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Crise de identidade

MSC - Kiko, lá vai o rascunho do “quem somos”, que você me encomendou. É para ser corrigido e criticado:O Eco é um site jornalístico ligado no...

Redação ((o))eco ·
6 de agosto de 2004 · 20 anos atrás

MSC – Kiko, lá vai o rascunho do “quem somos”, que você me encomendou. É para ser corrigido e criticado:

O Eco é um site jornalístico ligado no meio ambiente. Quer dizer, trata de qualquer assunto, sem perder de vista a conservação da natureza. Está aberto às diferenças de opinião, acolhe divergências e estimula debates. Mas quer ouvir de preferência quem fale pelos bichos, as plantas e outras criaturas sem voz nos meios de comunicação. Publica crônicas, ensaios e artigos acadêmicos, mas quer antes de mais nada produzir e publicar notícias, colhidas por uma rede de colaboradores capaz que possa chegar aonde a imprensa nem sempre chega. Faz denúncias, quando elas lhe parecem relevantes, mas prefere contar boas histórias. Discute problemas, mas gosta mesmo é de soluções. Vê o ambientalismo como uma fonte mal inexplorada de grandes personagens, vidas exemplares e temas inéditos, para seus repórteres levarem aos leitores.

O conteúdo do site está a cargo da Associação O Eco, entidade sem fins lucrativos dirigida por Manoel Francisco do Nascimento Brito Filho (link para o currículo), Marcos Sá Corrêa (link) e Sérgio Abranches (link). A ONG foi criada com o patrocínio da fundação Avina, que apóia mais de mil projetos de interesse social ou ambiental em nove países da América Latina, além de Portugal e Espanha. O contrato de O Eco com a Avina vai até fevereiro de 2006.

O nome de O Eco foi inspirado pelos jornais que eram feitos pelos alunos nas escolas da rede pública. Ele pretende ser exatamente isso, um instrumento de aprendizado não só para estudantes de comunicação, como para todo profissional interessado na cobertura de temas ecológicos.

SA – Marcos e Kiko: sobre “quem somos”. De fato, é para falar, em princípio de tudo, tendo como âncora a ecologia. Ao tentar entender quem posso ser na ecologia, encontrei vários nexos que me parecem cada vez mais necessários. Não dá para falar em meio ambiente, sem falar em governança – política e corporativa – acho que é impossível fazer algo ambientalmente correto, sob má governança. Tampouco me parece possível falar de meio ambiente, sem falar de comportamento social e de comunidade. Nas viagens que tenho feito pelos parques brasileiros, tenho encontrado, freqüentemente, duas ameaças: os visitantes, que espalham lixo por todo canto e têm um comportamento, ao vandalismo que vi no 13 de outubro, em Ouro Preto; e a “comunidade do entorno”, que cerca os parques e vai empurrando a fronteira, para ganhar espaço. Em outros lugares, contudo, vi visitantes ecologicamente corretos e comunidades de entorno aliadas do meio ambiente e do ecoturismo. Ciência e meio ambiente são indissociáveis, para o bem e para o mal.

Pluralismo é o equivalente político da diversidade, e tanto lá, quanto cá, existem espécies agressivas, né? Espero que possamos, sobretudo nas entrevistas, escutar os bichos também, para aprender, por exemplo, sobre a racionalidade dos macacos ou a inteligência das borboletas. E o que tudo isto tem a ver com o que somos? Acho que, porque somos plurais, temos formações distintas e entramos nessa por vias diferentes. O Eco nasce biodiverso em si mesmo. Ao nos encontrarmos nesta trilha comum, só podíamos ter uma pauta pluralista e, ao mesmo tempo, moralmente comprometida. Somos daquela espécie ameaçada que acha que as ações podem e devem ser moralmente justificadas. Logo acho que seremos moralmente ecológicos e moralmente abertos ao debate, mas sempre com o viés do bem ambiental, né?

MSC – Sérgio, para falar a verdade a tal declaração de que cobriremos qualquer assunto, mas sem perder de vista que estamos aqui tratando de conservação da natureza, foi posta ali para nos servir de lembrança que, se bobearmos, caíremos num dos excessos que a meu ver espremem o noticiário ambiental na imprensa. De um lado, ele é apertado pela suposição de que tudo vem antes dele – política, economia, esporte, cinema. Se não há um desastre qualquer, tipo vazamento de óleo na Baía de Guanabara, meio ambiente é um assunto que mais ou menos se esconde lá no fundo dos jornais, na companhia de achados arqueológicos e outros bichos. Ou melhor, outra falta de bichos. Do outro lado, quem já se converteu ao ambientalismo acha que todas as linhas, toda beirada de espaço que puder pegar nos meios de comunicação é para fazer denúncia e catequese. Resultado: uma pauta “ambiental”, que trata a conservação da natureza como uma cruzada evangélica. Temos que nos lembrar o tempo todo que o site aposta todas as fichas na suposição – será fantasia? – de que o ambientalismo já está ficando grande demais para continuar restrito aos ambientalistas. Nós queremos ir atrás de um grande assunto que todo mundo está perdendo. Bem, pelo menos era isso que eu quis dizer.

