Reportagens

Um banco limpo

O Real conseguiu a certificação ISO 14.001 para sua sede em São Paulo graças a tempo e dinheiro investidos para documentar e minimizar o impacto ambiental das suas atividades.

João Teixeira da Costa ·
23 de novembro de 2006 · 17 anos atrás

Uma empresa que queira mostrar para a comunidade que está comprometida com a sustentabilidade tem vários caminhos para fazê-lo. Mas o mais eficaz talvez seja conseguir o registro de algum órgão independente mostrando o que a empresa faz para monitorar e minimizar o seu impacto ambiental. Agindo dessa maneira ela mostra que o seu compromisso com a sustentabilidade vai além das palavras.

Isto é o que o Banco Real está fazendo ao anunciar que a sua sede, situada na Avenida Paulista, no coração financeiro de São Paulo, foi certificada pela ISO 14001 – a primeira instituição bancária do Brasil a fazê-lo. Para Victor Hugo Kamphorst, da consultoria sócio-ambiental do banco, tudo começou em 2004, quando sua direção decidiu que gostaria de aderir aos princípios da Produção Mais Limpa, que procura aumentar a eficiência do uso de recursos naturais por parte da empresa.

Alguém poderia argumentar que o maior impacto ambiental de uma instituição financeira está nas suas práticas de empréstimo, e não na sua atividade produtiva. Mas a certificação da sede é parte do plano de sustentabilidade que o banco colocou em prática a partir de 2000, baseado no conceito do tripé – isto é, da consideração adequada dos aspectos econômicos, ambientais e sociais das suas atividades. Victor Hugo, também responsável pela implementação do plano, enumera seus componentes: “Elaboramos produtos financeiros sustentáveis. Como linhas de financiamento especiais para sistemas de aquecimento solar, por exemplo. São 13 equipes de sustentabilidade nas diversas diretorias do banco”.

O orgulho maior de Victor, no entanto, parece ser o programa de financiamento de projetos sócio-ambientais com recursos da IFC – International Finance Corporation. Segundo ele, o Banco Real conseguiu provar ao IFC – braço do Banco Mundial que lida com o setor privado – que os seus instrumentos de análise são suficientes, e hoje tem a autonomia para conceder esses empréstimos sem esperar pela autorização de Washington.

Compromisso com a redução

A assinatura da declaração de Produção Mais Limpa, portanto, é parte de um programa mais amplo de sustentabilidade, que inclui esforços para neutralizar emissões, comprar energia de fontes alternativas e certificar as suas práticas ambientais. A certificação começa pelo seu principal prédio, a sede da Avenida Paulista. Não é uma tarefa das mais simples. É preciso, em primeiro lugar, realizar um levantamento dessas práticas – essencialmente entender tudo o que entra e sai do prédio, de onde vem e para onde vai – e demonstrar um comprometimento com a redução ao mínimo possível do seu impacto ambiental.

Alguns números dão a medida do tamanho do desafio. O prédio tem 4.500 “habitantes residentes” e chega a receber 1.000 visitantes por dia em época de eventos. Esta população gera em média 26 toneladas por mês de lixo, e consome no mesmo período 6,1 mil metros cúbicos de água e 1.635.999 Kwh de energia, em média. A maior parte dessa energia, por sinal, é consumida pela central de processamento de dados, que ocupa os mais de 1.000 metros quadrados do quinto subsolo do prédio.

A certificação exigiu não só a identificação desses impactos, mas também que o banco assumisse o compromisso de reduzi-los. Há metas para redução do consumo de água e de energia e da produção de lixo. Sessenta e oito por cento do lixo é reciclado, e a parcela não reciclável é enviada para um aterro sanitário certificado. Pilhas e baterias são recicladas, e seus óxidos reaproveitados como pigmentos para a cerâmica. Lâmpadas usadas são descontaminadas e também recicladas. Óleos de cozinha e de geradores são co-processados e viram graxa. Lixo contaminado – solventes, tintas e materiais contaminados – é incinerado. Tudo de acordo com as 330 leis aplicáveis que foram identificadas durante a certificação.

Muitas destas medidas são visíveis a olho nu. Quem visita os subterrâneos da sede do Banco Real pode ver as estruturas de contenção para evitar que produtos tóxicos – tintas e vernizes da manutenção predial ou óleo diesel dos geradores de emergência (foto abaixo) possa se espalhar pelo chão. A coleta seletiva aparece nos receptáculos no hall de elevadores e no tratamento dado a cada fração do lixo. O orgânico, por exemplo, é armazenado em câmara fria. 

>A intenção agora é levar as mesmas práticas de gestão aos outros prédios do grupo em todo o Brasil. Há muitos desafios, como a necessidade, por exemplo, de desenvolver fornecedores do serviço de coleta seletiva de lixo. Ou de convencer os proprietários dos imóveis, quando esses não pertencem ao banco, a fazer a sua parte.

Sustentabilidade é um ideal difícil de converter em metas práticas com rigor. Quanto seria, por exemplo, o consumo sustentável de energia elétrica por pessoa por ano? Mas é evidente que reduzir consumo e reduzir descarte é andar na direção certa. É isso que o Banco Real está fazendo – na frente dos seus concorrentes.

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