Reportagens

Ecoturismo chega a aldeia do Suriname

Iniciativa da Conservation International resulta em pesquisas científicas que beneficiarão indígenas e conservação da biodiversidade no Suriname.

Rachael van der Kooye ·
22 de março de 2012 · 12 anos atrás

Vista panorâmica da aldeia dos Kwamalasamutu (Crédito: Conservation International)
Vista panorâmica da aldeia dos Kwamalasamutu (Crédito: Conservation International)
 

Trio Kwamalasamutu, aldeia indígena localizada no sudoeste do Suriname, vizinha às áreas de fronteira com a Guiana e Brasil, está fazendo o possível para desenvolver o turismo em sua área de convivência, em parceria com a Conservation International Suriname (CI Suriname). A aldeia, até então isolada, tem cerca de 2 mil habitantes.

É grande e, apesar de tradicionalmente nômade, não pode se mover mais. A única forma de acesso à vila é aérea, num vôo de uma hora e meia partindo de Paramaribo. No passado, os Trio não costumavam viver em grandes números em uma aldeia permanente. Até hoje costumam viajar da reserva natural Sipaliwini ao Brasil para festividades e visitas familiares. A caminhada dura não mais do que um dia. De acordo com Annette Tjon Sie Fat, diretora da CI Suriname, os caminhos são uma atração para o turismo de aventura.

A vila tem vários atrativos turísticos. Novas espécies descobertas pelo Programa de Avaliação Rápida (RAP) em 2010 é um deles. Um grupo de 53 pessoas, dentre eles Trios, estudantes e cientistas locais e internacionais implementou a pesquisa biológica para, entre outros, detectar o que é de valor para o turismo na região. Examinaram a diversidade e o estado de conservação de plantas, peixes, répteis, anfíbios, aves, mamíferos de pequeno e grande porte, formigas, gafanhotos, libélulas, besouros aquáticos e escaravelhos. Cerca de 1.300 espécies, incluindo 46 novas para a ciência foram, encontradas ao longo dos rios Kutari e Sipaliwini. “Esses animais são interessantes para os turistas. Caso contrário, nunca seriam vistos”, diz Tjon Sie Fat.

O objetivo do RAP foi estabelecer uma base de informações para o ecoturismo local e esforços de monitoramento futuros. Liderada pela CI, abrangeu uma área declarada protegida de 18 mil hectares dos Trio de Kwamalasamutu. “Ao documentar a vida selvagem também poderíamos trabalhar com o turismo”, diz Fat. 

Expedição identifica 1.300 espécies na Amazônia do Suriname 

Um livro intitulado “Rápida Avaliação Biológica da Região Kwamalasamutu, Sudoeste do Suriname” foi produzido pelo RAP. “Estamos contentes”, diz Ashongko Alalaparoe, chefe da tribo, “que esta pesquisa de campo tenha sido feita e que agora exista um livro sobre nossa natureza em inglês. Não só sabemos melhor o que temos aqui, mas também os outros poderão ver fotos de nossa natureza e ler sobre ela. Esperamos que ao ler sobre nossa bela natureza as pessoas fiquem curiosas e venham a Kwamalasamutu para vê-la com seus próprios olhos”, diz. A pesquisa também resultou em pôsteres, manual para pesquisa de campo e dois filmes de 10 minutos com instruções de como medir o carbono.

Werephai: atração turística

 

Petroglifo em Werephai. (Crédito: Sirano Zalman)
Petroglifo em Werephai. (Crédito: Sirano Zalman)

Outra atração turística de Kwamalasamutu é Werephai, uma caverna com petróglifos datados de 3000 AC descobertos por Kamainja Panashekung, coordenador local da CI Suriname em 8 de maio de 2000 quando buscava por seu cão. Os Trios já sabiam da existência de Werehpai e desde 1980 procuravam por ela. A região, habitada no período pré-colombiano, fica ao nordeste da área protegida de Kwamalasamutu, ao longo da Eeuku Maripa (rio Maripa) e consiste em uma formação rochosa sobre uma colina de aproximadamente 50 metros de altura, 150 de comprimento e aproximadamente 50 de largura.

Mais de 300 desenhos de figuras humanas e animais do mundo espiritual dos povos ameríndios podem ser vistas nas rochas de granito. Os desenhos na pedra parecem com figuras Maias. Potes, frascos e cacos estão espalhados em algumas partes das cavernas. Acredita-se que as pedras eram usadas como espaço para rituais, moradia ou esconderijo de tribos indígenas do passado.

“Amostras foram retiradas de cacos e pequenas jarras encontradas em Werephai”, diz Chris Healy. “Estas amostras são indícios de rituais, mas também podem ser prova de pessoas vivendo ali”, diz. Healy é um antropólogo que fez a logística de um estudo preliminar em Werephai em 2007 para colher material e documentar os petróglifos de Werephai. “É raro encontrar tantos petroglifos em um mesmo lugar e material para documentá-los. As imagens mais antigas têm mais de 5 mil anos, mas há indícios de outras ainda mais velhas”, diz Healy.

Segundo ele, Werephai é um sítio arqueológico muito adequado para o turismo. “É uma área indígena protegida, mas se receber o status de monumento pode ser incluído na lista de Patrimônio Mundial da Unesco. Com o turismo nessa área é possível gerar renda via monitoramento do parque”.

Os Trios consideram Werephai um lugar sagrado. Por muito tempo não permitiram a entrada de pessoas de fora na área, mas de acordo com Tjon Sie Fat a CI convenceu os indígenas de que a área poderia ser preparada para receber turistas. Um resort foi construído em Iwaana Saamu, que próximo a Kwamalasamutu. Os empregados têm sido treinados para receber turistas e gerir o negócio.

 

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