Não é difícil encontrar um representante do gênero Sporophila no Brasil. Do Norte ao Sul do país, nos campos, charcos, plantações, beiras de estrada, cerrados e bordas de mata, quem ficar atento, ouvirá o canto de um pequeno caboclinho, coleiro ou papa-capim. Atendendo por diferentes apelidos (que dependerão de onde esteja – no Amazonas ou São Paulo, Bahia ou Pantanal), eles virão em bandos mistos, com as mais variadas melodias e nas mais variadas combinações de cores. A plumagem parda e peito de branco do caboclinho-de-papo-branco (Sporophila palustris), já é uma visão bem rara.
A espécie mede cerca de 9,6 cm de comprimento e apresenta dicromatismo sexual, um dismorfismo relacionado às cores. Os machos adultos possuem as partes superiores cinzentas, corpo castanho, lados da cabeça, garganta e peito em tom branco puro. O bico, varia de negro a amarelo, é grosso, cônico e forte, adaptado à dieta de grãos e sementes. Já as fêmeas e os machos jovens possuem as partes superiores pardas e estes últimos se distinguem por possuir a garganta e o peito esbranquiçados.
O período reprodutivo se dá entre a primavera e o verão. Cada ninhada geralmente tem entre 2 e 3 ovos, sendo de 2 a 4 ninhadas por temporada. Os filhotes nascem após 13 dias.
O caboclinho-de-papo-branco é encontrado nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, sul da Bahia, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Vivem em banhados e em capinzais úmidos ricos em espécies vegetais que produzem muitas sementes, em áreas de Cerrado, no Pampa e no Pantanal. Também estão na Argentina, Paraguai e Uruguai.
Aliás, o nome científico, Sporophila palustris diz muito sobre a espécie: Sporophila, (Sporo vem do latim “semente” e phila que provém de phyllo , “afinidade”), os “que tem afinidade com sementes” ou “papa-capim”; palustris é relacionado à palustres, ambientes brejosos, pantanosos. O papa-capim (alimentação) do brejo (habitat).
O S. palustris está ameaçado pelos mesmos vilões que assolam tantas espécies: a progressiva perda de habitat e o tráfico ilegal. Para a IUCN, o caboclinho-de-papo-branco é classificado como espécie “Ameaçada” e para o ICMBio, como “Em Perigo”.
Aqui, um Plano de Ação do ICMBio voltado para aves do Pampa e Unidades de Conservação (Estação Ecológica de Itirapina, em São Paulo; Parque Nacional das Emas, Goiás; Parque Estadual do Espinilho, Reserva Biológica do Ibirapuitã e Reserva Biológica do São Donato, no Rio Grande do Sul) são, atualmente, as melhores chances que este pequeno caboclinho tem de não desaparecer na multidão.
Leia Também
Pitu: não a cachaça, o camarão
Macaco-prego-do-peito-amarelo, raridade da Caatinga
O que é o lobo-guará?
Leia também
Na abertura do Acampamento Terra Livre, indígenas divulgam carta de reivindicações
Endereçado aos Três Poderes, documento assinado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e organizações regionais cita 25 “exigências e urgências” do movimento →
Gilmar suspende processos e propõe ‘mediação’ sobre ‘marco temporal’
Ministro do STF desagrada movimento indígena durante sua maior mobilização, em Brasília. Temor é que se abram mais brechas para novas restrições aos direitos dos povos originários →
Cientistas descobrem nova espécie de jiboia na Mata Atlântica
A partir de análises moleculares e anatômicas, pesquisadores reconhecem que jiboia da Mata Atlântica é diferente das outras, e animal ganha status de espécie própria: a jiboia-atlântica →