Com aparência e consistência semelhante à de uma cola branca diluída em água, o gel antideslizamento é fornecido à Prefeitura do Recife pela Etack Environmental Solutions. O produto foi usado pelas forças armadas dos Estados Unidos na construção de pistas de pouso no deserto. Nos únicos dados disponíveis sobre o produto no site da empresa, uma tabela informa a quantidade a ser diluída do produto em determinada área para diferentes utilizações, como local de pouso ou rodovia para trânsito de veículos pesados, via secundária, taludes e encostas, trilha ou, apenas, no controle de poeira.
De acordo com o secretário de Obras do município, Amir Schvartz, o produto foi analisado pelo Instituto Tecnológico de Pernambuco (Itep) e recebeu laudo atestando ser composto de elementos naturais, atóxicos e biodegradáveis.
O proprietário da representação do gel no Brasil, Jefferson Lima, garante possuir todos os laudos ambientais do produto. “Atestamos a qualidade no Itep, depois na CPRH (agência de meio ambiente) e também no Ibama”, afirma.
O indício de polêmica está no fato de a Prefeitura do Recife ter anunciado o produto e sua aplicação mais extensiva, um ano depois de ter feito testes em duas encostas. Com relação ao impedimento do deslizamento, o produto foi aprovado. Não houve queda de barreira. No entanto, onde o produto foi aplicado não nasceu nenhum tipo de vegetação. A terra ficou agregada, mas nenhum capim apareceu sobre ela.
Na etiqueta do produto, as promessas é outra. Está lá que o produto recompõe a bio-vida do solo, “criando um ambiente propício para recomposição da vegetação já existe ou desenvolva, com aplicação de sementes, a vegetação apropriada para o local”. Jefferson Lima garante que uma das características do gel favorecer a vegetação. “Só deixa de nascer alguma coisa onde antes da aplicação já não nascia, mesmo”.
A opinião da dona Iraci Maria da Silva, 56 anos, é favorável. “Antes da aplicação do gel, a prefeitura usava lonas plásticas e sempre cresceu muito mato embaixo. O mato facilitava o aparecimento de cobra, ratos e insetos”, protesta. D.Iraci mora há 16 anos no bairro Ibura, um dos locais utilizados pela prefeitura para aplicação do gel.
A Prefeitura do Recife argumenta que a cidade possui 3 mil pontos de risco. Uma das grandes vantagens da utilização do gel está na sua fácil aplicação. As lonas plásticas costumam se rasgar com menos de 60 dias, por causa do sol e das chuvas. No Recife, a prefeitura utiliza mais de 1 milhão de metros quadrados de lona preta ao ano. (Celso Calheiros)
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