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À espera da motosserra passar

Estudo realizado na África indica que corte seletivo de madeira afasta temporariamente grandes primatas da floresta. Mas eles voltam, quando a atividade termina

Vandré Fonseca ·
28 de novembro de 2017 · 6 anos atrás
Foto: Lincoln Park Zoo/ Sharon Dewar.
Foto: Lincoln Park Zoo/ Sharon Dewar.

Grandes primatas selvagens voltam a ocupar as áreas onde ocorre corte seletivo de árvores, indicando que é possível combinar a exploração madeireira nestas áreas com a proteção de grandes espécies ameaçadas na África.

Esse é o resultado de um estudo realizado por pesquisadores do Parque Zoológico Lincoln, de Chicago, Estados Unidos, no Triângulo Goualougo, na República do Congo, um ecossistema protegido que abriga chimpanzés, gorilas-ocidentais-das-terras-baixas (Gorilla gorilla gorilla), além de outros grandes mamíferos, como elefantes. Na área, onde é permitida a extração madeireiras, podem ser retiradas entre 1 e 3 árvores por hectare de floresta.

Ao longo de um ano, pesquisadores acompanharam os efeitos da extração seletiva de madeira, mergulhados nessa região remota, que fica na parte sul do Parque Nacional Nouabale-Ndoki. Conforme o resultado, publicado na edição desta segunda-feira da Biological Conservation os grandes primatas voltam a ocupar áreas de onde haviam sido afastados devido ao corte de árvores.

“Após ter sido explorada duas vezes pela madeireira, por meio do corte seletivo, chimpanzés e gorilas permanecem na área“, afirma o biólogo David Morgan, co-diretor do Centro Lester E. Fisher para Estudo e Conservação de Primatas, que liderou o estudo. “Gorilas permanecem mais estáveis, enquanto chimpanzés podem sofrer um impacto maior da atividade humana“, completa.

Os pesquisadores explicam que os gorilas retornam logo após cessada a atividade madeireira, para se alimentar das plantas herbáceas que crescem no solo. Os chimpanzés, que vivem no dossel das árvores, são mais afetados e demoram mais para ocupar novamente as áreas.

Os pesquisadores trabalharem em colaboração com a madeireira Congolese Industry Dubois (CIB), em atividade na região desde a década de 1970. No final dos anos 1990, a empresa adotou práticas mais racionais, para reduzir os impactos da exploração sobre a floresta e animais. A empresa forneceu dados do inventário florestal, enquanto obteve informações sobre ninhos dos grandes primatas, em contrapartida.

David Morgan destaca a necessidade e importância de guardas-florestais para evitar a entrada de pessoas nas áreas onde o acesso foi facilitado pela atividade madeireira. Os estudos continuam e ele acredita que possam ajudar a encontrar alternativas para proteger grandes primatas em outras regiões da África.

Vídeo em inglês

 

 

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Comentários 4

  1. clovis borges diz:

    No mínimo o resultado apresentado por esse estudo deve ser visto com certa desconfiança. Não apenas pelo fato de ter sido financiado pela madeireira que atua na área, mas também pela ausência de avaliações mais aprofundadas sobre os impactos causados pelas práticas "sustentáveis" de manejo madeireiro florestal no Hemisfério Sul. É também o caso do ciclo de 30 anos empregados no Brasil tem claros indícios de não manter a biodiversidade, com sinais de degradação bastante intensos na sequência do processo de retirada seletiva de grandes árvores. Matérias assim, generalistas e com dados parciais, apenas reforçam uma tese de que esse tipo de manejo funciona e deve ser mantido. Na verdade essas práticas deveriam estar sendo muito mais contestadas: o negócio da exploração da madeira nativa é de resultado dúbio senão francamente desfavorável à agenda da conservação da biodiversidade. Mesmo assim nosso governo insiste em realizar concessões e admitir que o manejo tem resultados suficientes para garantir pelo menos a não destruição completa dessas áreas. E o argumento não são os dados contundentes de indicadores de conservação. Mas sim a falta de alternativas. O que demonstra que sem as concessões essas áreas seriam invadidas e destruídas ilegalmente. Demonstra a falta completa de controle do estado em relação a nosso patrimônio natural. Parece que perder menos já é um resultado que serve nas atuais circunstâncias. Serve?


    1. Chato de Galocha diz:

      Meu Deus! Depois eu q sou chato. Por isso que eu acho bom qd ambientalista toma na cabeça. Nada tá bom, nada funciona… O interessante é que quando o estudo corrobora com a visão deles é um alvoroço e vira verdade na hora. Vide casos com apenas modelos de desmatamento, clima… essas previsões viram automaticamente a verdade universal. Haja coração!


      1. clovis borges diz:

        Reconheço a chatice inerente ao comentário. Realmente, de tanto ouvir informações pela metade, com insinuações generalistas e sem consistência, há de se passar a ser chato. Ou então acreditar que temas como esse tem conseguido evoluir positivamente no que se refere à conservação da biodiversidade. Não tem avançado, infelizmente. Ou seja, melhor ser chato do que Poliana, a essa altura


  2. Paulo Roberto Ceccon diz:

    Meu Deus!!!!!! Vamos salvar este planeta maravilhoso!!!!