Reportagens

O turismo muy amigo

É possível visitar a Patagônia com conforto e infra-estrutura para não degradar a natureza exuberante do extremo Sul. O risco é esbarrar com um enxame de turistas.

Juliana Tinoco ·
28 de abril de 2006 · 18 anos atrás


Um importante atrativo para se fazer esta viagem é o bom preço. A Argentina está barata para brasileiros e de graça para europeus, americanos e asiáticos, que lotam o país durante as altas estações – de dezembro a abril e de junho a agosto. Albergues confortáveis, restaurantes com cardápio em inglês e boa receptividade são características de todas as cidades onde estive. Ao todo, é possível passar quase um mês por lá e gastar em torno de quatro mil reais, incluídas as passagens de ida e volta.

Programei uma viagem de 20 dias, o que se revelou pouco para usufruir tudo, ou quase tudo, o que se oferece na Patagônia. Para economizar tempo, optei por viajar de avião de um local para o outro. Diferente do Brasil, as passagens áreas domésticas na Argentina e no Chile não são caras. Consultas a Aerolineas Argentinas e a empresa Lade rendem bons roteiros. Uma boa pedida para quem inicia seu percurso é a cidade de El Calafate (foto),  a três horas de vôo de Buenos Aires.


Rodeada de montanhas com vegetação arbustiva, devido ao clima frio, El Calafate surgiu de longe, aos meus olhos, como um pequeno vilarejo aos pés do translúcido Lago Argentino (foto), o maior do país. De perto, pareceu mais um canteiro de obras. A cidade de 86 anos e sete mil habitantes não pára de crescer para abrigar novos hotéis e albergues e receber cada vez mais turistas. Mesmo com muitas opções de hospedagem, é preciso se preocupar em fazer reservas. Em tempo de alta estação, El Calafate lota e rápido.



Antes de partir, vale a pena uma visita a El Chaltén, um povoado de apenas 300 habitantes, aos pés da montanha Fitz Roy, famoso reduto para montanhistas. São duas horas de ônibus até a pequena cidade e há também a opção de passeios de um dia. Vai-se em busca de escaladas e trekkings e encontra-se uma natureza exuberante, garantida por trilhas bem conservadas. A cidade lota no verão mas, a contar por sua idade, 22 anos, entende-se por que os efeitos negativos do turismo em massa ainda não a macularam.

Chile


A entrada é a cidade chilena de Puerto Natales, situada a duas horas de ônibus de El Calafate. De lá, são mais duas horas de ônibus até o parque. Quem vai acampar e não levou equipamento, pode alugar na cidade de Puerto Natales, onde os preços ainda são razoáveis. O mesmo vale para a comida, já que dentro do parque são poucas as opções de mercado. Aliás, falando em preço, é preciso dizer que eles são bem mais salgados do que na Argentina. Dormir e comer no parque sai em torno de cinqüenta a sessenta dólares por dia. Como nem todos os livros e guias alertam para esse fato, quase tive que voltar para casa mais cedo, já que o dinheiro não tardou a acabar. Nem todos os albergues aceitam cartões de crédito ou dólar, então é mais seguro chegar lá com pesos chilenos.


Quem visita Torres del Paine está lá para apreciar a natureza e não tem intuito de agredí-la. Mas a boa intenção do visitante pode não ser suficiente para a preservação do local. Emma, turista inglesa que há dois meses mora no parque fazendo trabalho voluntário, garante: “Vai faltar organização para cuidar das trilhas com tanta gente vindo todo ano. Ficamos divididos entre oferecer a oportunidade de todos conhecerem e preservar mais o local”.



Terra do Fogo


Como o plano era permanecer nas Américas, fui em busca de passeios pelo canal de Beagle, estreito limítrofe entre Chile e Argentina, (foto) pelo Parque Nacional da Terra do Fogo, além de outros glaciares e lagos ao redor. Uma visita ao centro de informações turísticas na rua San Martin, a principal da cidade, é essencial antes de programar os roteiros. Os atendentes são treinados para encontrar a opção de pacote ou transporte que mais se aplica ao desejo e, principalmente, ao bolso de cada viajante. Para aliar o conforto do visitante ao bem-estar da flora e fauna locais, as visitas são guiadas e respeitam horários restritos. O parque é bastante monitorado e nada é feito sem a devida orientação do pessoal especializado.


Eu optei por alugar um carro e aproveitei para dirigir pelos Andes, em direção ao Lago Escondido e Lago Fagnano, nos arredores de Ushuaia. É um passeio lindo. Já o Canal de Beagle é para ser conhecido de barco, de onde se avistam pingüins e leões-marinhos. Para descer e caminhar entre os pingüins é mais caro, em torno de cento e oitenta reais, o que restringe bastante o número de visitantes. Eu preferi dizer oi de longe. Afinal, não deve ser nada agradável ter um bando de seres humanos eufóricos lhes perturbando em sua própria casa. 

  • Juliana Tinoco

    Juliana Tinoco é jornalista multimídia especializada na cobertura de Meio Ambiente, Ciência e Direitos Humanos. Por quinze an...

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