KB – Marcos, sou a favor de sua idéia de discutir isto abertamente. Ajuda a saber quem de fato somos. Pelo menos para mim, que às vezes mal sei quem sou, quanto mais saber quem seremos dentro de um site que pretende cobrir asssuntos nos quais sou neófito ou com os quais tenho até certa implicância. Você não acha que faltou mencionar neste “quem somos” que, sem o Sérgio, este site seria muito menos inteligente, divertido e muito mais indigente? Não fosse ele, talvez estivéssemos editando nosso trabalho da rua, apesar da Avina. Estou, aliás, repassando a ele o texto do “quem somos” como recebi de você. Esqueci de comentar: viram a ministra Dilma Rosseff hoje, naquela batida desenvolvimento a qualquer preço do PT, ameaçando o país com um apagão e dizendo que a culpa ee do Ibama? Santa hipocrisia. Até a Abdib reconhece que antes de reclamar do Ibama a iniciativa privada deveria melhorar a qualidade dos projetos que envia aos órgãos ambientais para serem avaliados. Mas a ministra insiste que o problema são os animais e árvores que ficam na frente do progresso. Ainda bem que o Supremo não está engolindo esta conversa. Ontem duas votações dos ministros indicam que eles podem estar achando que o problema com a energia no Brasil é a ministra. Aparentemente, seu plano para o novo modelo elétrico do país tem um monte de aspectos que se chocam com as leis.

MSC– Ainda bem que temos a coluna da Maria Teresa Pádua, para dizer que isso é conversa fiada. Ou, como eu tinha escrito por ato falho, conversa piada, o que aliás é muito melhor do que escrever a coisa certa.

LA – Falando em boa e má governança, fica difícil conduzir política ambiental séria sem gente trabalhando. O aumento do rigor legal para licenciamentos ambientais, que já veio tarde, vira problema quando o órgão federal que centraliza toda a responsabilidade ambiental do país é composto por meia dúzia de gatos pingados. É querer falar de qualquer assunto ambiental e onde é que vamos bater? Sempre no Ibama. E em todo canto o que se ouve deles são queixas sobre a insuficiência de funcionários para fiscalizar/ licenciar/ gerir/ tocar projetos (pra não falar dos recursos materiais). Só de usinas hidrelétricas há 21 projetos empacados por “entraves ambientais”, diz o documento da Abdib. Mas na hora de propor sugestões para agilizar o licenciamento não lhes ocorreu a singela dica de ampliar os quadros técnicos do Ibama.

KB– Marcos e Sérgio, sobre o acerto de contas, tudo bem se Marcos quiser acertar contas alhures. Dou a maior força. Mas não sejamos injustos. Não fui eu quem coloquei o site no ar. No máximo, atrapalhei. Não fosse Carla, a turma do webdesign, Lorenzo e seus repórteres, ainda estaríamos tentando descobrir não “quem somos”, mas como seríamos.

MSC – Ou quando seríamos.

KB – Mas, voltando ao “quem somos”. Nada como um intelectual inteligente para dar a dimensão da minha mediocridade. Concordo com tudo o que o Sérgio disse. Menos sobre a pluralidade. Estamos aqui justamente porque, apesar das origens diferentes, a gente não é plural. No máximo, somos interdisciplinares. O Eco não é plural. É para quem gosta de árvore e bicho e para deixar irada qualquer pessoa que deteste essas coisas. Em tempo, não reescrevi nada do “quem somos” que está no site. Um pouco de preguiça, mas principalmente muito trabalho.

MSC – Boa, Kiko. Depois vem com aquela conversa de que não tem nada a ver com O Eco. Fora, evidentemente, ter chocado o site por três ou quatro meses, naquela fase em que ele só podia dar chateação. Mas essas contas, como com você, com o Sérgio, com o Tony Cid, que nos deu o desenho do site, acho melhor acertarmos cá entre nós, não?

KB – Ok, Marcos. Sobre o quem somos então, discussão encerrada.


SA – Kiko, quem gosta de bicho não é plural? Tem amantes de bichos de direita e de esquerda. Tem amante de bicho fundamentalista e moderado. Eu fiz uma opção pela moderação, mas às vezes acho que o que anda faltando no Brasil é gente indignada e radical.

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