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Desinformação e incompetência, as marcas do desastre da Samarco

Um desastre assim não pode ocorrer em lugar algum do planeta. Mas aconteceu no Brasil, em Minas Gerais, e até agora parece que não nos demos conta.

1 de dezembro de 2015 · 8 anos atrás
  • Maria Tereza Jorge Pádua

    Engenheira agrônoma, membro do Conselho da Associação O Eco, membro do Conselho da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Nat...

Vilarejo de Bento Rodrigues, submerso em lama do desastre da Samarco. Foto: Rogério Alves/TV Senado

Começamos a ver a grandiosidade do desastre do rompimento da barragem de dejetos da mineradora Samarco, em Mariana, Minas Gerais, através das imagens de satélite ou filmagens aéreas da Globo, grandes emissoras internacionais, como a BBC e CNN, ou pelas redes sociais.

O susto foi enorme. Não é possível que tenha ocorrido em nosso país, no estado de Minas Gerais.

Veio forte o sentimento: NÃO PODE OCORRER EM LUGAR ALGUM DO PLANETA.

Depois, ouvimos na TV as autoridades. Algumas falaram propriamente sobre a extensão dos danos, como a ministra do Meio Ambiente, ou Marina Silva, que logo rebateu, como é do seu estilo, que “era um desastre ambiental” e não um desastre natural, como a princípio queriam nos fazer crer.

Alguns prefeitos da região partiram para a defesa da mineração e seus empregos, com argumentos tão frágeis que já denotavam total ignorância sobre o assunto.

Mas até uma diretora da empresa, segundo os jornais, chegou a dizer que a lama serviria de adubo para o reflorestamento. Ninguém precisa deste tipo de adubo, com arsênico, chumbo ácido sulfúrico, mercúrio, etc.

Querem ganhar mais dinheiro com a nossa desgraça?

No fim de semana seguinte ao desastre, as principias revistas semanais, como pontuou Reuber Brandão, professor da UNB, não estamparam nas suas capas o maior desastre ambiental que já ocorreu no país. Talvez por falharem em perceber sua extensão e desdobramentos.

Até mesmo o maior fotógrafo brasileiro vivo defendeu com lágrimas nos olhos o trabalho ambiental da Vale, dona de 50% da Samarco. Justo ele que faz em Minas Gerais um trabalho espetacular de recuperação de micro bacias hidrográficas.

QUE JAMAIS UM EVENTO ASSIM SE REPITA NO BRASIL. Aconteceu por falta de ciência, de técnica, de responsabilidade e competência dos responsáveis pela represa de rejeitos que se rompeu e arruinou a bacia do Rio Doce com 60 milhões de litros de lama com rejeitos de mineração.

Limpar o enorme estrago deve ser feito com orientação de cientistas e técnicos no assunto, por gestores competentes, e principalmente honestos. Chega desta lama, metais pesados e areia cobrindo gente, animais, casas, igrejas e impedindo o uso das praias do Estado do Espirito Santo.

Esse desastre trouxe consequências diretas para meio milhão de pessoas que moram nas margens ou próximas ao Rio Doce. Trouxe também vergonha ao povo brasileiro. Fez as autoridades brasileiras chegarem à Conferência do Clima COP21 sob a mancha desta tragédia.

O desastre da Samarco já é história.

Resta saber: servirá para prevenir outros?

 

 

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Comentários 9

  1. Jose Noel Prata diz:

    O rompimento da Barragem do Fundão foi apenas o golpe de misericórdia. O Rio Doce já estava morrendo há anos! Quem duvida é só pegar o Trem e descer pelo vale do Rio, observando suas margens: Matas ciliares praticamente inexistentes, topo dos morros desmatados e com o solo exposto em vários pontos, ausência total de terraços e curvas de nível, além, é claro, muita poluição. Não precisa ser técnico para fazer essas constatações. Lamentável!


  2. Judas diz:

    Maria Tereza, como forma de contribuir, não existem tais substâncias tóxicas no rejeito.

    Estamos falando de rejeito de minério de ferro.


    1. maria tereza diz:

      Obligada Judas
      Entao me diz o que colocam na propria barragem?


      1. Judas diz:

        Rejeito do beneficiamento de minério de ferro. Basicamente composto por sílica e algum ferro ainda.


  3. maria tereza diz:

    Nestor justamente nao me extendí para nao cometer error sobre o que nao entiendo, mas almas cosas sao bem comuns e evidentes ate para una liga como eu em asunto tao extraordinariamente serio, Muiats cosas das quia entiendo nao forma aquí abordadas pot mim. Eu so quis enfatizar o tamango da irresponsabilidad e as consecuencias das mismas. Obrigada


  4. Nestor do Amaral diz:

    Acho que o ambientalismo tupiniquim peca justamente pelo excesso pra tentar "conquistar" as pessoas. Encontraram mesmo ácido sulfúrico (ácido solúvel em água) na lama? Qual a fonte sobre os materiais citados no texto? Antes que me atormentem os que sempre enxergam tudo preto e branco, não estou dizendo que o desastre não deva ser apurado e que sejam responsabilizados.


    1. Gisele diz:

      Excelente ponto, Nestor.


  5. Seguindo o raciocínio apresentado pela Maria Tereza, em verdade NENHUM dos diretores destas empresas, bem como NENHUM dos cargos de direção dos órgãos ambientais federais e estaduais, deveriam permanecer em suas posições. Se não assumissem que dever moral de se demitir, deveriam ser demitidos, sumariamente. Qualquer análise sobre a quem cabe responder por esta demonstração explícita de conivência, irresponsabilidade e descaso com a falta de lastreamento técnico que permitiu a ocorrência no Brasil desta vergonha de escala planetária apontará para estas duas instâncias. Justo conceber que além de perderem seus cargos deveriam ser processados por suas condutas que permitiram toda esta barbaridade, com a concreta possibilidade de serem presos pelos seus crimes. E mais, governos e empresas deveriam assumir de maneira exemplar, TODOS os custos de restauração, nas próximas décadas, dos efeitos desta destruição em grande escala que ocorreu em Minhas Gerais. Os tempos andam difíceis para alguns do muitos criminosos deste país. Quem sabe esta ocorrência engloba com o rigor necessário, mais um bando deles. Ao invés de darem trela a uma nova legislação que "flexibiliza" o licenciamento da mineração.


    1. Gisele diz:

      Órgão federal também por que? O licenciamento é estadual, a LC 140/11 está vigente…essa postura de "atirar sem mirar" é tipica do ambientalismo tupiniquim