Notícias

Prefeitura de Ilhéus cria parque municipal marinho

Unidade de conservação vai proteger o mero, espécie ameaçada que simboliza a glória e o colapso da pesca na costa da cidade bahiana.

Celso Calheiros ·
14 de junho de 2011 · 13 anos atrás
Pescadores penduram o enorme mero as árvores da cidade. Espécie era caçada por mergulhadores com arpão. Hoje está na lista vermelha, ameaçada de extinção. Foto: Desmontinho
Pescadores penduram o enorme mero as árvores da cidade. Espécie era caçada por mergulhadores com arpão. Hoje está na lista vermelha, ameaçada de extinção. Foto: Desmontinho
A prefeitura de Ilhéus, na Bahia, acaba que criar um parque municipal marinho com aproximadamente 5 hectares. A regulamentação do parque foi feita na semana do meio ambiente,  mas a motivação passa ao largo da efemêride. A unidade de conservação criada a pedido da população com o objetivo de proteger os meros (Epinephelus itajara) tem relação com a identidade que a pessoas simples estabeleceram com o grande peixe, analisa o secretário de meio ambiente, Harildon Machado Ferreira.

O interesse da população pela preservação do mero (um peixe que está longe de pertencer a categoria dos simpáticos, como os golfinhos e as tartarugas) tem relação com o boom da pesca submarina, nas décadas de 70 e 80. Ilhéus se tornou conhecida e atraiu caçadores por causa da facilidade em se capturar o mero. “O peixe era morto por arpão, exemplares muito grandes, com mais de dois metros, e eram pendurados nas árvores da cidade”, lembra Harildon.

O tamanho da população de meros diminuiu ao longo dos anos. Foto: TITAKO
O tamanho da população de meros diminuiu ao longo dos anos. Foto: TITAKO
Um desses mergulhadores é o hoje vereador Marcus Flávio. O pensamento por ele externado é semelhante ao de pescadores e moradores da cidade cenário de Gabriela, cravo e canela, Jorge Amado. Depois de tantas caças, os meros começaram a ficar menores, depois difíceis de achar, até se tornarem raros. Hoje são encontrados em listas das espécies ameaçadas. O Epinephelus itajara está tanto na lista vermelha da IUCN como na relação do Ministério do Meio Ambiente. A caça, armazenamento e transporte do mero são considerados crime ambiental.

A facilidade com a qual os mergulhadores com arpão matavam o mero tem relação aos hábitos desse animal que é tranquilo, isolado e territorialista. No verão (de dezembro a abril, em Ilhéus), o mero faz o que os biólogos chamam de agregações reprodutivas. E existe uma certa preferência pela área entre a Pedra de Ilhéus, Ilhéuzinho, Itaipinho, Itapitanga e Sororoca – agora parque municipal marinho. A região é próxima do estuário de três rios e tem formação de mangue, o berçário natural.

Vista aérea da área onde ficará o Parque Municipal Marinho de Ihéus. Foto: Divulgação/Secretaria de Meio Ambiente
Vista aérea da área onde ficará o Parque Municipal Marinho de Ihéus. Foto: Divulgação/Secretaria de Meio Ambiente
O mero é da família da garoupa, cherne e badejo. Pode chegar 2,7 metros de comprimento e pesar mais de 400kg. Habita regiões recifais, lajes, estuários e manguezais, além de ser encontrado em naufrágios e outras estruturas submersas. Os filhotes possuem um crescimento lento e só atingem a maturidade sexual com seis anos ou 60kg.

A identidade da população com o peixe e a pressão popular levaram a prefeitura a estabelecer um rito de criação de unidade de conservação diferente. “Normalmente é feito um levantamento da área, depois estudos sobre as espécies do local”, conta o secretário Harildon. “Agora nesse caso, a decisão foi política, em resposta ao povo”, resume.

Unidade de conservação foi apoiada por população em audiência pública. Foto: Secretaria de Meio Ambiente de Ilhéus
Unidade de conservação foi apoiada por população em audiência pública. Foto: Secretaria de Meio Ambiente de Ilhéus
Parque Municipal Marinho dos Ilhéus teve participação da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), da colônia de pesca Z-19, do Instituto Floresta Viva, apoio técnica do projeto Meros do Brasil e financeiro do SOS Mata Atlântica e Fundação O Boticário.

Nem tudo é festa na cidade litorânea conhecida por sua época áurea no ciclo do cacau baiano. Um grande projeto que une o governo federal, estadual e municipal prevê a criação do Complexo Intermodal Porto Sul – uma grande obra de infraestrutura e logística com planos de construir um novo porto, um aeroporto, a Ferrovia Oeste Leste e as rodovias da região. No entanto, depois de EIA/Rima aprovado, notaram que o projeto passava próximo do parque marinho, conta o secretário Harildon Machado Ferreira. A descoberta dos impactos ambientais levou a transferência do projeto da Ponta da Tulha para a região de Aritaguá, mais longe dos recifes dos meros.

Saiba mais

Mapa mostra a área do Parque Municipal Marinho de Ilhéus. Fonte: Secretaria de Meio Ambiente de Ilhéus
Mapa mostra a área do Parque Municipal Marinho de Ilhéus. Fonte: Secretaria de Meio Ambiente de Ilhéus

Clique aqui para ver área em mapa interativo.

Leia também

Salada Verde
28 de março de 2024

Uma bolada para a conservação no Paraná

Os estimados R$ 1,5 bilhão poderiam ser aplicados em unidades de conservação da natureza ou corredores ecológicos

Salada Verde
28 de março de 2024

Parque no RJ novamente puxa recorde de turismo em UCs federais

Essas áreas protegidas receberam no ano passado 23,7 milhões de visitantes, sendo metade disso nos parques nacionais

Notícias
28 de março de 2024

Justiça Federal determina expulsão de invasores de terra indígena no Pará

A TI Alto Rio Guamá passou por desintrusão em 2023, mas voltou a ser invadida no último domingo; no início do mês, falso juiz reuniu população e mentiu sobre “direito de retorno”

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 1

  1. Pedro Mota diz:

    Gostaria de mais informações sobre a instrumento normativa. Onde os pontos de georreferenciamento da área não estão expostos.
    Como a também a lei desse projeto.