A contaminação também envolveu substâncias como antimônio, bário, cádmio, chumbo, cromo, níquel e zinco e benzeno.

Na quinta-feira da semana passada (04), Carlos Minc pediu a retirada imediata dos moradores no terreno, chegando a mencionar que as famílias vivem em cima de um “coquetel de lixo químico”.

De acordo com o laudo divulgado pela Secretaria de Ambiente, pelo menos 90% das casas do Condomínio Volta Grande IV fizeram escavações nos seus terrenos. Por desconhecer a situação, 13% das famílias plantaram árvores frutíferas e hortaliças no quintal, que podem estar contaminadas.

Suspeita antiga

Em 2004, houve suspeita de vazamento de resíduos da CSN em uma área próxima ao Condomínio Volta Grande VI, onde a siderúrgica descarregava resíduos antes de armazená-los.

A investigação sobre a contaminação do terreno foi iniciada pelo Ministério Público Federal em Volta Redonda (RJ), que moveu em 2012 ação civil pública contra a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por danos ao meio ambiente e à saúde da população. A empresa Nickol do Brasil Ltda elaborou um estudo técnico, que foi complementado por outros estudos e validado por técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Segundo o Inea, a validação terminou em março.

Como a ação civil pública já tramita na 3ª Vara Cível de Volta Redonda, outras punições, como multas e prisão, podem ser determinadas pela Justiça com base na lei de crimes ambientais.

  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

Leia também

Notícias
24 de abril de 2024

Na abertura do Acampamento Terra Livre, indígenas divulgam carta de reivindicações

Endereçado aos Três Poderes, documento assinado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e organizações regionais cita 25 “exigências e urgências” do movimento

Reportagens
24 de abril de 2024

Gilmar suspende processos e propõe ‘mediação’ sobre ‘marco temporal’

Ministro do STF desagrada movimento indígena durante sua maior mobilização, em Brasília. Temor é que se abram mais brechas para novas restrições aos direitos dos povos originários

Notícias
24 de abril de 2024

Cientistas descobrem nova espécie de jiboia na Mata Atlântica

A partir de análises moleculares e anatômicas, pesquisadores reconhecem que jiboia da Mata Atlântica é diferente das outras, e animal ganha status de espécie própria: a jiboia-atlântica

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.