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Ricardo Salles suspende todos os contratos e parcerias com ONGs

Ministro do Meio Ambiente determinou a suspensão, por 90 dias, de todos os contratos firmados em 2018 com terceiro setor, até de projetos já em andamento

Daniele Bragança · Sabrina Rodrigues ·
15 de janeiro de 2019 · 5 anos atrás
Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles paralisa todos os convênios entre governo e terceiro setor por três meses. Foto: Reprodução/Twitter.

Elaboração de planos de manejo, projetos de monitoramento de fauna, conversão de multas são exemplos de programas que serão paralisados por 90 dias por determinação do ministro Ricardo Salles, que determinou uma devassa nos contratos do Ministério do Meio Ambiente e autarquias que envolvam organizações da sociedade civil, como cooperativas, entidades ambientalistas e sindicatos rurais.

A suspensão foi pedida ontem (14) através de uma circular pedindo o  levantamento de todos os desembolsos efetuados pelos Fundos de Clima (FNMC), do Meio Ambiente (FNMA) e Fundo Amazônia realizados em 2018 e que tenham como beneficiários organizações do terceiro setor. Os acordos, atos e contratos realizados pelo Ministério do Meio Ambiente, Ibama, ICMBio e JBRJ deverão ser enviados para o gabinete do ministro do Meio Ambiente, que dará a palavra final sobre a permanência do projeto. Na prática, a determinação paralisa os trabalhos por três meses.

Em nota, o Ministério do Meio Ambiente afirma que a motivação do levantamento dos desembolsos efetuados pelos fundos geridos pelo Ministério do Meio Ambiente, bem como a sua suspensão temporária, pelo prazo de 90 dias, “tem por objetivo a avaliação dos mesmos”.

“O diagnóstico permitirá a avaliação daqueles que têm condições de ter continuidade, bem como dos que eventualmente mereçam reparos. A Medida Provisória 870, que estabelece a organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos ministérios, também tornou necessário esse reexame”, explica o ministério, em nota divulgada pela assessoria de imprensa.

Ainda não se sabe como a decisão afeta os programas em andamento.

ONGs reagem

Em reação à decisão do ministro, ONGs comentaram que a decisão de Ricardo Salles pela suspensão dos convênios e parcerias fere o princípio da legalidade e levanta, sem elementos mínimos de prova, dúvidas sobre a idoneidade da sociedade civil.

“O ministro adota, sem base legal e sem motivação, medida sancionatória genérica extrema, com potencial de causar descontinuidade na gestão ambiental federal. O prejuízo será do meio ambiente, que em tese Salles deveria proteger, e de populações vulneráveis em todo o país”, afirmam as ONGs Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), Instituto Ethos, Plataforma MROSC, Observatório do Clima.

 

Leia a nota na íntegra:

Suspensão de convênios pelo ministro Ricardo Salles é ilegal

O Ofício Circular número 5 do Ministério do Meio Ambiente, publicado nesta terça-feira (14), que “determina o levantamento e suspensão da execução por 90 dias dos convênios e parcerias, incluindo termos de colaboração e termos de fomento com organismos do terceiro setor pactuados pelos Fundos Administrados pelo MMA, Ibama, ICMBio e JBRJ” fere o princípio da legalidade e levanta, sem elementos mínimos de prova, dúvidas sobre a idoneidade da sociedade civil.

A Lei 13.019/2014, de abrangência nacional, conhecida como Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), em vigor desde janeiro de 2016, regulamenta as relações entre governos e organizações da sociedade civil. Ela só prevê a suspensão como sanção, medida que só deveria ser tomada após abertura de processo administrativo em que o interessado tenha direito ao contraditório e à ampla defesa.

O ato do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não apresenta qualquer justificativa, o que viola o princípio constitucional da motivação dos atos administrativos.

O ministro adota, sem base legal e sem motivação, medida sancionatória genérica extrema, com potencial de causar descontinuidade na gestão ambiental federal. O prejuízo será do meio ambiente, que em tese Salles deveria proteger, e de populações vulneráveis em todo o país.

Assinam esta nota:

Grupo de Trabalho Amazônico (GTA)

Instituto Ethos

Plataforma MROSC

Observatório do Clima

 

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  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

  • Sabrina Rodrigues

    Repórter especializada na cobertura diária de política ambiental. Escreveu para o site ((o)) eco de 2015 a 2020.

