Notícias

Guácharos: pequenos demônios

Fogem da luz como vampiros e o seu canto é de gelar a espinha. Seria uma ave ou uma assombração?

Rafael Ferreira ·
8 de maio de 2014 · 10 anos atrás

Este guácharo ([i]Steatornis caripensis[/i]) parece mesmo um diabinho... Foto:
Este guácharo ([i]Steatornis caripensis[/i]) parece mesmo um diabinho… Foto:

Nas cavernas de florestas e bosques do norte da América do Sul, se esconde o guácharo (Steatornis caripensis), uma ave de hábitos predominantemente noturnos que pode ser encontrada na Guiana, ilha de Trinidad, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e no Brasil, em Roraima.

Seu canto assustador lembra os gritos de homens torturados, motivo pelo qual em Trindad é chamado de diablotin, francês para “diabinho”. Seu nome científico é mais benigno: caripensis significa “de Caripe”, em referência à região venezuelana onde foi catalogado pela primeira vez; Steatornis significa “pássaro gordo”, uma referência à aparência dos filhotes da espécie. O nome comum em inglês, oilbird (pássaro oleoso), é uma lembrança de um passado triste: no passado, os filhotes eram capturados e cozinhados para produzir óleo.

O guácharo é uma ave grande, mede 45 cm de comprimento e a envergadura de suas asas é de 90 cm. Tem um bico forte, achatado e curvo como das aves de rapina. Ele é cercado por uma espécie de bigode esticado de cor castanha, com cerdas de até 5 cm de comprimento. Os adultos são esbeltos, com peso entre 350 e 475 gramas. Os filhotes, por sua vez, são gorduchos e podem pesar até 600 gramas, quando os pais alimentam-lhes uma boa dose de frutas antes aprenderem a de voar.

A plumagem é marrom-avermelhada com manchas brancas na nuca e asas. As penas da cauda são rígidas de um castanho manchado com branco em ambos os lados. Os pés são pequenos e usados apenas para que a ave se agarre a superfícies verticais. As longas asas permitem um vôo controlado e facilitam a movimentação através dos espaços restritas de suas cavernas.

Apesar do poderoso bico e da aparência de ave de rapina, guácharos são frugívoros. Se alimentam predominante dos frutos de palmeiras-de-óleo e Lauraceae.

Às vezes, durante a noite, percorrem dezenas de quilômetros para encontrar seu fruto preferido; durante o dia, descansam em bordas das suas cavernas. Embora busquem alimento pela visão, são das poucas aves capazes de utilizar ecolocalização para navegar. Como morcegos, utilizam está habilidade para voar em condições de pouca luz, usando uma série de cliques agudos e audíveis para os seres humanos.

Guácharos são aves gregárias. Vivem em colônias nas suas cavernas. Seus ninhos são feitos de argila e fezes, habitualmente posicionados acima de um corpo d’água – córregos ou lagos. A fêmea coloca de 2 a 4 ovos. Quando eclodem dos ovos, os filhotes permanecem no ninho, sem se mexer e na escuridão total, durante três meses. São alimentados pelos pais e acabam, por isso, muito gordos e maiores que os adultos.

A espécie tem uma distribuição muito ampla, população numerosa e, apesar da tendência da população parecer diminuir, a redução não é significativa. Por estas razões, a espécie é avaliada como Pouco Preocupante para a Lista Vermelha da IUCN.

 

 

Leia também
O Beija-flor-violeta
Guia: as aves do Pampa
Conheça a raposa-colorada

 

 

 

Leia também

Reportagens
29 de abril de 2024

Como proteger os territórios do neoextrativismo, do “capitalismo parlamentar” e do “Estado de intimidação”?

Coletivo elenca políticas que agravaram destruição socioambiental no Brasil entre 2019 e 2022 e evidenciam importância dos “lançadores de alerta” e das Ciências Sociais para evitar tragédias

Salada Verde
29 de abril de 2024

Funbio abre edital de 2 milhões de reais para projetos de Manejo Integrado do Fogo

Edital irá apoiar projetos de apoio a ações de manejo integrado do fogo no interior e entorno de unidades de conservação na Caatinga, Pampa e Pantanal

Notícias
29 de abril de 2024

Tribunal de Justiça de MT derruba Parque Estadual Cristalino II (mais uma vez)

Decisão determina nulidade do decreto de criação do parque, uma das mais importantes UCs da Amazônia matogrossense, e abre precedente perigoso para áreas protegidas no estado

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.