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Marina Silva: “O povo sabe o que quer, mas também quer o que não sabe”

A ex-ministra e duas vezes candidata à presidência defendeu seu legado e disse que eleitores estão maduros para eleger um governo que se importe com a natureza.

Eduardo Pegurier · Marcio Isensee e Sá ·
28 de setembro de 2015 · 9 anos atrás
A ex-ministra do Meio Ambiente e duas vezes candidata à presidência Marina Silva em entrevista exclusiva ao ((o))eco no VIII CBUC Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Foto: Adalberto Rodrigues

A ex-ministra do meio ambiente e duas vezes candidata à presidência Marina Silva foi uma das grandes atrações de VIII CBUC. A expectativa só aumentou depois da sua participação ser adiada em dois dias, pois na mesma semana do congresso o Rede Sustentabilidade, partido que ela criou, conseguiu seu registro para participar das próximas eleições. Isso moveu de imediato o jogo político e levou à filiação do deputado Miro Teixeira, que deixou o Pros, e do deputado Alessandro Molon, que se desligou do PT. O senador do Amapá Randolfe Rodrigues também parece estar de malas prontas para deixar o PSOL e entrar na Rede, assim como outro destaque do PSOL, a ex-senadora e atual vereadora por Maceió, Heloísa Helena.

Com a Rede aprovada e o voo na sua direção de lideranças políticas importantes e desvinculadas dos recentes escândalos de corrupção, não há dúvida de que o potencial para uma terceira candidatura de Marina à presidência cresce de novo.

E foi com essa vibração em torno de sua presença, que Marina Silva concedeu uma entrevista exclusiva a ((o))eco. Nela, ela defendeu seu legado durante a passagem pelo Ministério do Meio Ambiente, entre 2003 e 2008, quando foi responsável pela criação de 62 das 77 unidades de conservação criadas durante os dois governos Lula. “Em governos passados, eram criadas UCs em áreas remotas, onde não havia conflitos. Priorizamos a criação de unidades de conservação em locais onde havia mais ameaças à biodiversidade”, disse. “Criamos mais de 20 milhões de hectares em UCs. Se comparado ao que houve depois que saí, é muita coisa”.

Marina lembrou o verso de Gilberto Gil, dizendo que o povo sabe o quer, mas também quer o que não sabe. Pensa que a emergência criada pela seca em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro está acordando as pessoas para o risco de desprezar a conservação. E que essa percepção também vai penetrar na política.

Ela defendeu que todos os biomas são prioritários. Na sua passagem pelo MMA, “sobressaiu a questão da Amazônia, porque em 2004 o desmatamento chegou a 27 mil quilômetros quadrados, e algo precisava ser feito”. Mas com a queda em cerca de 80% do desmatamento na Amazônia, afirma que está na hora de olhar para biomas fragilizados e que não “têm tanto apelo”. Citou o Pampa e enfatizou a urgência em proteger o Cerrado, onde, segunda ela, parece que descontamos em destruição aquilo que protegemos na Amazônia ou no Pantanal.

Marina não se furtou em defender com firmeza o desmembramento do Ibama para criar o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Dentro da comunidade ambiental, esta foi sua decisão mais polêmica.

“A decisão de criar o ICMBio foi completamente acertada, assim como criar o Serviço Florestal Brasileiro”. E arrematou: “Somos um país que tem 60% do seu território ainda coberto por florestas. Como é que nós não criamos as estruturas compatíveis com toda essa riqueza que temos”.

Confira abaixo o vídeo com a entrevista completa.

 

 

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  • Eduardo Pegurier

    Mestre em Economia, é professor da PUC-Rio e conselheiro de ((o))eco. Faz fé que podemos ser prósperos, justos e proteger a biodiversidade.

  • Marcio Isensee e Sá

    Marcio Isensee e Sá é fotógrafo e videomaker. Seu trabalho foca principalmente na cobertura de questões ambientais no Brasil.

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Comentários 9

  1. PR.PR diz:

    Grande Marina Silva!!! Lúcida, coerente, muito bem articulada, clara nas suas colocações… Sou fã total.
    É muito bom ouvir de uma mulher poderosa frases articuladas, opiniões claras e inteligentes. Estamos precisando.


  2. PR.PR diz:

    Pra esses que, sem a menor noção de nada, ficam xingando e criticando o ótimo ICMBio, que faz um ótimo trabalho com pouquíssima verba e muita abnegação dos seus funcionários: vocês sabem o que significa CBTOT? Não, né! Pois bem, Centro Brasileiro de Triagem para Transplantes de Órgãos. Graças a ele o Brasil é um dos primeiros em transplantes de órgãos na rede pública. Ele funciona muito bem, mesmo que ninguém o conheça. Tal qual o ICMBio. Para as viúvas e críticos sem-noção: vão chorar na caminha que é quentinho.


  3. George diz:

    "enfatizou a urgência em proteger o Cerrado, onde, segunda ela, parece que descontamos em destruição aquilo que protegemos na Amazônia ou no Pantanal."

    Até que enfim um comentário sensato vindo de um político…


  4. S@br@dinh@DF diz:

    Sabem quem é o "senhorio" do ICMBio? O nobre ex-senador cassado Luiz Estevão…mais de meio milhão por mês de aluguel da Sede no bairro chic Sudoeste, em Brasília. Precisava disso dona Marina pra cuidar das UCs?


  5. eco-contribuinte diz:

    ICMBio=sinecura perdulária


  6. Zé Pereira diz:

    Primeiro tem que saber que o órgão existe. Pra que serve (ou não) é outro problema.


  7. Edicarlos diz:

    Se até o Eco até hoje não sabe o significado da sigla ICMBIO, imagina o povão! Ninguém sabe pra que esse órgão existe.


    1. Caro Edicarlos, erro meu na pressa de colocar o vídeo com texto no ar. De fato, no dia a dia acaba-se usando a sigla ICMBio, que é sonora e fácil. Mas isso não é desculpa. Obrigado pelo alerta, Eduardo (editor)


    2. Thiago diz:

      Verdade! Sou voluntário no ICMBio, e quando cito o ICMBio ninguém conhece. A maioria desconhece…