Reportagens

Valorização do ecoturismo permeou as discussões no Conatus 2013

Durante os 3 dias de evento, temas como uso público de unidades de conservação e ecoturismo foram debatidos por especialistas e público.

Fábio Pellegrini ·
10 de julho de 2013 · 11 anos atrás
Palestrantes e platéia atentas as experiências relatadas. Foto: Fundação Neotrópica
Palestrantes e platéia atentas as experiências relatadas. Foto: Fundação Neotrópica

Em sua terceira edição, o Conatus 2013 teve 434 participantes, chamando a atenção do público pela de troca de experiência com os palestrantes, que trouxeram relatos de Portugal, Costa Rica, México e Argentina, além, claro, dos palestrantes brasileiros que partilharam de sua rica bagagem de vivências.

No fechamento do evento, Miguel Milano, conselheiro honorário da Fundação Neotrópica do Brasil e também colunista de ((o))eco, convidou Marcos Martins Borges, da EcoBrasil, e Renata L. Weiss, do Instituto Semeia, para elencarem os destaques do Conatus 2013.

Marcos Borges ressaltou as experiências dos palestrantes, importantes por valorar a experiência, e que muitas delas mostram que estamos caminhando para a tão desejada e debatida sustentabilidade: “A sustentabilidade plena pode até ser considerada uma utopia, mas hoje nós estamos muito mais sustentáveis nas nossas práticas de turismo do que antes. Há muito mais modelos. E há o modelo numero um, que é Bonito. Apesar de ter ouvido na plateia questionamentos sobre o modelo de turismo de Bonito, ele é único! Tem gente do Brasil inteiro que vem aqui conhecer esse modelo para tentar implementá-lo e não consegue. Então eu diria que 98% dos atrativos turísticos do Brasil não têm um controle tão eficaz se comparado ao voucher único de Bonito. Tem falhas, deve ter, mas nada é perfeito. A sustentabilidade passa por ciclos, então a gente implementa, analisa, revisa e busca sempre melhorar. É o que esta acontecendo aqui”, afirmou.

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Outro tema muito discutido no evento foi a abertura de parques para visitação pública no Brasil. Na avaliação de Marcos, falta cooperação entre os agentes envolvidos para a implementação desse uso: “Estamos sendo muito críticos com nós mesmos, da área do ecoturismo. A abertura de um parque ou a instalação de um restaurante em um parque vai levar mais gente para conhecer e consequentemente gostar do parque, daí tira-se lições. Enquanto outras classes se unem e avançam, nós precisamos parar de apontar o dedo para nós mesmos, precisamos progredir”, defendeu Marcos.

Ao destacar a experiência dos palestrantes como forma de valorizar a ação, Borges relatou sua própria experiência, quando trabalhava com educação ambiental nos anos 80. Ele tinha o costume de remar no rio Araguaia e à época difundia entre os ribeirinhos e turistas a importância de não jogar lixo nas praias do rio. “Me chamavam de louco, que ninguém ai aceitar um sistema para levar o lixo para a cidade, e hoje as praias do Araguaia recebem cerca de 50 mil pessoas que acampam simultaneamente em cerca de 400km de praia e não vemos uma latinha, nada, é tudo separado e levado quase que naturalmente pelas pessoas. Então eu sou um louco que tem sonhos e acho que tudo é possível. A mensagem que deixo é que se todos quisermos, vamos fazer acontecer!”, finalizou a palestra.

Sem medo de errar

Renata pontuou que os gestores e técnicos do ecoturismo não devem ter medo de acertar. Foto: Fabio Pellegrini
Renata pontuou que os gestores e técnicos do ecoturismo não devem ter medo de acertar. Foto: Fabio Pellegrini

Milano questionou Renata L. Weiss, do Instituto Semeia, sobre o que a sociedade deve fazer para continuar acertando no que diz respeito às temáticas do evento – natureza, turismo e sustentabilidade – Renata disse que a sociedade não deve temer o acerto, deve acreditar: “Uma sociedade baseada em valores tende muito mais ao sucesso do que as que ficam seguindo protocolos. Precisamos nos desapegar dos preconceitos” , disse.

De pronto Marcos fez uma menção ao craque da Copa das Confederações: “Neymar foi um sucesso no evento porque não tem medo de apanhar dos zagueiros. Ele sabe que vai apanhar deles durante os jogos, mas se ele não insistisse, ele não faria os gols, ou daria dribles tão surpreendentes como aquele em que passou entre dois mexicanos. Se Neymar tivesse medo não seria o melhor jogador do evento”, finalizou.

Foco na sustentabilidade também do evento

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Em se tratando de um evento que celebrava o uso sustentável do turismo, todo o material de divulgação distribuído entre congressistas e palestrantes foi produzido com material reciclável, incluindo canecas, para não haver incentivo ao uso de copos plásticos. Ao longo do Centro de Convenções de Bonito havia lixeiras para descarte de cada tipo material. Marja Milano, coordenadora do evento, disse que a ideia inicial, quando o evento foi concebido, era promover o contato com a natureza, realizando uma edição em Bonito e outra fora, alternadamente. Esta foi a segunda edição do evento em Bonito, onde os moradores locais tiveram inscrições gratuitas, visando a qualificação das pessoas que vivem na cidade e que trabalhem com o turismo.

Dos trabalhos científicos exibidos em pôsteres, três receberam menção honrosa pela comissão avaliadora:

  • “Trilha Transcarioca”, de Camila Linhares de Rezende, Pedro de Castro da Cunha e Menezes, Celso Junius Santos, Alexandre Marau Pedroso, Ernesto Viveiros de Castro e Claudia Magnanini;
  • “Cama e Café Mulheres de Pedra: uma proposta para o desenvolvimento de turismo de base local”, de Leandro de Araújo Dias e Stella Magaly de Andrade Sousa; e
  • “O papel do turismo de conservação na construção de novos valores ambientais em projetos de pesquisa”, de Oldemar Carvalho Junior, Anderson Souza, Alesandra Bez-Birolo e Gabriela Galastri.

Como resultado imediato dos quatro dias de explanações e debates salutares, foram propostas seis moções que solicitam as instituições competentes o seguinte: dados acerca do impacto ambiental do avanço da soja em Bonito, medidas para evitar o atropelamento de animais nas estradas da região, recuperação e tombamento para visitação da Estrada Boiadeira do município, repúdio à resolução CONAMA que permite a guarda de animais silvestres, implementação de circuitos públicos e maior inserção do turismo de base comunitária em Bonito e a abertura do mergulho em cavernas no Parque Nacional da Serra da Bodoquena. A Fundação Neotropica do Brasil, organizadora do evento, se incumbiu de encaminhar os documentos às autoridades e órgãos que competem os temas.

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