Reportagens

Frustrada tentativa de criar imensa reserva marinha na Antártica

Negociações falham e Rússia, Ucrânia e China são acusadas de impedir planos de proteger o "último ecossistema marítimo intacto do planeta".

Oliver Milman ·
1 de novembro de 2013 · 10 anos atrás
The Guardian Environment Network
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Mar de Ross, um dos lugares mais árido e também intocados do mundo e onde foi proposta uma reserva de 1,3 milhão de quilómetros quadrados. Foto: John B. Weller, cortesia The Pew Charitable Trusts
Mar de Ross, um dos lugares mais árido e também intocados do mundo e onde foi proposta uma reserva de 1,3 milhão de quilómetros quadrados. Foto: John B. Weller, cortesia The Pew Charitable Trusts

As negociações para criar as duas maiores reservas marinhas do mundo na Antártida desandaram, com os conservacionistas chamando a Rússia de “delinquente serial” por bloquear um acordo internacional.

Delegados de 24 países e da União Europeia se concentraram nas negociações em Hobart, na Tasmânia, nos últimos 10 dias, no encontro anual da Comissão para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos (CCAMLR, na sigla em inglês) .

Mas as negociações acabaram em frustração para as nações participantes, incluindo a Austrália e os EUA, que propuseram vastas zonas protegidas em torno da Antártica, enquanto a Rússia, Ucrânia e China se recusaram a apoiar esses planos.

Os EUA e a Nova Zelândia propuseram uma área protegida de 1,3 milhão de quilômetros quadrados no Mar de Ross. Um plano separado apresentado pela Austrália, França e a União Europeia teria mantido 1,6 milhão de quilômetros quadrados da Antártida Oriental fora dos limites para a pesca. Para ratificar esses planos, era necessário o consenso entre as nações.

É a terceira vez que as negociações fracassam, durante o último ano, pois as propostas de áreas protegidas não obtiveram um acordo entre as nações que compõem a Comissão. Antes, Rússia e Ucrânia já haviam questionado a legalidade dessas áreas protegidas.

Andrea Kavanagh, diretora do Projeto Santuários do Oceano do Sul, do Fundo Beneficiente Pew, disse ao Guardian que o fracasso das negociações foi “uma incrível decepção”.
“É um dia ruim, não apenas para a Antártica, mas para os oceanos do mundo, porque tantas áreas pesqueiras estão sendo sobre exploradas e este era o lugar onde poderíamos criar uma reserva”, disse ela . “O fato de o acordo ter sido bloqueado por nações interessadas na pesca é muito difícil de aceitar”.

Frustração

“A Rússia e a Ucrânia bloquearam até o fim. Eles queriam abrir mais áreas para a pesca e definir um limite de tempo de proteção de 10 anos. Dado que a mesma quantidade de tempo foi necessária para elaborar o projeto das áreas protegidas, nós iríamos gastar mais tempo planejando as reservas do que protegendo, o que é ridículo”, disse.

“Eu acho que os países pró-conservação precisam assumir uma posição e dizer a Rússia que isto é inaceitável. Não há qualquer razão para que nações pesqueiras, como a Austrália, criem zonas protegidas apenas para outras nações pesqueiras bloqueá-las”.

As águas da Antártida são o lar de mais de 10 mil espécies diferentes, incluindo a maioria dos pinguins do mundo e de uma rara marlonga (toothfish).

A região é considerada pelos cientistas como vital para a saúde da vida marinha do mundo. Estima-se que três quartos de toda a vida aquática seja sustentada pelas águas ricas em nutrientes do Oceano Antártico, que são transportadas por uma enorme corrente para o hemisfério norte.

A Comissão voltará a se reunir em Hobart em outubro de 2014, embora os ambientalistas não tenham esperança de um resultado melhor.

“O que temos assistido nos últimos anos é a erosão constante do espírito e do mandato da Comissão para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos (CCAMLR) para proteger o último ecossistema intacto do oceano que remanesce na Terra”, disse Farah Obaidullah, do Greenpeace.

“O fracasso deste ano denigre a reputação da CCAMLR e é sintomático de uma perigosa tendência mundial onde os interesses políticos e corporativos substituem quaisquer esforços genuínos em proteger os oceanos para o bem das futuras gerações”.

O ministro do Meio Ambiente da Austrália, Greg Hunt, foi mais otimista. “Eu acho que nós fizemos esta semana enormes progressos sobre as áreas marinhas protegidas na Antártida. Nós lançamos as bases para o futuro, um grande progresso. Da próxima vez, acho que podemos conseguir algo que esteve fora de alcance por décadas”.

 

* Esse artigo é publicado através da parceria de ((o))eco com a Guardian Environment Network (veja a versão original). Tradução de Eduardo Pegurier.

 

 

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