Reportagens

Emoções na BR174, embora sem encontrar a estrela do show

A equipe avista um casal de outra espécie próxima, mas não ainda não tem sucesso em encontrar o macaco zogue-zogue-rabo-de-fogo.

Adriano Gambarini ·
13 de novembro de 2013 · 10 anos atrás

A escuridão da noite ainda domina Vilhena às 3h da manhã, e já seguimos pela BR 174 rumo a dois pontos onde teoricamente há ocorrência frequente de Zogue-Zogue. Em nossa conversa do dia anterior, Seu Luiz Rocha, funcionário da empreiteira que reforma a rodovia, falou que escuta sempre o macaco ao amanhecer. “Ali mermo, trás do nosso barraco, eles vem cantar sempre bem cedo. É uma zoada só”, afirma com o conhecimento que a vida no interior lhe confere, principalmente após escutar, surpreso, o som do macaco em nosso playback.

Uma névoa fina e um céu carregado incomodam Júlio Dalponte, líder da expedição. Com o clima assim, diz, os bichos ficam “amuado”, “corujando” e demoram a sair pra forragear.

Em certo momento, uma pequena raposa-do-campo (Pseudalopex vetulus) nos dá o ar da graça no meio da estrada. Vai, vem, some e reaparece. Mostra com seus saltos e esquivos como faz para escapar de eventuais predadores. Esta espécie é típica de áreas abertas no Cerrado brasileiro, portanto, traz evidências de como é a vegetação desta região.

Seguimos devagar pela estrada; uma pequena parada para playback, mas em vão. Julio e Jamylle seguem na caçamba da caminhonete atentos a qualquer sinal de movimentação na copa das árvores. De repente, pedem para parar e saem em disparada; um casal de Zogue-Zogue vocaliza forte, bem próximo da estrada.

Mas como Júlio suspeitava, ainda não se trata do Rabo-de-Fogo e sim um outro Zogue-Zogue em processo de descrição: Callicebus sp. Constatações como esta podem contribuir para estudos de outras espécies da fauna amazônica, que a princípio não estariam dentro do escopo principal da expedição. Esta dinâmica do que “está por vir” é o melhor dos temperos em trabalhos assim.

A suspeita do pesquisador está baseada em fatores determinantes para distribuição da maioria das espécies de primatas na Amazônia, que são as barreiras geográficas. São elas que definem áreas específicas para cada animal. Pode haver sobreposição entre espécies de macacos, mas dificilmente entre espécies do mesmo gênero, como é o caso dos Callicebus. E apesar de estarmos no interflúvio do Rio Roosevelt e Aripuanã, existe uma série de morros entre o lugar onde estamos e o ponto de descoberta do Rabo-de-Fogo, mais ao norte.

Constatações assim são tão importantes quanto achar o bicho em si, pois permitem começar a desenhar a área de ocorrência da espécie, e ajudam a traçar os rumos que iremos tomar nos próximos dias.

Logo em seguida, uma chuva torrencial cai sobre nossas cabeças.

A partir de amanhã estaremos incomunicáveis, em acampamentos às margens do Rio Aripuanã. Enquanto isso, Jorge Oliveira, da comunicação do WWF-Brasil compartilhará mais informações a respeito dos trabalhos realizados pela organização na Amazônia Meridional.

Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
Foto: Adriano Gambarini / WWF Brasil
  • Deslocamento: 220 km
  • Tempo em movimento: 5:07h
  • Tempo paradao: 2:55h
  • Velocidade média: 43 km/h

Você pode acompanhar a nossa localização através do mapa do trajeto da expedição:

*Atualizado em 03/11/2022: adaptação de fotos e artes as atualizações do wordpress

  • Adriano Gambarini

    É geólogo de formação, com especialização em Espeleologia. É fotografo profissional desde 92 e autor de 14 livros fotográfico...

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