Reportagens

Golfinhos de Ipanema

Estudo inédito sobre a grande população de golfinhos flíper que freqüenta as Ilhas Cagarras, em Ipanema, pode levar à criação de uma área protegida no local.

Hélio Muniz ·
30 de setembro de 2004 · 20 anos atrás

A praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, é famosa por lançar moda. Roupas, gírias, comportamentos, tudo o que vai acontecer nos verões da cidade e do Brasil geralmente começa ali. Por isso, em 2005 podemos ter o Verão dos Golfinhos. É que, pela primeira vez, a grande população de golfinhos flíper que usa as ilhas Cagarras, a 5 quilômetros de Ipanema, está sendo objeto de estudo.

O projeto do grupo de estudo de mamíferos marinhos Ecomama começou em março, mas os primeiros resultados só ficarão prontos no início de 2005. É o primeiro trabalho acadêmico sobre os golfinhos ipanemenses. Eles serão recenseados, identificados individualmente e seu comportamento será avaliado.

O estudo poderá ajudar na criação de um ambiente protegido nas Cagarras. Segundo a bióloga Liliane Lódi, uma de suas coordenadoras, a proximidade das ilhas é boa e ruim para os golfinhos. “Por um lado, é bom as ilhas serem tão próximas, pois isso criará maior interesse na preservação dos animais. Mas também vemos que, nos fins de semana, o arquipélago fica coalhado de barcos e as pessoas molestam os golfinhos”.

O grupo vai de barco todas as sextas-feiras até as ilhas e passa o dia lá, colhendo dados para as três linhas de pesquisa. A mais interessante delas é a identificação individual, que começou este mês. A equipe, de seis pessoas, filma os golfinhos com uma câmera de vídeo e transfere as imagens para um computador. Pelas características, cicatrizes e marcas das nadadeiras dorsais, é possível criar uma espécie de impressão digital de cada um, de modo similar ao que se faz com as baleias francas. Liliane explica que alguns já aparecem para eles há quase um ano. “Há também muitos filhotes com os grupos. Isso é um dado interessante, sinal de que a comunidade está se renovando”, diz.

<Estudar cetáceos é muito difícil. São animais que expõem apenas 1/3 do corpo ao sair da água, além de se movimentarem muito e terem vida longa. Um golfinho flíper chega a viver mais de 60 anos. “Para você ter uma idéia, um grupo de especialistas americanos estuda uma comunidade de golfinhos flíper na Flórida há mais de 40 anos. Eles já conseguiram traçar até as árvores genealógicas dos animais. Nós aqui estamos no começo”, diz Liliane.

A idéia do Ecomama é conseguir apoio da Prefeitura (afinal, os golfinhos são o símbolo do município) para conseguir algum financiamento para as pesquisas, que podem ajudar a preservar a região. “Os Jogos Pan-americanos estão aí, a comunidade internacional vai olhar para o Rio com cuidado. Seria legal que um projeto como esse, pioneiro na região, fosse apoiado”, defende a bióloga, que já tem o apoio da fundação americana Project Aware, mas afirma que os recursos são insuficientes.

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