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Comentários 14

  1. Edmundo Pereira diz:

    Lamentavelmente posições açodadas partem da premissa de que todas as ONG's são corruptas e somente se beneficiam do governo, sem raciocinar que, na grande maioria das vezes, a sua existência é a maneira pela qual o Governo consegue realizar sua OBRIGAÇÕES.
    Especialmente na área ambiental a competência maior no trato dessas questões esta nos segmentos colaborativos da sociedade e estes sim, de fato, são fundamentais e apoiam o Governo no cumprimento de suas obrigações. A impulsividade não é uma boa característica para quem tem responsabilidades maiores com os destinos da nação.


  2. marciomottabio diz:

    Acredito que o argumento de que há muita picaretagem não resulta no fato de que todas as instituições cometem atos ilícitos…

    Sobre o fato em si, cito aqui um argumento apresentado pelo Observatório do Clima abordando a questão, publicado no Jornal da Ciência, publicação esta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência:

    " A Lei 13.019/2014, de abrangência nacional, conhecida como Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), em vigor desde janeiro de 2016, regulamenta as relações entre governos e organizações da sociedade civil. Ela só prevê a suspensão como sanção, medida que só deveria ser tomada após abertura de processo administrativo em que o interessado tenha direito ao contraditório e à ampla defesa."

    Forte abraço!


  3. Paulo diz:

    Continuando , cheira sacan…………………………………….


  4. Alexsabdra diz:

    Estão vendendo o Brasil…
    "O pior cego é o que não quer ver!"


  5. Carlos Magalhães diz:

    Excelente a decisão do ministro.


    1. marciomottabio diz:

      Não é questão de ser excelente ou não, pois isso é altamente subjetivo. Cito aqui um argumento apresentado pelo Observatório do Clima sobre a questão, publicado no Jornal da Ciência, publicação esta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência:

      " A Lei 13.019/2014, de abrangência nacional, conhecida como Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), em vigor desde janeiro de 2016, regulamenta as relações entre governos e organizações da sociedade civil. Ela só prevê a suspensão como sanção, medida que só deveria ser tomada após abertura de processo administrativo em que o interessado tenha direito ao contraditório e à ampla defesa."

      Forte abraço!


  6. PAULO SERGIO GOMES diz:

    Tem que respeitar o trabalho que as ONGS fazem, os recursos desses fundo não são só do governo brasileiro, tem recursos estrangeiros também, essa suspensão é injusto e fere a lei…. Para para ser justo, deveria suspender também os contratos de outros ministérios, porque só a ÁREA AMBIENTAL???


  7. Paulo diz:

    Auditoria são necessárias.

    Mas 90 dias, é muito tempo, cheira, cheira…


  8. George diz:

    Organizações NÃO-governamentais não podem depender de recursos governamentais.


  9. leo diz:

    Fez muito bem o Ministro.

    Todos sabemos que há muita picaretagem nelas,

    Que se averigue. É dinheiro público uai.


  10. Michelle diz:

    Mexeu com as ONGs, agora estão esperneando, pra variar. Apesar de que esperneariam por qualquer coisa mesmo, já que são a "resistência". Então segue o jogo, deixa chorar!


    1. marciomottabio diz:

      Tenho uma questão para você: poderia me citar uma "ONG" que teve o convênio suspenso?

      Grande abraço!


      1. umbrios27 diz:

        Eu posso citar uma ONG. Competentíssima, e um dos motivos para que um dos nossos PARNA tenha turismo e pesquisa científica de qualidade: a FUNDHAM, fundação Homem Americano, que faz pesquisa e organiza visitação e preservação do Parna Serra da Capivara (sabe, aquela cujos esforços foram comemorados na abertura da Olimpíada?), é uma das que está com o convênio suspenso nesse momento, colocando em risco toda a estrutura de visitação e segurança do Parque. Um dos motivos para eu ser contra essa medida: é válido que se analisem todos os convênios, e necessário, por sinal, mas cortar de supetão os recursos de quem estava trabalhando com qualidade é um tiro no pé da conservação no país. Seria muito mais razoável analisar os convênios enquanto se mantém os acordos estabelecidos no governo anterior (que era o governo Temer, não o governo do PT, antes que reclamem de não quererem que os "petralhas" continuem tendo dinheiro). Essa história de querer reinventar a roda >_<


        1. marciomottabio diz: