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Belo Monte: disputa pode sair do papel

Reunidos em Altamira, líderanças de povos indígenas e populações ribeirinhas prometem resistir à construção de obra do PAC no rio Xingu.

Redação ((o))eco ·
16 de agosto de 2010 · 14 anos atrás
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Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente
Encontro em Altamira (foto: Karina Miotto)


Altamira – Cerca de 350 pessoas, entre lideranças indígenas e comunidades ribeirinhas estiveram no Acampamento Terra Livre Regional, entre os dias 9 e 11 de agosto em Altamira, no Pará, com o objetivo de discutir impactos de grandes obras na Amazônia como a hidrelétrica do Rio Madeira e a Rodovia 163, que deve ligar Cuiabá (MT) a Santarém (PA), além de debater a construção de Belo Monte, maior empreendimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

As discussões resultaram em uma carta que será enviada ao governo federal depois do Acampamento Terra Livre Nacional, que acontece na semana que vem em Campo Grande (MS). Esta é a terceira vez que Altamira é palco de um grande evento contra a usina. O primeiro do tipo, chamado I Encontro de Povos Indígenas, aconteceu em 1989. Em 2008, a cidade recebeu o Encontro Xingu Vivo Para Sempre.

Apesar de o assunto se estender a diversas obras de grande infraestrututa, o foco da discussão permaneceu sobre a usina de Belo Monte que deverá impactar, de diversas formas diferentes, a vida de milhares de pessoas. “Estima-se entre 20 e 200 mil. É uma janela enorme e isso acontece pela falta de estudos suficientes sobre as regiões impactadas. Se considerarmos toda a Terra do Meio, este número pode chegar a 500 mil”, explica Marcelo Salazar, coordenador adjunto do Programa Xingu, do Instituto Socioambiental (ISA).

“Estamos falando de uma obra cujos impactos não foram dimensionados como deveriam ter sido. O que pode causar a vinda de 200 mil pessoas a uma região cercada de Terras Indígenas e Unidades de Conservação? No mínimo, o aumento no consumo de madeira, peixe e de demais recursos naturais, o que vai gerar uma pressão enorme sobre estas áreas e estes povos”, complementa Salazar.

Raoni, pediu união dos povos indígenas contra Belo Monte (foto: Karina Miotto)
Raoni, pediu união dos povos indígenas contra Belo Monte (foto: Karina Miotto)


Desde o início do evento, os participantes deixaram claro que não aceitarão a construção da usina. Por mais de uma vez o cacique Raoni, líder Kayapó, afirmou que é muito importante “que todos os parentes indígenas permaneçam unidos” para impedir a construção da hidrelétrica. “É preciso que o governo respeite os índios do Brasil. Enquanto estiver vivo, forte e inteiro, vou lutar contra Belo Monte”, afirmou em um discurso.

O evento foi encerrado com uma marcha pelas ruas da cidade formada por centenas de pessoas entre mais de 30 etnias indígenas, ribeirinhos, pescadores e moradores de Altamira, e teve seu ponto final em frente à sede da Eletronorte. Um caixão com alguns dizeres, entre eles “Lula respeite a constituição” foi deixado no local. “Desde o início das discussões sobre Belo Monte, é a primeira vez que vejo esta união de tantos povos, inclusive de outras regiões do país, em uma manifestação pública contra a usina. Este é um marco na história do Xingu”, afirmou o bispo Erwin Krautler, que atua no Xingu.

Para Brent Millikan, diretor do Programa Amazônia da organização International Rivers, o evento tem força política e veio para lembrar os impactos que podem ser causados pela usina. “Estamos falando de uma obra com enormes custos socioambientais e desperdício de dinheiro público. Existem outras alternativas para produzir energia, de modo que se mantenha o respeito às populações locais e ao meio ambiente. Este assunto merece atenção nacional. A Amazônia é um patrimônio brasileiro que todos precisam cuidar”. (Karina Miotto)

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