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Livro sobre serpentes do Cerrado alerta para perigos de extinção

Guia Ilustrado traz 135 espécies e um grande objetivo: ajudar a preservá-las para que não existam apenas nos livros.

Duda Menegassi ·
11 de maio de 2016 · 8 anos atrás
Liophis maryellenae á outra serpente endêmica do Cerrado, e ocorre em geral em ambientes úmidos, como veredas e campos úmidos, onde alimenta-se de peixes e anfíbios, que caca dirante o dia. Parque Nacional das Emas, Goiás. Foto: Cristiano de Campos Nogueira

O Cerrado é o habitat natural de mais de 100 espécies de serpentes, algumas delas em perigo crescente de extinção à medida em que o bioma vai sendo devastado para abrir espaço para pastos e plantações. O livro “Serpentes do Cerrado – Guia Ilustrado”, lançado no começo de abril pela Holos Editora, é uma iniciativa de trazer à tona a rica biodiversidade de cobras que vivem no bioma e estimular a conservação não só destes animais, mas do próprio Cerrado. São 135 espécies e 185 fotos que ilustram as páginas do Guia, escrito pelos pesquisadores Cristiano Nogueira, Otavio Marques, André Eterovic e Ivan Sazima.

O Guia Ilustrado apresenta cada serpente em fotografias, que mostram sua coloração e os padrões de pele, em conjunto com uma linguagem iconográfica que ajuda a descrever seus hábitos, tamanho do corpo e cauda, dentição, estratégias de defesa e reprodução. Um dos objetivos dos autores é exatamente facilitar a identificação das serpentes:  reconhecê-las como venenosas ou não, e orientar o “modus operandis” quando alguém cruza com o caminho de uma, pois muitas vezes a falta de conhecimento aliada ao medo generalizado que existe com relação às cobras faz com que elas terminem mortas por ação humana.

Um dos passos para combater a extinção é exatamente o inventário da fauna, aliado com dados do status populacional, as demandas por recursos e as interações de cada espécie. A, o fornecer essas informações, os autores esperam que o Guia seja uma ferramenta importante em prol de ações de conservação de serpentes no Cerrado, ao demonstrar a relevância do papel ecológico das serpentes dentro do ecossistema.

O Guia de Serpentes do Cerrado dá sequência a outros dois guias anteriores: o “Serpentes da Mata Atlântica”, lançado em 2001, e “Serpentes do Pantanal”, de 2005. O guia teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da organização WWF-Brasil.

 

Veja abaixo algumas imagens do guia

 Clique nas imagens para ampliá-las e ler as legendas
Variação de hábitats de Cerrado, em mirante do Parque Nacional das Emas, Goiás. Em primeiro plano, à esquerda, campo cerrado, no centro da imagem campo úmido circundando floresta de galeria (nascentes do córrego Avoador). Mais ao fundo cerrado sensu stricto. Esta variação de ambientes determina a distribuição local de Serpentes do Cerrado, com cada ambiente apresentando diferentes especies. Há, portanto, especies típicas da mata de galeria (<i>Bothrops moojeni</i>), espécies típicas de savanas campestres (campo sujo, campo cerrado), tais como <i>Bothrops itapetiningae</i>, e espécies típicas de campos úmidos, como por exemplo <i>Xenodon nattereri</i> e <i>Liophis maryellenae</i>. Vista típica de hábitats de Cerrado. Chapada do Veadeiros, Goiás. Em primeiro plano campo sujo, seguido por campo úmido e vereda / mata de galeria. Foto: Cristiano de Campos Nogueira Vista de campo úmido e vereda na região do jalapão, Tocantins, com Serra do Espírito Santo e morro do Saca Trapo, ao fundo. As chapadas, tais como a chapada de Arenito da Serra geral e Serra do Espírito Santo, são formações típicas do relevo do Cerrado. Grande parte da diversidade regional de Serpentes, e da distribuição das espécies d erépteis do Cerado, é fortemente determinada por grandes feições do relevo, como grandes chapadas separadas por depressões, formando as principais unidades biogeográficas na distribuição de cobras e lagartos do Cerrado. Foto: Cristiano de Campos Nogueira
Vista do Morro Santo, e da Serra Geral (ao fundo), Formosa do Rio Preto, na região oeste do estado da Bahia. A Serra Geral está situada na divisa entre os estados de Goiás, Tocantins e Bahia. Este imenso planalto, de terras planas e com solos profundos, encontra-se sob intenso processo de ocupação por extensas áreas de monocultura (soja, algodão, milho, sorgo). Áreas nativas de Cerrado no oeste baiano, tais como esta da imagem, estão cada vez mais reduzidas. Serpentes como Rodriguesophis iglesiasi e Drymoluber brazili, espécies naturalmente raras e ainda pouco estudadas, deverão se tornar ainda mais raras no futuro, em consequência do desmatamento das áreas nativas de Cerrado. Foto: Cristiano de Campos Nogueira <I>Bothrops itapetiningae</i>, é serpente endêmica do Cerrado e típica de ambientes campestres. Ocorre apenas na porção sul do Cerrado, desde estado de São Paulo até o triângulo mineiro, parte do Mato Grosso de sul, sul de Goiás e Distrito Federal. A serpente desta imagem foi encontrada na Reserva Ecológica do IBGE, uma das áreas de Cerrado nativo na região de Brasília. Embora haja muitos registros antigos desta especies no Cerrado paulista, sabe-se hoje que as populações desta especies então isoladas nos últimos fragmentos de campos no Cerrado do estado de São Paulo. A parte sul do Cerrado, e especialmente suas áreas de campos de topo de chapada, são a porção mais desmatada e impactada do Cerrado. Foto: Cristiano de Campos Nogueira <i>Xenodon nattereri</i> é outra serpente endêmica do Cerrado, sendo bastante rara e pouco estudada. Seu focinho é projetado para cima, em forma de uma pequena pá, provavelmente auxilia a serpente a procurar alimento e abrigo em frestas e pequenas cavidades no solo. Esta espécie ocorre principalmente em áreas úmidas, como veredas e campos úmidos no Cerrado. O exemplar da foto foi fotografado na reserva de Cerrado da Área Alfa, uma área de Cerrado preservado pela Marinha Brasileira, nas imediações de Brasília. Foto: Cristiano de Campos Nogueira
<I>Drymoluber brazili</i> é uma Serpente extremamente rara, amplamente associada às áreas de Cerrado do Brasil central. Este é um exemplar jovem, encontrado em cerrado sensu stricto no Parque Nacional das Emas, Goiás. Nos adultos, as bandas dorsair desaparecem dando lugar a uma coloração castanha uniforme. É uma serpente diurna que caça ativamente guiando-se pela visão relativamente acurada para uma serpente. Foto: Cristiano de Campos Nogueira <i>Bothrops pauloensis</i> é também endêmica do Cerrado. Este exemplar, fotografado por Otavio Marques no Parque Nacional das Emas, Goiás, havia sobrevivido a um extenso incêndio em áreas de campo sujo. Os répteis do Cerrado estão adaptados a eventos de fogo, e se abrigam em tocas e galerias no solo durante as queimadas, um evento natural e necessário para a manutenção e funcionamento dos ecossistemas de Cerrado. Foto: Cristiano de Campos Nogueira <I>Epicrates crassus</i> é uma serpente de grande porte, comum em áreas de cerrado típico. ë predominantemente nioturna e caça roedores e aves, ultizando de sua força muscular para suforcar as presas (por constricção). Foto: Cristiano de Campos Nogueira

 

 

*Atualizado em 12.05.2016, às 15h00

 

 

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  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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