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Estiagem no RS causa prejuízo milionário

Devido ao fenômeno climático La Niña, os efeitos da estiagem, sentidos desde agosto de 2010, estão se agravando durante este verão. Veja infográfico.

Redação ((o))eco ·
27 de janeiro de 2011 · 13 anos atrás
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Com falta de chuvas, o milho não está nascendo no Rio Grande do Sul. Prejuízos podem chegar a 100 milhões de reais (foto: Ezequiel Ávila da Silva)
Com falta de chuvas, o milho não está nascendo no Rio Grande do Sul. Prejuízos podem chegar a 100 milhões de reais (foto: Ezequiel Ávila da Silva)
Porto Alegre – A região sul do Rio Grande do Sul e toda a zona de fronteira com o Uruguai estão sofrendo com a falta de chuva devido ao fenômeno climático La Niña (veja Box explicativo). Os efeitos da estiagem, sentidos desde agosto de 2010, estão se agravando durante este verão e causando prejuízos que já somam R$ 30 milhões. Essa situação fez com que a Defesa Civil decretasse estado de emergência para 13 cidades do RS: Candiota, Pedras Altas, Herval, Hulha Negra, Cerrito, Santana do Livramento, Lavras do Sul, Pedro Osório, Bagé, Pinheiro Machado, Aceguá, Piratini e Dom Pedrito.

Entenda o fenômeno La Niña

A La Niña representa um fenômeno oceânico-atmosférico que se caracteriza por um esfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical, na porção da costa oeste da América do Sul. Esse esfriamento das águas está relacionado à intensificação dos ventos alísios (que ocorrem entre os trópicos e o Equador), os quais se movimentam de sudeste para noroeste no Hemisfério Sul. A força dos alísios “empurra” as camadas superficiais de água do Pacífico para oeste, permitindo com que as águas profundas, mais frias, subam até a superfície (fenômeno denominado de ressurgência). Assim, o lado oeste do Pacífico recebe as águas superficiais quentes, que facilitam a evaporação e causam chuvas na região da Indonésia e Austrália, por exemplo. Já o lado leste do oceano torna-se mais frio que o normal, dificultando a evaporação de água e, assim, a formação de nuvens para chuva. As conseqüências da La Niña na América do Sul são sentidas no Rio Grande do Sul, que sofre com a escassez de precipitação.

De acordo com Erone Londero, gerente regional da Emater/RS (Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural) em Bagé, os prejuízos tendem a ultrapassar os R$ 100 milhões, embora ainda não haja uma estimativa oficial. Por enquanto, o que se sabe é que a produção de leite, o cultivo de soja, milho e sorgo e a pecuária de corte estão entre os mais afetados pela seca na região sul. “Percebe-se grande perda, principalmente nas pequenas propriedades. As grandes estão sendo prejudicadas em menor escala. Para ter uma noção, alguns produtores familiares nem plantaram o milho ano passado, pela falta de umidade no solo. Os que plantaram, já perderam quase 50%”, conta.

A professora do departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Eliana Lima da Fonseca, também garante que é o pequeno produtor o maior prejudicado. “O produtor familiar depende do milho para o consumo pessoal, para a alimentação dos animais e silagem (estocagem para o inverno). Diferente dos produtores de suínos e aves, não tem a opção da ração que é fornecida pelas empresas que compram a produção”.

Além dos problemas atuais, a Emater/RS já prevê perdas futuras em decorrência dessa estiagem. Londero explica que agora inicia o período de cio das vacas, mas, por escassez de alimentos e, consequentemente, de força, muitas não conseguirão ficar prenhas. “Sabemos que na próxima primavera, quando as vacas darão a luz, teremos um número reduzido de terneiros. Logo, mais prejuízos na pecuária de corte”, afirma.

A falta de pasto para o gado na metade sul do RS deve-se ao fato de o campo utilizado como pastagem geralmente estar associado a solos rasos que retém pouca umidade. “Assim os efeitos da ausência de precipitação pluvial são fortemente sentidos pela vegetação campestre que é utilizada como suporte forrageiro para os animais”, garante Eliana.

A subsistência das famílias que residem em assentamentos também já está comprometida, já que começam a faltar alimentos básicos, como a batata. Londero assegura que a Emater/RS já está trabalhando junto às prefeituras, sindicatos, governos estadual e federal para buscar recursos e auxílio aos mais de 5 mil pequenos produtores atingidos pela seca. (Flávia Moraes)

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