Reportagens

Evaporação na Amazônia, chuva no Sudeste

Gérard Moss conclui projeto Rios Voadores, que estudou a influência da Amazônia no regime de chuvas do sul e sudeste do país. Vazão desses “rios” é maior que a do São Francisco.

Redação ((o))eco ·
18 de março de 2009 · 15 anos atrás
A floresta é um grande fábrica de umidade que pode se transformar em chuvas pelo país. (Foto: Margi Moss)
A floresta é um grande fábrica de umidade que pode se transformar em chuvas pelo país. (Foto: Margi Moss)

O aviador Gérard Moss, que passou um ano e sete meses sobrevoando o céu do país atrás dos “rios voadores” da Amazônia, nuvens com potencial de precipitação que influenciam nas chuvas do sudeste e sul do Brasil, terminou sua viagem. O resultado, apresentado hoje (18), em São Paulo, confirmou o que ele suspeitava: a Floresta Amazônica exerce grande influência nos ciclos pluviais das principais regiões que movimentam a economia do país.

Segundo os dados coletados pelo aviador, a vazão deste “rio imaginário” pode chegar a 3.200 metros cúbicos por segundo (m³/s), mais que a vazão do Rio São Francisco, de 2.800 m³/s, e 27 vezes mais potente que a do Rio Tietê, de 116 m³/s. “Isso dá uma idéia da potência do rio voador. Tal vazão equivale a 115 dias de consumo médio da cidade de São Paulo”, explica.

Os números referem-se apenas à medição realizada entre os dias 10 e 11 de fevereiro deste ano e, segundo Pedro Dias, da Universidade de São Paulo, parceira no projeto, ainda não dá para saber em quantos dias do ano o fenômeno acontece. No entanto, ele é de extrema importância, pois demonstra mais um serviço ambiental gerado pela Amazônia às demais regiões do país.

As mais de mil amostras coletadas por Moss em 12 vôos, entre agosto de 2007 e março deste ano, mostram a quantidade de “água precipitável” que sai da Amazônia e que depende de vários fatores para se tornar chuva. Mas isto é apenas uma questão de nomenclatura, pois, o que o trabalho deixa claro é que, segundo Dias, todas as vezes que o “rio” passou por cima de alguma cidade, a média no aumento de vapor d´água ficou entre 10% e 15%. Em Ribeirão Preto (SP), por exemplo, a passagem das nuvens que vêm da Amazônia aumentaram em 60% a precipitação.
 
Segundo o aviador, o objetivo do trabalho é, além de validar modelos científicos já existentes, mostrar a importância da mata em pé – considerando que, diariamente, são evaporados cerca de 20 bilhões de m³ de água na floresta Amazônica e que, cada árvore, contribui transpirando 300 litros de água diariamente. “A precipitação total do Brasil não é só oriunda da Amazônia, mas ela é uma fonte importante e está definitivamente ameaçada”, disse.

Por enquanto, apenas o estado do Amazonas procurou o aviador para conversar sobre este serviço prestado pela floresta. As discussões sobre o pagamento por tal oferta continuam somente no nível das idéias.

Saiba mais:

O aviador ambientalista – com Gérard Moss
Água na cabeça
Prêmio para o Brasil das Águas
Rios Voadores

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