Dicionário Ambiental

Entenda o Páramo

Neste guia ((o))eco, apresentamos o bioma que ocupa mais de 30.000 km² da América do Sul, em quatro países ao longo da Cordilheira dos Andes

12 de março de 2014 · 10 anos atrás

Numa definição biogeográfica, páramo é todo ecossistema intertropical de montanha, caracterizado por uma vegetação arbustiva e que ocorre, em geral, a partir de altitudes de cerca de 3.000 e 4.000 metros ou até 5.000 metros, isto é, nas regiões acima da linha de floresta contínua, mas ainda abaixo da linha de neve permanente. É encontrado na África Oriental, Nova Guiné e nas Américas Central e do Sul. Porém, uma vez que, em cada uma destas regiões, esse ecossistema tem um nomes específico, ao discutir os páramos, nos referimos especificamente aos páramos andinos.

Neste sentido estrito do termo, todos os páramos estão localizados na zona neotropical, principalmente no noroeste da América do Sul, presente na Venezuela, Colômbia, Peru e Equador. O ecossistema ocupa mais de 30.000 km² da América do Sul e representa 7% do território do Equador. Em termos absolutos, a Colômbia abriga 50% da extensão de páramos (em seus três ramos da Cordilheira dos Andes) e o maior páramo do mundo (Sumapaz).

O clima dos páramos é caracterizado por flutuações diárias amplas de temperatura e umidade. Em geral, frios e úmidos, podem passar por uma mudança repentina e drástica em que as temperaturas oscilam entre abaixo de zero até 30°C positivos, em um ciclo de congelamento-descongelamento diário. A alta altitude em locais tropicais produz uma atmosfera especial, fria, de baixa densidade do ar, que permite maior dispersão da radiação ultravioleta (luz e calor). Esse clima pode ser resumido na frase “inverno todas as noites e verão todos os dias.”

Em ecossistemas de páramo, os solos em geral são recentes, de origem glacial e vulcânica, e muitos ainda estão em formação. Sua estrutura é uma combinação de material orgânico, que se decompõe muito lentamente no clima frio, com a cinza vulcânica. Costumam ter pH (grau de acidez) baixo por causa da abundância de umidade e alto teor de matéria orgânica. Estas características contribuem para a retenção de água no solo, que por sua vez é a base de um serviço ambiental essencial: o armazenamento e distribuição constante de água limpa para lugares mais baixos.

Com base na altitude e na estrutura da vegetação, páramos são normalmente divididos em três zonas:

  • o Superpáramo, localizado no pontos mais elevados, à cerca de 4.500 a 4.800 m de altura. È considerado como sendo a faixa de transição entre a região de neve permanente e a zona inferior do páramo grama (veja abaixo). Tem as temperatura mais baixas, assim como o menor nível de precipitação de chuva/neve, de capacidade de retenção de água do solo e teor de nutrientes. Pela dificuldade de acesso e características raras, essas áreas costumam ser quase intocadas e deter maior número de espécies endêmicas.
  • A zona mais ampla e conhecida é o Páramo grama, que cobre grandes áreas das cadeias de montanhas. Ele se estende de aproximadamente 3,500 a 4,100 m de altura, e é composto principalmente de gramíneas e pequenos arbustos.
  • Subpáramo é a zona mais baixa, entre 3.000 e 3.500 metros, dominada por vegetação arbustiva que combina aspectos do páramo grama acima e da floresta abaixo. Junto com arbustos, esta zona também contém pequenas árvores espalhadas que, à medida em que se ganha altitude, são substituídas pelas gramíneas e ervas do páramo grama.

A vegetação do páramo fornece abrigo e habitat para uma variedade de mamíferos, aves, insetos, anfíbios e répteis. Animais comumente encontrados incluem a raposa-colorada (Pseudalopex culpaeus), o cariacu (Odocoileus virginianus), o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus), tapiti (Sylvilagus brasiliensis), várias espécies de roedores, o condor-dos-andes (Vultur gryphus) e várias espécies de águias, gaivotas, patos, corujas e beija-flores. Invertebrados, como gafanhotos, baratas, escaravelhos, moscas são encontradas no subpáramo. Dentre os anfíbios há salamandras Bolitoglossa e rãs Eleutherodactylus. Os répteis incluem lagartos do gênero Stenocercus, Phenacosaurus e Proctoporus.

Os páramos são ecossistemas estratégicos devido ao seu grande potencial de armazenamento e regulação da água para o abastecimento de aquedutos, aquíferos e nascentes de grandes rios. Humanos têm habitado os páramos andinos pelos últimos 15 mil anos. Os processos de ocupação até a época da colonização eram temporários para a caça e para a agricultura.

No entanto, a adaptação do cultivo extensivo agrícola e a introdução de gado alteraram o cenário. O desmatamento tem sido extenso e, em alguns casos, como o norte dos Andes, 90-95% das florestas foram eliminadas. O crescimento da população de colonos levou a um aumento da demanda por terra para gado e fogo foi usado para limpar campos. A vegetação, solos, diversidade de espécies, e capacidade de armazenamento de água dos páramos foi prejudicada.

O crescimento das populações na Colômbia, Venezuela e Equador têm criado uma pressão para assentamentos em altitudes mais elevadas, que invadem os páramos. A construção de aquedutos, sistemas de drenagem, estradas e a mineração têm sido perturbações adicionais ao bioma.

Outro problema enfrentado são as mudanças climáticas globais. O aumento nos extremos de temperatura forçam muitas das espécies de fauna e flora para terrenos mais elevados, onde, eventualmente, podem ser extintas. As geleiras dos Andes estão desaparecendo e há uma queda na precipitação que seca o páramo e, por sua vez, afeta o abastecimento de água para cidades como Quito, no Equador, e Bogotá, na Colômbia.

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